Wildest Dreams - mlb

Collide

Eu sou um oceano tempestuoso, mas você é estável
E eu sou sensível, mas você me ganha
Muitas emoções, mas você me deixa
Me deixa florescer na escuridão

MARINETTE

- Vinho ou chocolate quente? - Adrien perguntou por trás da geladeira, seus cabelos loiros despontando por cima da porta de aço. Seus movimentos estavam lentos, contidos, e ele se apoiava na borda da pia enquanto me encarava com um sorriso no rosto.

Fingi ponderar por alguns segundos, forçando um biquinho do lado esquerdo da boca e inclinando a cabeça para o lado. A garrafa em sua mão esquerda parecia me chamar, só que uma pequena voz no meu cérebro disse que aquela não era uma boa ideia. Sim, uma noite banhada em álcool soava extremamente atraente, mas eu honestamente não estava com cabeça para ficar bêbada e lidar com as consequências da ressaca no dia seguinte.

Talvez em algum outro dia o vinho fosse a melhor opção possível, mas não hoje. Não, hoje eu estava exausta. Drenada. E sabia que Adrien compartilhava do mesmo sentimento.

O dia tinha sido particularmente cansativo, principalmente com o empenho de Shadow Moth em akumatizar três pessoas diferentes em um intervalo de menos duas horas. Era desastre demais para tempo de menos, mas infelizmente era como tinha sido pelos últimos meses.

O terror das batalhas instaurava o medo, a tristeza e a desconfiança, e, com isso, cada vez mais sentimentos ruins começavam a nascer entre o povo. Era inimaginável e completamente horrível, mas se tornava cada vez mais comum: as pessoas perdendo as esperanças. A cada ataque, mais cidadãos de Paris deixavam o desespero tomar conta, o que só fazia com que Shadow Moth tivesse cada vez mais poder e mais vítimas em potencial.

Tinha sido assim desde que aquele desgraçado passara a pegar mais pesado em seus ataques: cada vez mais pessoas eram akumatizadas. Cada vez mais desgraça acontecia. Cada vez mais gente se machucava em uma proporção maior do que eu era capaz de consertar.

Eu não sabia por quanto tempo mais eu aguentaria toda essa guerra, ver meus amigos feridos e colocando as próprias vidas em perigo para auxiliar em um trabalho que deveria ser apenas meu e de Chat Noir. Em um trabalho que eu deveria ser capaz de dar conta, mas que já havia percebido que não conseguia.

O miraculous da criação era meu, no final das contas. Eu deveria ser capaz de arrumar tudo sozinha, não chamar meus amigos - minha família - para terem um peso a mais nas costas. Nem mesmo Chat Noir, com o miraculous do gato preto, deveria precisar carregar essa obrigação.

Então, justamente por conta dos eventos de hoje, tudo que eu queria era aproveitar o conforto do abraço de Adrien e adormecer na sala enquanto assistíamos a um filme qualquer. Eu precisava daquele momento de normalidade, precisava me afastar dos horrores que tinha presenciado

E o que poderia ser mais normal do que passar uma noite relaxada e com o meu namorado super atencioso? Era até engraçado, na verdade, como nós dois tínhamos aderido o costume de nos deitar abraçados em um espaço minúsculo do sofá e ignorar o resto do espaço vazio ao nosso redor, então tudo que eu queria na noite de hoje era que ele viesse logo para se sentar comigo e para que pudéssemos beber algo que esquentasse até a nossa alma.

- Chocolate quente - respondi com um sorriso, me espreguiçando e esticando meus pés por cima de uma almofada. Adrien riu em resposta e soltei um suspiro ao afundar meus tornozelos cansados na almofada macia, fechando os olhos e focando minha atenção nos sons de movimento que vinham da cozinha.

Primeiro um liquidificador batendo, depois o barulho do fogão ligando para, então, Adrien começar a bater a bebida na colher e o ambiente ser tomado por um aroma adocicado. Um aroma quente, doce, e que fez com que todos os pontos ansiosos do meu corpo se derretessem em uma poça de conforto e aconchego.