Onze anos atrás.
Vila Gurim Hanok, município Yeongam, província Jeolla do sul.
O aperto no meu braço era forte assim como o som das passadas de minha mãe que eu mal conseguia acompanhar com minhas pernas pequenas.
— Eu disse pra você ficar no banco com sua irmã! – ela diz entre dentes.
— Mas você esqueceu a sua borboleta...– eu falo baixinho, mas para mim mesmo do que para ela. Eu me sentia magoado que ela não se importasse com a borboleta, eu tinha feito só para ela, era um presente, eu não queria que ela esquecesse por aí e acabasse perdendo.
— Borboleta não é coisas de garoto.
— Mas eu fiz pra você mamãe e você é uma garota.
— Senhor todo poderoso... – ela suspira e então paramos de andar – eu sei SungHoon, a mamãe adorou o presente, eu já te disse isso – sorrio para ela – mas o que mais que eu te disse mais cedo?
— Hum...
— Eu disse pra você ficar com a Hyein no banco enquanto eu ia no banheiro.
— Mas você tava demorando muito mamãe! – me defendo, afinal de contas ela realmente estava demorando muito, até a Hyein concordaria comigo nisso – além do mais, você nem tava no banheiro.
Ela se baixa para ficar a minha altura e eu sorrio para ela. A minha mãe era a pessoa mais bonita que existia na face da terra, por mais que ela fosse assustadora as vezes, ela era igual as bonecas no quarto da minha irmã, sempre arrumada e perfeita, menos quando estava chorando.
— SungHoon, eu preciso que você escute bem o que a mamãe vai te dizer agora, tudo bem? – balanço minha cabeça para cima e para baixo bem rápido – se o papai ou a Hyein perguntarem você encontrou a mamãe no banheiro, entendeu?
— Mas você não tava no banheiro mamãe – digo confuso – você tava na tesoaria com o senhor Choi.
— Tesouraria – ela me corrige e então olha para baixo por alguns segundos antes de voltar a me encarar daquela forma estranha – não importa, se alguém perguntar você vai dizer que eu estava no banheiro, você me encontrou lá e a gente voltou para o culto, entendeu?
— Mas isso é mentira...o pastor Im disse que era errado mentir, é pecado mamãe!
— Escuta aqui, SungHoon – o aperto dela nos meus ombros começa a doer, mas antes que eu possa reclamar ela coloca o rosto bem perto do meu.
A minha mãe é a pessoa mais linda do mundo, mas ela pode ser a mais assustadora também.
— Você vai sentar no banco do lado da sua irmã e vai ficar quietinho o resto do culto, se o seu pai ou qualquer outra pessoa perguntar o que foi que aconteceu você vai dizer do jeito que eu disse que era para dizer e ponto, entendeu? – fico parado sem conseguir reagir e então ela me sacode um pouco – você entendeu?!
— Sim! – fecho meus olhos com força enquanto balanço a cabeça.
— Ótimo...– o aperto dela vai se aliviando até que suas mãos deixem os meus braços.
Ficamos daquele jeito em silêncio por alguns segundos e então ela me abraça. Eu ainda estava magoado por ela ter gritado comigo, não gosto quando ela faz isso. Eu só tinha vindo atrás dela porque queria entregar o meu desenho de borboleta, ela tinha dito que amou e que ia levar com ela para todo canto, mas tinha esquecido em cima do banco. Ela tinha prometido que ia levar para todo canto!
— Me desculpa meu amor, eu não queria te fazer chorar – só então eu noto que minhas bochechas estão molhadas – desculpa a mamãe? – ela se afasta para limpar as lágrimas no meu rosto – você me desculpa? – pergunta outra vez e então eu aceno que sim bem devagar – meu amor, você é sempre um menino tão bom – ela me abraça de novo, mas dessa vez não dói então eu abraço ela de volta – você sempre faz tudo que os seus pais pedem, todos os outros pais da igreja tem inveja de mim por ter um filho tão bom como você, sabia?
— Hum...– murmuro ainda me sentindo meio esquisito e então ela faz cócegas na minha barriga – ah!
— Olha só, SungHoon – ela diz quando eu paro de rir – sobre o que você disse mais cedo sobre mentir, o pastor Im está certo, mentir é errado...mas nem sempre.
— Como assim?
— As vezes mentir é bom, você precisa contar pequenas mentirinhas para não machucar as outras pessoas.
— Mas mentir é pecado.
— Eu sei, mas um pecado pequeno as vezes pode te salvar de um pecado maior – parecia uma explicação muito estranha, mas era a mamãe falando então deveria ser verdade – uma mentirinha só não vai fazer com que Deus te odeie, pelo contrário, as vezes a gente tem que contar mentiras para poder manter as coisas do jeito certo.
— Tá...– abaixo a cabeça, eu não sabia se tinha entendido muito bem.
— Você confia na mamãe?
— Sim.
— Confia mesmo?
— Sim!
— Então você sabe que o que eu estou te falando é certo.
— Sim, mamãe – digo baixinho.
— Pequenas mentirinhas, entendeu? – ela sorri.
— Sim, pequenas mentirinhas – eu sorrio de volta.
— Ótimo, agora vamos voltar, sua irmã já deve estar sentindo falta da gente.
— Hum! – seguro a mão dela e então caminhamos pelo corredor até os bancos, meu pai já tinha chegado e estava do lado da Hyein quando sentamos ali.
— Por que vocês dois demoraram tanto? – ele pergunta e então minha mãe olha para mim como se ela estivesse esperando alguma coisa.
— Mamãe tava usando o banheiro – respondo e me sinto feliz quando vejo ela sorrir em retorno.
Pequenas mentirinhas para manter as coisas do jeito certo, assim como a mamãe disse.
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say yes to heaven | sunsun
Fiksi PenggemarPark SungHoon é um jovem de vinte anos que nunca conheceu nada além da vida numa pacata vila do interior da Jeolla do sul. Sempre os mesmos lugares, as mesmas pessoas e as mesmas expectativas. Até que um dia diante a oportunidade de ir para a tão gr...