Capítulo 6 - O Toque

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Sett encantado com o paraíso diante de seus olhos solta a mão gelada de Aphelios e caminha pela pequena sala. Dedilhou cada poster de bandas de rock ou personagens de jogos com admiração, se jogou no colchão e sentou, as costas contra a parede e as pernas esparramadas.

- O seu segredo, Garoto Lua? Você tem muito que me dizer! - ralhou em falsa ira, o garoto apreensivo ainda perto da porta abaixou a cabeça com medo. - Não, não, Aphelios, calma, eu não estou bravo com você!

O ruivo levantou-se rapidamente e correu até Aphelios. Ele não tinha a intenção de de assustá-lo, ele não sabia que o pequeno Garoto Lua era como um gato assustado.

- Me desculpe. Venha cá. - Sett segurou os ombros de Aphelios e o guiou até o colchão no qual como se fosse um ventrículo, o fez se sentar entre suas longas pernas. - Te apresento o lugar mais confortável para contar seus segredos.

- No meio de suas pernas? - Aphelios questiona apontando para Sett levemente envergonhado. Nunca esteve tão próximo de alguém tão intimamente como agora, Aphelios não sabe como agir.

- O que? Não! - Sett gesticula nervoso com os braços - No meu colo! É como se eu fosse o Papai Noel e você veio sentar no meu colo para pedir um presente... Espera, isso soa ainda mais estranho, esquece tudo o que eu disse. Só confie em mim e não fique tão tenso.

Sett mais uma vez agarra os ombros tensos de Aphelios e os aperta gentilmente tentando fazê-lo relaxar, mas seu próprio coração dizia o contrário, estava tão nervoso quanto o de cabelos pretos. Seus sentimentos confusos passavam pela sua mente e ele não conseguia se acalmar. E, Aphelios, tentava o seu máximo relaxar entre as pernas do ruivo, o calor corporal do outro, a respiração perto do seu pescoço o fazia enlouquecer.

- C-certo, eu vou começar. - Aphelios respira fundo - Primeiro eu quero... Pedir desculpas por ser rude com você mais cedo, é a primeira vez que alguém tenta se aproximar tanto de mim e... - Ele pigarreia, sua garganta coçava por usar muito sua voz.

- Com calma, Garoto Lua, fala devagar e entre respirações. - gentilmente Sett acariciava as costas de Aphelios para encorajá-lo. Aos poucos seu jovem coração se adaptava com o som da voz do moreno, ela era tão linda de se ouvir.

- E-eu tenho problemas de confiança mas nem sempre fui assim, eu juro. - Aphelios ergue o olhar para encontrar o de Sett que brilhava na iluminação fosca dos pisca-piscas da pequena sala de ferramentas, quase esqueceu como falar - A minha irmã... Algo aconteceu com ela, foi tudo culpa minha, se eu não falasse demais ela estaria bem, mas graças a mim, ela... Ela está...

- Ei, ei! Não foi culpa sua, Garoto Lua. - seu instinto protetor o fez segurar o garoto que tremia em seus braços, sussurrando frases de conforto - Eu não sei o que aconteceu mas tenho certeza que não foi por sua culpa. Todas as palavras são intimidações quando usadas de maneira brusca, olha só pra você, todo fofinho, você não machucaria nem uma minhoca!

Sett deu um abraço de urso em Aphelios e começou a cutucar suas bochechas, ombros, laterais até fazer o garoto rir se debatendo. Os olhos do franzino garoto lacrimejavam de tanto gargalhar, seu corpo doía. Ele se jogou para trás porque a força de Sett o fazia recuar, até que o ruivo ficou sobre si, as mãos ainda segurando sua cintura que faziam cócegas.

- Eu não um garoto bonzinho, Sett. - Aphelios secava suas lágrimas de riso. Há quantos anos não gargalhava? Ou até mesmo sorria com sinceridade?

- O que? - Sett arregalou seus olhos e parou de fazer cócegas em Aphelios totalmente indefeso abaixo dele. - Diz de novo.

- Que eu não sou um bom garoto? - Aphelios apoiou-se sobre seus cotovelos para poder se levantar.

- Não... A outra coisa. - Sett estava vermelho feito tomate, é a primeira vez que o Garoto Lua o chamava pelo nome, e, claro, tudo soava tão mais lindo quando saía da boca de Aphelios. - Meu nome.

- Sett? - Aphelios arqueou a sobrancelha e notou o quão tímido e pequeno o ruivo parecia agora. Deu uma risadinha por saber que agora conhece a fraqueza dele. - O que foi, Sett? Está com vergonha, Sett?

Incrivelmente Aphelios não é fraco. Impulsionando seu corpo, ele empurrou Sett sobre o colchão e ficou por cima dele. Agora ele que manda. Como vingança, ele começou a cutucar as laterais das costelas do grandão o fazendo voltar a realidade depois de navegar pela sua mente teimosamente apaixonada e rir alto.

- Clemência, por favor! Eu imploro piedade, senhor Aphelios! - Sett claramente tem mais força mas decidiu relevar, segurou ambos os pulsos do moreno e finalmente pode respirar.

Seus rostos corados levemente suados, suas respirações irregulares e seus corpos colados. Aphelios sentado sobre sua barriga ainda mantinha um leve sorriso vingativo apesar das mãos atadas. Sua mão esquerda segurava os pulsos do moreno e inconscientemente a mão direita se ergueu até a altura da testa de Aphelios, afastando gentilmente a franja que caía sobre os olhos.

- Dessa vez eu te perdôo, Garoto Lua. Mas da próxima vez que você me chatear, eu vou chorar na frente de toda a escola e cantar de coração partido. - os dedos grossos de Sett acariciavam os cabelos negros macios.

- E eu vou te ignorar ainda mais se fizer isso. - suas bochechas doíam por sorrir demais. Aphelios inconscientemente recostou a cabeça na palma de Sett, por algum motivo aquele toque o trazia paz.

Sett vagarosamente se senta, seu olhar de encontro com o de Aphelios. Testas encostadas, narizes colados, corações quase explodindo.

Será que esse era realmente o momento certo? Os dois estavam confusos sobre seus sentimentos, era a primeira vez de ambos. Tudo tão novo, tão intenso, tão jovem... Mas era certo?

O sinal tocou.

Acabou o intervalo.

É isso, não é o momento certo. Aphelios pensou enquanto chateado se afastava.

Mas para Sett é o momento certo, sem medo de encarar a realidade, decidiu confrontar de frente todos os pensamentos que o diziam para não fazer mas o fez.

Apesar da ferocidade dos seus pensamentos, seus lábios foram gentis ao tocar os de Aphelios.

Para a surpresa de Aphelios, seu coração que parecia mais uma vez vazio fora reabastecido com o calor dos lábios de Sett, seus punhos apertavam firmemente a camisa escolar do ruivo esperando outro movimento.

Os pequenos olhos fechados, os punhos firmes e um pequeno bico nos lábios. Aphelios estava adorável.

- Fofo. - Sett solta entre os lábios de Aphelios. Com mais duas pequenas estaladas de lábios, ele abre levemente a boca para intensificar o beijo.

Sua mão que segurava os punhos de Aphelios percorreu o caminho até a cintura do garoto sobre seu colo enquanto sua outra mão continuava a acariciar os cabelos alheios.

Aphelios não sabia exatamente o que fazer, afinal era o seu primeiro beijo, mas lembra vagamente de um dos filmes românticos que sua irmã amava assistir que havia um beijo do casal principal e apesar de sempre reclamar das cenas românticas, secretamente aguardava pelo seu primeiro beijo.

Suas mãos subiram até os ombros de Sett e apertou a carne quando o mesmo pediu passagem com sua língua.

Alguns minutos se passaram e eles ainda estavam nos beijos, os hormônios a mil. Aphelios estava aprendendo e gostando ainda mais do encaixe dos lábios macios de Sett quando bateram na porta.

- Oi? Estudante Aphelios? Você está aí? - a voz do velho zelador ecoou - O sinal já tocou, eu preciso trancar a porta do depósito, esqueci minhas chaves hoje.

Aphelios sem medir forças empurrou Sett e se desvinculou dos braços fortes para correr até a porta. Seu cabelo estava uma bagunça, o uniforme amassado, os lábios inchados deixando um Sett atordoado e não muito melhor de estado para trás.

O jovem estudante que teve o seu primeiro beijo com um garoto tagarela não pôde evitar sorrir internamente.

Seus dias de juventude mal começaram.

Continua...

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