JULHO

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Você vai mudar seu nome ou mudar de ideia e vai deixar esse lugar fodido para trás, mas eu saberei, eu saberei, eu saberei, aparecendo de forma desagradável com demônios dentro de mim e se você tentar me deixar, eu vou te achar.

Christmas Kids - Roar.

                             

— Tem certeza que quer só isso pra beber? – Sakura pergunta parecendo entediada.

— Hum...– olho para o copo de refrigerante a minha frente que faz um grande contraste com as garrafas de cerveja espelhadas pela mesa – eu tô bem.

— Você que sabe – ela diz e então se senta com as pernas abertas na almofada ao lado da minha.

O apartamento de Sakura não é tão diferente do meu na superfície. São a mesma quantidade de cômodos, o mesmo tamanho, a mesma cozinha americana e a mesma varanda. Mas as coisas aqui parecem bem mais organizadas – o que eu confesso que é uma surpresa porque eu imaginei que ela fosse daquele tipo de pessoa que joga as meias pelo meio da casa e deixa uma pilha de pratos sujos por aí criando mofo.

Ao invés disso, o apartamento número três é cheio de plantas, os móveis são de cores neutras como branco, bege e marrom, as luzes são amarelas e o cheiro ao redor é de lavanda.

— Isso tá tão bom, a Kazuha tem as mãos de uma fada! – Heeseung choraminga de boca cheia.

— Quem fez isso fui eu seu idiota – Sakura resmunga com os olhos apertados na direção do mais alto.

— Eca – faço careta vendo um pedaço de cebola pular para fora da boca dele – termina de mastigar antes de falar seu seboso!

— Que isso tigrão – ele levanta os ombros ofendido, então sorri igual um malandro e se inclina sobre a mesa na minha direção – quer que eu te alimente feito passarinho? – ele abre a boca e estica a língua cheia de comida para fora.

— Sai pra lá! – me escondo atrás de Sakura enquanto cubro minha boca com as mãos, mas a visão que tive agora foi tão aterrorizante que não consigo controlar o enguio que quase escapa para fora de mim.

— Ei, se for vomitar não vomita em cima de mim não! – Sakura reclama se inclinando um pouco para o lado e eu empurro para dentro tudo que tinha subido antes.

— Desculpa...– o pedido sai junto com o último fôlego que me sobrou.

Sakura levanta uma das sobrancelhas meio desconfiada, mas depois de um tempo revira os olhos e volta a se sentar de forma relaxada. Enquanto isso, Heeseung cai para trás de tanto rir na nossa frente.

— Caramba! – ele diz quase chorando.

Desse ângulo da para ver que tem um buraco na sua calça bem no meio das pernas e que a cueca dele é cor de rosa com bolinhas amarelas.

— Aí, você devia ter visto sua cara Sakura...

— Heeseung, você já parou pra perceber que tudo que é engraçado pra você ninguém gosta? – pergunto me sentindo um pouco enjoado ainda.

— Mas isso é normal – ele limpa o canto dos olhos e volta a sentar – todo gênio a frente de seu tempo é incompreendido, não é? – então pega um dos espetinhos no prato e começa a comer tal qual um animal.

— Se você se referir a si mesmo como gênio mais uma vez eu vou começar a ficar preocupada de verdade...– Sakura suspira.

Heeseung não responde, ele apenas continua a trucidar a pobre robata que escolheu para ser sua vítima. Ele é assim, sujo, sem escrúpulos e impiedoso. Me lembra um pouco ao deus nórdico Loki as vezes. Não que eu saiba muito dessas coisas – a minha mãe ficaria instantaneamente com todos os cabelos da cabeça brancos se notasse qualquer mínimo interesse meu em paganismo –, só o que eu vi na escola, mas eu consigo visualizar esse cara comendo o bebê de alguém e se casando com uma cabra logo em seguida. Isso parece uma sexta-feira comum na vida de Lee Heeseung.

say yes to heaven | sunsunOnde histórias criam vida. Descubra agora