Entre minhas pernas.

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— Por favor, não vá.

Supliquei, segurando com força a lapela da jaqueta preta que Beatrix vestia, ela suspirou e acariciou meu rosto com seus polegares.

— E por que eu ficaria?
— Por mim. — Beatrix paralisou ao me ouvir. — Fique por mim.

Desperto assustada, meu coração bate acelerado no peito, estou ofegante e sinto meu corpo pesado. Já tinha três noites que eu acordava dessa forma, o mesmo sonho, a mesma sensação estranha. Não sei identificar se era uma lembrança ou apenas um sonho estranho.
Mas todas as vezes acontece a mesma coisa, estou chorando agarrada na jaqueta de Beatrix, implorando que ela não vá embora, e ela sempre diz a mesma coisa e então peço que ela fique por mim.

Recupero o fôlego e aos poucos as batidas do meu coração normalizam, suspiro e me sento na cama.

Tudo está silencioso, silencioso demais. As grossas cortinas me impedem de saber ao certo se ainda é noite ou se já amanheceu, mas ao olhar para o lado, vejo que já amanheceu. À muito tempo por sinal, já são 10:00am.

— Que ótimo jeito de se iniciar o dia.

Comento e solto uma risada irônica. Eu nunca gostei de pesadelos, sonhos estranhos. Sempre os odiei na verdade. E esse em especial está começando a me apavorar.

Não que Beatrix esteja planejando me abandonar, eu sinceramente espero que não esteja. Mas... As coisas andam tão estranhas.

Estou preocupada, e com medo. Bastante medo.
E eu simplesmente não sei explicar o motivo.

Levanto da cama, me espreguiço, bocejando umas duas vezes. Vou em direção ao banheiro. Somente um banho gelado é capaz de me despertar totalmente.

Após o banho, vou até o closet e pego uma calça escura larga, uma blusa de mangas compridas e um novo par de meias. Saio do closet e abro as cortinas do quarto, a luz adentra o quarto aos poucos e pressiono meus olhos – ainda sensíveis. — Tenho que conversar com Beatrix, ela precisa me mostrar melhor a cidade e essa nova terra, não aguento ficar sem fazer nada nessa casa sozinha.

Vou até a cozinha e pego uma xícara de café e sigo para a varanda, a vista é linda, moramos próximo de um lago que agora esta quase congelando.

Meus pais ligaram dois dias atrás e me explicaram melhor sobre eu ter abdicado dos meus privilégios da coroa de Solária. Por incrível que pareça eles não estavam chateados.
Disseram que no início ficaram, mas depois entenderam meus motivos e que me apoiavam e todas minhas decisões.
Me disseram o quanto eu sentia orgulho por ter escolhido a vida que escolhi. E após esses dias, vivendo nessa casa com Beatrix e Liv, consigo vê que independente do motivo, ( que eu não entendi exatamente) tomei a decisão certa em escolher essa vida.

Apesar de tudo, eu não me lembro de algum dia ter sido tão feliz.

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Voltei para o quarto, e passei o resto da manhã na cama, comendo pipoca e assistindo vídeos meus com Beatrix e Liv. No momento eu estou assistindo um de quase um ano atrás, do aniversário de três anos de Liv. O parabéns já passou, agora alguém estava filmando Beatrix e eu com a pequena. Liv está sentada em meu colo, Beatrix ajoelhada em frente a mim fazendo caretas e algumas cócegas na barriga da pequena Liv, que gargalha com vontade.

É impossível não ver o quão felizes nós éramos.

Beatrix parece tão extrovertida no vídeo, diferente da Beatrix retraída de agora.
Acho que gostaria de ver mais essa Beatrix mais solta, brincalhona. Carinhosa.
  Beatrix é bastante carinhosa, já deu para perceber isso.

Stupid Wife - Stellatrix Onde histórias criam vida. Descubra agora