Prólogo

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Dias atuais

Uma estrela cadente cruza o céu e faz as três meninas levantarem suas cabeças no mesmo momento. Aquele é um momento rápido e mágico, mas conseguem ver o brilho que a estrela deixa para trás.

Sorriem encantadas e nenhuma se atreve a desviar o olhar. Eu sei de uma coisa.Sei que a partir dessa noite, desse lugar, desse ano as meninas nunca esquecerão o que elas viram. A primeira vez que vêem uma estrela cadente.

Olho animada para as meninas e me preocupo. Será que elas fizeram o pedido? É essa a pergunta que ronda minha mente. Eu então sorri por me dar conta que estou pensando nisso. Penso na minha infância.

Ninguém gostava de mim. E eu fui me acostumando com isso. Morava em um lugar diferente dos lugares de hoje em dia. Eu morava no Lugar das Lendas. E o nome já dizia tudo, né? Era uma cidade pequena, um povo que se conhecia muito bem, as fofocas corriam solta, nem todos eram amigáveis.

No Lugar das Lendas todos ali, sem exceção mesmo, todos acreditavam nas lendas. Todos tinham medo das lendas. Todos tinham medo do casal "perigoso" que me adotaram.

Então como eu posso explicar-lhes melhor? Eu fui adotada. Isso mesmo. Adotada por um casal e eles não eram amigáveis. Os meus pais adotivos me trouxeram problemas. Um atras do outro.

Sabem o que eu mais gostava de fazer? Desenhar lugares sombrios. Coisas escuras como o cemitério mais antigo.

No Lugar das Lendas tinha duas escolas, Padre Aluisio Gomes e Padre Alfonso Albuquerque.

Tinha uns cemitérios também, um trilho para o trem, poucos carros,tinha ônibus.

Era uma cidade pequena e nem todos pegavam ônibus.

Os ônibus paravam de funcionar as 18:00 horas.

Ninguém queria sair de noite para não correr o risco de ser atraído pela Lua. Sair de noite era pedir para morrer na Floresta mal assombrada. Sair a meia noite então? Era um risco bem maior.

Nosso costume era de pegar o trem ou ir a pé. Carros era algo luxuoso que nem todos podiam ter. Nas ruas as vezes tinha um telefone público.

Porém, nem sempre. Ficava uma fila grande de pessoas ali. Adorava ficar escondida de trás de um carro ou de trás de uma árvore e observá-los.

Era um costume meu. Brincar não, mas observar as pessoas sim. Gostava de observar os adultos. Costumes do tipo que me fizeram parecer estranha e todos começaram a colocar apelidos em mim.

— Titia, você viu? Uma linda estrela cadente passou aqui — Flora me tira das minhas lembranças de infância e a olho enquanto ela faz um biquinho de choro — Titia, não fiz meu pedido. Meu sonho nunca vai se realizar.

— E quem disse que sonhos nunca se realizam? — uma voz doce me faz fechar a boca rapidamente sem saber mais o que falar. Jade Luisa aparece com uma bandeja cheia de docinhos e coloca a bandeja do lado delas.

— Jade, você veio — as três meninas se levantam na hora e abraçam ela — Fez docinhos para gente? — voltam a falar todas juntas em uníssono.

— Trouxe docinhos sim, mas só vão comer se tirarem essa negatividade — diz séria e vejo o canto da sua boca se levantar um pouco, pois ela quer rir — Quem falou em estrela cadente? Cadê?

— Já passou e todas fizeram o pedido. Acabei esquecendo — Flora abaixa a cabeça e vejo o biquinho de choro se formar de novo em sua boca — O que faço agora, titia?

— Você acredita que seu pedido pode se realizar? - ela pergunta e sorri — Então já é um primeiro passo. Nada de negatividade ok? Faça seu pedido agora, pequena. Feche os olhinhos e se deixe levar. Na contagem de... 1, 2, 3 e...

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