ABRIL

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Meu olho roxo não projeta sombra, seu olho vermelho não vê nada, seus tapas não acertam, seus chutes não batem, então continuamos os mesmos, paus de amor, gotas de suor, quebre a fechadura se não couber, um chute nos dentes é bom para alguns, um beijo com o punho é melhor que nenhum.

kiss with a fist - Florence + the machine.

— Ele é impossível, impossível! – rosno – simplesmente impossível!

— É mesmo? – Jay diz calmo, mas mesmo que eu não consiga ver seu rosto tenho certeza de que ele está rindo de mim.

— Você não escutou o que eu disse agora pouco? – reviro os olhos.

— Sobre ele ter se recusado a comer o seu kimbap? É, eu escutei sim – ele estica a mão para cima – me passa o alicate por favor.

— Okay... – remexo um pouco a caixa de ferramentas até achar o que ele pediu e então entrego o alicate em sua mão – e não foi só isso, se ele tivesse só recusado a comida eu não estaria tão irritado assim.

— Tem certeza? Você se irrita bem fácil quando o assunto é ele.

— Claro que não! – tento me defender mesmo sabendo que essa é uma causa perdida – a culpa não é minha se ele é tão... tão... ah! – grito.

Hoje mais cedo eu tinha realizado mais uma – de muitas – tentativas frustradas de me acertar com Kim Sunoo. Como eu sabia que hoje era o dia de folga dele tentei cozinhar alguma coisa e usar isso como bandeira branca, mas parece que nós dois falamos línguas muito diferentes porque ao invés disso ele reagiu como se aquilo fosse uma declaração de guerra e me chamou de todo tipo de coisa que se pode imaginar, além de me informar que eu sou um “manipulador asqueroso e patética que tenta comprar as pessoas de forma barata e desonesta porque é razo demais para ter relações sinceras” antes de bater a porta de seu quarto na minha cara mais uma vez.

Eu poderia ter reagido a isso de várias maneiras, mas assim como tenho feito pelas últimas duas semanas, eu fiquei calado. Bom, talvez eu tenha me imaginado atirando ele pela janela uma vez ou outra, mas isso é um mero detalhe. A questão é, eu tenho tentando muito não brigar mais com Sunoo, mas ele não facilita em nada esse trabalho.

Esse tem sido o meu mês de abril até agora, tentar ganhar o perdão dele, ser humilhado logo em seguida e engolir sapo porque eu prometi ao Jay que ia arranjar um jeito de resolver as coisas – Jay, isso tudo é culpa do Jay, se ele só aceitasse minhas desculpas tenho certeza que nem eu e nem Sunoo estaríamos tão estressados agora, mas eu não posso simplesmente parar de perseguir ele pelos cantos carregando minhas oferendas de paz e ao mesmo tempo não tenho ideia de como fazer ele parar de ficar cada vez mais estérico em resposta a isso.

Depois de todo o fiasco com o kimbap eu cheguei a conclusão de que se eu ficasse dentro do apartamento número cinco por mais algum tempo eu ia acabar explodindo, então vim acompanhar Jay em qualquer que fosse a tarefa da vez, que calhou em ser consertar o aquecedor do prédio. Se ele pode me dar uma missão tão impossível e enlouquecedora então nada mais justo do que eu encher os ouvidos dele com isso em retorno.

— Olha SungHoon – Jay suspira e então levanta a cabeça, finalmente olhando para mim – eu sei que você tá frustrado por ele continuar ignorando as coisas que você tem feito, mas talvez isso seja um sinal pra você mudar a abordagem.

— Mudar a abordagem? – balanço a cabeça para os lados frustrado – nada que eu faço da certo, ele não quer me perdoar e ponto.

— O Sunoo é meio cabeça dura, isso é verdade, mas ele não é mesquinho – tenho minhas dúvidas quanto a isso.

say yes to heaven | sunsunOnde histórias criam vida. Descubra agora