Farmacia da Alma

ASSIM É O AMOR, PRINCESA ...

Princesa, por quê você me faz sofrer tanto assim? Queria estar ao seu lado, sentindo o calor de seu corpo febril de amor. Queria poder tocar em seu semblante vívido como uma flor. Queria sentir o seu cheiro, provar o mel de seu batom, ouvir o seu clamor. Infelizmente nada posso querer, pois você me roubou a esperança de meu viver.

Sinto meu corpo desfalecendo a cada nova aurora em que acordo em meu leito e não encontro você. Quando realizarem a autópsia de meu corpo moribundo de paixão, constará na certidão de óbito o seguinte resultado: causa da morte - ataque cardíaco fulminante-; razão - amor não correspondido.

Morrerei pela sua ausência, pelo seu desprezo, pela luxúria que tanto cobiça, que a faz esquecer de mim.

Saiba, Princesa, que a morte nada significa. Portanto, a morte nunca destruirá nosso verdadeiro amor.

Saiba de antemão, Princesa, que não somos o que pensamos ser. Se não fosse o amor, o universo não existiria. Como assim? Impossível, não é mesmo Princesa?

Contudo, nada é impossível para o amor; pois o amor é a energia vital e absoluta que deu origem e está presente em toda a matéria do universo. O amor é o campo energético gravitacional que mantém os prótons fixos ao núcleo do átomo e que ordena a órbita dos elétrons. O amor une os átomos, forma as moléculas e tudo o que existe no cosmos.

O amor está presente em tudo. Se não fosse o amor, não existiria a matéria, não existiria a alma, não existiria a carne nem o coração.

Princesa, mesmo que você não se importe comigo, tenha repulsão pelo meu jeito de ser, saiba que parte de seu corpo poderá estar em mim neste instante, e vice-versa. O amor é assim mesmo, não tem dono, não tem fronteiras. Talvez uma molécula d’água que circulava em sua corrente sangüínea bombeada pelo seu coração, possa estar, neste exato momento, circulando em meu corpo. Como assim?

Suponhamos que essa molécula d’água, através do seu suor, saiu de seu corpo em forma de vapor indo juntar-se com outras moléculas, formando uma imensa nuvem cinzenta. Depois de precipitar e cair em forma de chuva, a molécula que fazia parte de seu corpo veio perfurar o solo fértil do pomar de minha chácara. Uma amoreira formosa, com suas raízes profundas, sugou a molécula d’água, somando-se à seiva e indo se abrigar na polpa de uma amora. Algum tempo depois, caminhando pelo pomar apanhei a doce amora, degustando-a apetitosamente. Na verdade, eu teria ingerido a pequena molécula que outrora fizera parte da composição de seu corpo. Não há razões para que você, Princesa, tenha medo desse amor verdadeiro sem fronteiras.

Saiba, Princesa, que no ar que respiro poderá haver uma molécula de oxigênio que também já fizera parte de seu corpo. Neste mundo, Princesa, ninguém é absoluto, único, puro. Somos todos fragmentos de amor, fragmentos do mundo. Eu queria compartilhar com você o máximo de amor para tocar em sua pele suave, em suas mãos macias, em seus fios de cabelos de seda; ouvir as batidas do seu coração e deleitar-me com o brilho dos seus olhos; massagear seu corpo e partilhar de um mesmo momento, de uma mesma emoção.

Se o primeiro homem a comparar uma mulher com uma flor foi um romântico e o segundo um imbecil, então, Princesa, eu sou um tremendo de um imbecil, pois você será sempre uma rosa lilás perfumada num desabrochar etéreo e infinito.

Se eu pudesse, Princesa, falaria de amor com você o resto de minha vida. Mas meu tempo é curto, apesar de ocupá-lo pensando em você. Em nome do amor, do amor que deu origem a todo o Universo, dê uma chance para mim, Princesa. Não deixe o vazio invadir minha alma, não me abandone dessa forma. O desprezo é a pior das maldades humanas. Amor é respeito, é um sorriso, é atenção, é carinho, é partilha, é unificação, é o sopro da vida.

Aniquile o seu orgulho, a sua ambição e dê uma chance para um coração que pulsa por você. Minha arma contra os escudos de sua fortaleza são as palavras mais sinceras e verdadeiras que nunca ninguém ousou a proferir, especialmente nesse momento em que escrevo a você.

Portanto, Princesa, com toda minha humildade, com todo o meu encanto por sua beleza, concluo que o amor é o âmago do Universo. O maior amor do mundo está fragmentado dentro de nós; precisamos somar esse amor num único corpo, numa única alma, numa única carne.

Assim é o amor, Princesa ... livre para amar.