O Aeroporto

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  Bipbip! Bipbip! Bipbip!

  Bipbip-

  Bom dia. Era uma manhã invernal quando Cesar abre seus olhos para o início de uma nova rotina. Desligando rapidamente o despertador que lhe perturbava, se sentava na cama pensativo. Seus cabelos negros, agora bagunçados, porém longos e lisos com mechas separadas na frente, estavam a ser penteados pelos seus próprios dedos. Olhando para eles, se via uma pele pálida. Pálida até demais. Cesar não se lembrava de ser tão pálido, mas talvez o inverno esteja o afetando de certa maneira.

  O ar fresco que entrava pelas frestas da janela, sendo inspirado profundamente pelo homem adiante, parecia aliviador. Limpou de si suas preocupações, deixou sua mente vaga e se lembrou do objetivo do dia: o aeroporto. De repente, se realizando do que estava se preparando para fazer durante anos, se levantou da cama e acelerou os passos para o espelho.

  De frente com seu guarda-roupa, vendo sua imagem refletir no espelho do mesmo, tocava seu rosto como se ainda estivesse incrédulo do que estava para acontecer. Via suas roupas, amassadas devido ao mal cuidado, mal esperava para poder tirar aquele pijama usado e colocar algo mais decente para, finalmente, fazer o que lhe tinha em mente.

  Abriu o armário e começou a procurar por alguma peça que pudesse lhe confortar nesse frio; achou uma blusa de gola alta preta, um sobretudo simples e suas luvas favoritas. Ao se olhar novamente, agora vestido, sentia sua animação fluir pelo seu corpo, lhe gerando um sorriso manso. Respirava fundo, sua ansiedade tentando tomar conta de si, mas sabia que poderia acabar com ela se simplesmente saísse de casa e fosse para o ponto de encontro. E foi isso que fez: pegou suas coisas e foi a caminho do aeroporto, que ficava próximo.

  Caminhava em passos largos, estava se cansando mais rápido que o normal, mas isso não importava. As nuvens de ar quente que se formavam ao redor de seu rosto devido a sua respiração ofegante parecia atrapalhar sua caminhada, mas isso não importava. Não podia esperar pra ver pelo seu melhor amigo, Joui, voltando da Itália depois de cinco anos.

  Sim, cinco anos.

  Joui foi a quarta pessoa que lhe olhou com um pouco mais de atenção do que as outras pessoas normalmente olham. Uma atenção, digamos que, necessária. Cesar teve seus amigos que lhe olhavam com tal atenção: Bruno, Thiago, Arthur, mas sempre quis mais vindo de Joui. Por isso que ele se tornou seu melhor amigo.

  Claro que ele tinha consideração pelos outros! Eles o ajudaram tanto que poderia dever uma vida inteira por cada detalhe minucioso que eles tenham pensado sobre, mas Joui sempre foi mais que isso. Era atraente, falava bem, ajudava como podia e lutava por quem amava. O tipo de pessoa que seria egoísta o suficiente para se sacrificar pelos outros, o oposto de Cesar, que se importava mais consigo. 

  A cada passo mais próximo se lembrava com mais clareza do garoto; seu sorriso, seus olhares, sua temperatura… Sentiu seu peito apertar, mas ignorou. Foi poucas as vezes que o viu chorar, mas jurou para si nunca mais o ver naquele estado. Uma das maldades da vida é a sua capacidade de quebrar sorrisos. Mas, pelo contrário, Joui sempre viu Cesar em seus piores estados. Afinal, era ele quem sempre o ajudava.

  Mas tem um segredo que Joui não sabe.

  A paixonite que Cesar tem por ele.

  Um dia, Joui lhe disse que era Bissexual, e possivelmente assexual. Ficou aliviado como nunca, tirou de si o peso da culpa de gostar de alguém do mesmo gênero. Mas o mesmo voltou atrás quando, algum tempo depois, ficou terrivelmente paranóico sobre, talvez, Joui ter o trocado por algum italiano mais interessante do que um homem todo acabado… !

  Certo, tudo bem, né? Cinco anos na Itália, talvez ele tenha realmente achado alguém, mas é o melhor pra ele. Né? Né?

  Pausa. As pernas de Cesar pararam quando se sentiu na vontade de assim fazer, quando já estava de frente ao aeroporto. Respirou fundo, limpou sua mente com o ar fresco e frio que lhe acalmava. Não gostava de frio, mas confessava que ele muitas vezes lhe tirou de pensamentos invasivos que vinham uma hora noutra. Olhava em volta, em busca de algo para se distrair temporariamente: as árvores de eucalipto, que possuíam uma madeira mais clara por natureza, tinha novas folhas crescendo com delicadeza. Via os ipês de inverno florescendo, como sentimentos e emoções que floresciam como belas violetas na mente de Cesar. Foi aí que se lembrou de que não havia trazido nenhuma lembrança de boas vindas para Joui. Poderia estar mais desesperado se não tivesse avistado uma única e solitária tulipa amarela, que parecia clamar para ser capturada. Tão sozinha, que todas as outras já tinham sido pegas. Cesar não demorou para pegar e levar consigo para dentro do aeroporto.

43 Mil Horas - AU Joesar (#JoesarWeek)Onde histórias criam vida. Descubra agora