Capítulo 10 - O Boato

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A mãe de Aphelios chegara de seu compromisso algumas breves horas depois, passou pela cozinha e a mesa ainda estava sem resquícios de ter sido remexida.

Pronta para repreender os garotos no andar de cima, ao passar pela porta, antes mesmo de dizer qualquer palavra, sua visão alcançou a cama onde seu filho  adormecido agarrava fortemente o outro garoto também adormecido.

Uma cena tão terna, seu filho parece estar sendo bem protegido pelo novo amigo. Seu coração se aqueceu, deu um pequeno sorriso zombeteiro, pegou seu celular e tirou diversas fotos dos dois meninos dormindo.

Já se passava das oito da noite quando Sett acordou de seu sono com o celular tocando. Atendeu a chamada e era sua mãe, explicou para ela que estava na casa de um amigo e tentou convecê-la de deixá-lo passar a noite mas foi negado.

Com o coração apertado ele se despediu de Aphelios com um abraço de urso e um longo beijo deitados na cama. Foi quase impossível sair daquela bolha de amor fervente, suando com os cabelos desgrenhados e a boca vermelha úmida, ele foi embora correndo em pés velozes para acalmar os hormônios. Chegara em casa muito rápido.

As semanas se passaram normalmente como deveriam, as provas também se foram. Sett conseguiu notas boas a muito custo durante seus breves estudos com Aphelios. Ele se distraía fácil, queria o tempo todo chamegos e esquecia de focar sua atenção no principal propósito deles se encontrarem durante a semana na casa de Aphelios.

A mãe de Aphelios adorava Sett, o havia praticamente adotado sem pensar duas vezes, viviam batendo papo e a mesma sempre encontrava um jeito de contar as vergonhas que seu filho passava durante a infância e o mostrou diversas fotos de Aphelios e Alune quando pequenos.

O relacionamento dos garotos estava indo bem, Aphelios estava se soltando mais e falava o que pensava sem medo de ser julgado, mas ainda tinha problemas com ambientes abertos e multidões mas um dia ele concordou com Sett de passar o recreio no gramado para poder sair um pouco de sua zona de conforto.

Deitaram-se sob a sombra de uma bela e antiga árvore para ouvir música com os fones de Aphelios. Haviam poucos alunos transitando, muitos deles se deitavam na grama para aproveitar a brisa e a ternura suave dos raios de sol pela manhã.

O silêncio aproveitando a música era confortável, tranquilamente os dedos de Sett entrelaçavam com os de Aphelios, seu sorriso não saía do rosto e surpreendentemente, Phel também sorria enquanto apertava os dedos de Sett.

A música falava sobre como alguém gostaria muito de confessar seus sentimentos para a pessoa amada mas tinha receio, parecia boba a letra mas a mente de Sett explodiu.

- Ah!

Ele senta tão rápido quanto um raio alarmando Aphelios, sua cara surpresa deixava o garoto ainda mais confuso.

- O que houve? - Aphelios questiona se sentando, os fones caíram da orelha quando Sett se levantou de supetão.

- Eu esqueci de me confessar! - parecia que o mundo ia acabar com tanto alvoroço que Sett fazia. - Calma, calma, vou me preparar. Respira.

- V-você sabe que não precisa, né? - Aphelios estava totalmente envergonhado, seus olhos encaravam suas mãos que estavam apertando o tecido da calça.

- É extremamente necessário! - Sett parecia até mesmo ofendido, ele ficou sobre seus joelhos e segurou as mãos de Aphelios delicadamente. Pigarreou, olhou para o lado, para o  outro, para cima, para o rosto de Aphelios e finalmente alcançou seus pequenos e negros olhos de jabuticaba - Aphelios, eu gosto muito de você, já disse isso, né? Enfim, reforço aqui o meu amor por você e desculpa te fazer esperar tanto tempo. Quer namorar comigo?

- Sett, a gente 'tá saindo há um mês, tem como eu negar? - Aphelios sorria ainda um pouco envergonhado, conseguiu manter o contato visual por alguns segundos e desviou para os lábios de Sett.

- Poxa, Garoto Lua, nem pra você ser romântico com seu namorado, hein? - Sett ria e seus olhos também observavam os lábios de Aphelios.

- Idiota. Também gosto de você e aceito.

Sett avançou e beijou Aphelios, não intensificando pois ainda estavam do lado de fora e o bom senso residia em seus cérebros jovens. Aphelios retribuiu, porém se afastou quando ouviu vozes conversando e lembrou-se que estava fora do esconderijo pela primeira vez.

Eles continuaram a ouvir músicas nos fones mas nenhum dos dois prestavam muita atenção, cada um perdido em seus pensamentos. Seu primeiro namoro, a primeira paixão, estavam nervosos e não sabiam o que fazer apesar de estarem agindo como namorados há um mês.

-

- Vocês ouviram? Parece que Sett beijou o esquisito.

- Será que Sett está sendo ameaçado por ele?

- Que nojo. Como dois garotos conseguem fazer isso?

- Bem que eu imaginava que aquele esquisito é gay, todo estranho por aí.

Há alguns dias, boatos circulavam pelo colégio sobre um tal beijo entre Sett e Aphelios no dia em que eles se confessaram. Ambos garotos não tinham ciência disso pois durante as aulas nada era comentado e no recreio eles fugiam pro esconderijo.

Mas um dia, enquanto Aphelios entrava pelos corredores, ele fora cercado por algumas pessoas. Elas se amontoavam e jogavam várias perguntas sobre ele.

"Você é gay?", "Você forçou Sett?", "Qual sua relação com ele?".

Elas falavam tão alto que sua cabeça estava cheia de zumbidos irritantes, ele se afastava cada vez mais de costas para encontrar suporte até chegar na parede.

A multidão crescia cada vez mais, ele apertava sua mochila contra o peito para se proteger sem dizer uma palavra, e então o aglomerado se abre. Um garoto alto e ruivo passava até chegar em Aphelios ficando na sua frente.

- Sim! Respondendo a pergunta de vocês, eu gosto do Aphelios e ele não me forçou em nada! - Sua voz grave e alta ecoou pelos corredores, fofoqueiros de plantão e as pessoas que não paravam de falar finalmente se calaram. - Se vocês têm algum problema com a nossa relação, terão que resolver isso comigo. Agora saiam da frente.

Sett pegou a mochila dos braços de Aphelios e agarrou sua mão gelada. Fora abrindo espaço entre garotas raivosas e rapazes confusos e caminhou até o banheiro masculino que estava vazio.

Aphelios sentou-se sobre a pia e o ruivo se esgueirou entre suas pernas o abraçando pela cintura.

- Me desculpa por revelar para todos assim. Eu não queria causar alarde mas também não queria que ficassem falando coisas ruins sobre você, Garoto Lua. - sua voz estava abafada e parecia que o mesmo fazia biquinho.

- Não se preocupe, Sett. Eu só fiquei surpreso e me assustei, eram tantas pessoas que não consegui lidar. - seus dedos acariciavam os cabelos macios de Sett. - Pelo menos agora eu sei que me deixarão finalmente em paz... Queria ser corajoso como você mas sou medroso.

- Coragem é resistência ao medo, domínio, mas não a ausência dele, eu sei que você consegue, só de você não estar bravo comigo porque agora todo mundo sabe que somos um casal, demonstra que você evoluiu. - Sett ergue sua cabeça e seu sorriso finalmente está de volta. - Estou orgulhoso de você, Garoto Lua.

- Tudo graças a você. Obrigado.

Continua...

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