♛ 001.

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Nunca tive perspectivas na minha vida.

Quando você cresce estando ciente que é você por você mesma, não tem como pensar em outra coisa. Sempre fui atrás do meu - mesmo sendo pouco, era o que eu podia alcançar ainda tão nova.

Em contrapartida, as expectativas sempre foram as mais baixas que pude ter: dinheiro para passar o mês sem problemas. Não queria entrar na melhor faculdade, me mudar de país ou algo assim. Tudo que realmente chegava a me preocupar até então, era como eu iria me manter até o fim do ensino médio.

Eu não conheci a minha mãe, perdi meu pai quando tinha doze anos e morei com minha tia à partir de então. Só que, Amélia Duarte não era lá uma das pessoas mais divertidas ou trabalhadoras do mundo. Costumo dizer que, se ela não tivesse entrado na minha vida, eu teria bem menos com o que esquentar a minha cabeça.

Amélia vivia com a cara enfiada em uma garrafa de bebida alcoólica, deitada no sofá o dia todo e esperando que eu fosse à escola, depois ao Snack Point, pagasse as contas e ainda lhe desse comida. Então, talvez esse fosse o motivo de eu não ter tido perspectivas de vida.

Como poderia? Eu não vivia, apenas sobrevivia cada dia com tanto cansaço, que estava sendo dominada pela minha própria rotina.

Porém, em meus dezessete anos de vida, eu nem sequer esperava que as coisas pudessem piorar mais. Sinceramente, qual era o problema do universo comigo? Eu achava que já tinha a vida conturbada o suficiente para uma adolescente, que só queria poder viver como outros adolescentes normais.

Ah, quem eu queria enganar? Sou Eve Duarte, nada é normal quando se trata de mim. E, aquela noite foi a prova de que realmente sou a pessoa mais azarada do mundo todo. Talvez, o universo tivesse mesmo problemas comigo, afinal.

- Cuidado com a cabeça dela! - uma voz soou urgente.

Senti abaixarem meu corpo a medida que me sentei em algum lugar macio. À aquela altura, eu não conseguia raciocinar mais nada... eu havia acabado de ser sequestrada. Depois de me debater, xingar e gritar por ajuda - sem ter nenhuma resposta -, percebi que era um esforço inútil.

- Que merda é essa? - outra voz se fez presente, dessa vez, feminina e baixa. - Vocês à sequestraram!?

- Eu sabia - uma pessoa diferente das outras exclamou. Se eu não sentisse tanto medo, poderia ter achado aquele som angelical. - Sabia que enviar os dois patetas daria nisso!

Ouvi uma risada baixa ao meu lado.

- Bom, eu avisei. O que vocês esperavam de um vampiro com cabelo azul?

- O quê!? - outro desconhecido questionou, indignado. - A culpa foi do cachorro, não minha!

- Me chame de cachorro de novo e eu vou...

- Não vai fazer nada, sossega essa bunda no banco.

Achei que meu cérebro poderia estar faltando oxigênio ou o desespero estivesse me fazendo ouvir coisas. Vampiro? Cachorro? O que era àquilo, um filme? Porra! Era para eu estar à caminho de casa e em vez disso, me encontrava com os olhos vendados, a respiração descompassada e provavelmente prestes à ser assassinada por sequestradores.

E, de repente, atender Ágata Sinclair e seus seguidores não era mais o ponto alto da minha noite.

- Por Lilith, tira esse negócio da cabeça dela! - pediram. - Ah, se a rainha Roy nos visse nesse momento, estaríamos todos mortos.

- Relaxa, Carmy - responderam. Mãos seguraram mais uma vez os meus ombros e como um reflexo, tentei me afastar, sentindo as costas baterem em algo - ou alguém - atrás de mim. - Calma aí, garota.

𝐢. 𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐄𝐈𝐑𝐄𝐒𝐒. ! ༉ originalOnde histórias criam vida. Descubra agora