E há uma aura deslumbrante, um tom misterioso em você, querido
Eu te conheço há 20 segundos ou 20 anos?MARINETTE
Eu já estava encarando aquele homem por uns bons quarenta minutos, e tinha quase certeza que, do outro lado daquele café, ele também me encarava em resposta.
Era estranho para mim, na verdade. Eu não tinha o costume de namorar, nunca havia namorado na vida, mas não conseguia evitar os olhares demorados na sua direção toda vez que mexia minha bebida ou fingia olhar para o horizonte.
Pelo menos era uma boa vista. Sim, uma vista espetacular, na verdade.
Ele era loiro e tinha olhos tão verdes que me faziam arrepiar a quatro mesas de distância. Abaixei o olhar quando ele levantou uma sobrancelha questionadora, sentindo minhas bochechas esquentarem ao ter sido pega.
Ouvi o barulho de passos no chão de madeira e, para o meu horror, o homem puxou uma cadeira para se sentar ao meu lado. Tentei fingir indiferença, franzindo o cenho em dúvida, mas o sorriso convencido em seus lábios me dizia que ele não seria facilmente enganado.
- É feio encarar, você sabia? - ele perguntou, sua voz arrepiando meus braços e se alojando no fundo do meu peito. Por um momento, fiquei sem ar. Sem resposta.
Será que seu timbre era comum? Porque eu certamente já o havia escutado antes. A suavidade da sua voz, a forma como ele pronunciava uma pergunta. Era tudo tão comum e estranho ao mesmo tempo.
- Me desculpa - comecei. - A gente se conhece de algum lugar?
Sua expressão vacilou por alguns segundos, mas rapidamente voltou para uma galanteadora.
- De um sonho - ele respondeu.
- Um sonho?
- Um sonho incrível, eu te garanto - o loiro comentou. - Você estava vestindo um vestido bonito e nós dois olhávamos para o pôr do sol de mãos dadas.
Ri pelo nariz e levantei uma sobrancelha, revirando os olhos ao ver que ele esperava uma resposta.
- Você dá em cima de toda mulher que vê pela frente? - questionei.
- Só daquelas que me assistem tomar café por uma hora - ele garantiu.
- Não era você que eu estava olhando, é... - pausei.
- Adrien.
- Adrien - o nome parecia deslizar pela minha língua e, por algum motivo, me remetia a vinho e chocolate. - Eu não estava olhando você, estava olhando essa monstruosidade que você chama de café.
- Meu café era uma monstruosidade?
- Claro que sim.
- Mas você não parecia ser capaz de desviar os olhos.
- Isso porque você encheu de chantilly e doces idiotas. Sabe, um bom café...
- Deve ser tomado puro e bem quente - ele completou, copiando as exatas palavras que eu estava prestes a dizer.
- Como sabe disso?
- Uma pessoa muito inteligente me ensinou uma vez.
- Bom, você não parece ter aprendido.
Ele riu então, uma risada gostosa e genuína que fez meu coração bater um pouco mais rápido. Ele podia estar me provocando, mas seus olhos estavam cheios de uma familiaridade tão aconchegante que me vi presa naquela conversa.
Era como se já o conhecesse. Como se meu cérebro nunca tivesse visto essa pessoa, mas meu corpo reconhecesse cada parte da sua presença.
- O que acha de me ensinar, então? Amanhã à noite, no restaurante Lavillant às sete horas? Prometo não deixar meu café doce muito perto do seu.
Fingi ponderar por alguns instantes, levantando a cabeça e forçando um biquinho para o lado. Olhei para os seus olhos, pronta para inventar alguma desculpa que poupasse seu orgulho, mas ele parecia hipnotizado. O verde de sua íris parecia mais escuro, talvez um pouco marejado, e algo dentro de mim se rompeu.
Eu odiava ver minhas amizades chateadas, principalmente por minha culpa. Por algum motivo, também não gostei de ver esse cara - Adrien - chateado.
- Só se você me deixar escolher a sobremesa - respondi. - Sei de um doce ou dois que colocaria seu paladar no chinelo.
Ele sorriu, então, um sorriso verdadeiro que ocupava metade de seu rosto, e capturou minha mão antes de dar um beijo nos meus dedos.
- Combinado. Mal posso esperar, Marinette.
Vi ele pagar pela própria bebida e ir embora, me olhando apenas por tempo o suficiente para piscar um olho e desaparecer pelas ruas de Paris.
Pensei em como me senti confortável para brincar na frente de um estranho. Em como aquela sensação de familiaridade não me abandonava.
Sua voz ecoou nos meus pensamentos, doce e profunda e definitivamente comum demais. Talvez ele já tivesse aparecido na televisão, ou então gravasse vídeos para a internet.
"Mal posso esperar, Marinette".
Parei.
Sua voz ecoou nos meus pensamentos. "Mal posso esperar, Marinette".
Mas eu nunca disse a ele o meu nome.
E você vai guardar todas as suas piadas mais sujas pra mim
E em todas as mesas, eu guardarei um lugar pra você, amado

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Wildest Dreams - mlb
Fanfictiononde chat noir e ladybug descobrem suas identidades secretas. ou onde marinette tem pouco tempo para convencê-lo de que salvar paris é mais importante do que salvar sua lady.