A Garçonete

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  Não podia dizer que passou aquele dia tranquilo. Bem, Joui voltou, isso é concreto, mas algo parece ser líquido na sua cabeça. Talvez seria a sua mudança drástica após a viagem, talvez seria aquele moço chamado Matheo … Não sabia dizer ao certo. Muitas dúvidas, poucas respostas, mas a única coisa que poderia lhe dar uma noite de sono tranquila seria a certeza de que Joui não está gostando de outro alguém. Cesar já lidou com muitas coisas, mas a rejeição de seu melhor amigo não seria fácil como um corte ou machucado de se tratar. Lhe tirando da sua linha de raciocínio, sentiu um observar na escuridão das sombras de seu quarto. O deixava desconfortável, talvez alarmante de que algo vai acontecer em breve. Ao iluminar, avistou seus vasos e suas violetas que neles estavam. Tinha uma fita neles, escrito "Claúdia". Ah, se lembrou: sua mãe havia lhe dado esses antes de partir. Sua única lembrança além de fotografias antigas, pelo menos as violetas eram bem cuidadas pelo Cohen. Mas, a respeito do sentimento, talvez estivesse apenas imaginando sentir coisas. É normal quando se é paranóico. Pegou seu celular, assinalava às quatro horas da manhã, horário atual. Sabia que precisava dormir, mas o sentimento daquelas violetas que sussurravam um futuro próximo lhe dava calafrios.

  Bom dia. Dessa vez não tinha despertador para o acordar, afinal, já estava acordado. Se tinha algum plano para hoje? Havia pensado sobre isso durante a madrugada e, chegou à conclusão de que deveria conversar mais com Joui. Afinal, cinco anos não podem ser superados com um bate-papo de poucas horas. Se levantou, ajeitou-se como sempre fizera e sem muita complicação, buscou por seu telefone. De relance, estava ao lado das violetas de sua mãe.
  Olhou de um lado, olhou de outro, olhou para a fita que marca a escrita de seu nome, Claúdia, e acariciou as pétalas da flor. Olhava com graciosidade, como se conseguisse desenhar o rosto de sua mãe perfeitamente por cima. Delicada, gentil, como as violetas que entraram em sua vida. Claúdia foi a sua única figura materna e com certeza, a mulher mais gentil que conheceu. Poderia até dizer que foi a pessoa mais gentil que conheceu, mas alguém já compartilha desse título. Suspirou, sentiu novamente o desconforto da noite passada. Não entendia o por quê disso: não acreditava em espiritualismo, mas com certeza não é normal se sentir mal perante flores, logo as que consideravam ser sua fuga, seu abrigo. Pegou seu telefone e se virou de costas.
  Alguns minutos por ali, não demorou muito até que Joui respondesse a mensagem de "Bom dia" de Cesar. Logo, marcaram seu próximo encontro: na mesma cafeteria de sempre.

  Saindo de casa, foi recebido com as boas vindas da brisa gélida que rebatia seu rosto, sinalizando a baixa temperatura. Afinal, estavam na metade do inverno, tal época do ano que Cesar considera amaldiçoada; céu nublado, resíduos de neve pelas ruas, coisas assim são sinais da estação. Mas, vejamos pelo lado bom: diversas das flores de seu jardim apenas começam a nascer durante tal época, para que fiquem prontas para florescer na primavera próxima. Enfim, caminhava até lá com certas incertezas. Não sabia o que conversar, o que dizer, ou se ele iria mencionar aquele moço novamente. Estava cansado, não havia dormido nem um minuto sequer entre ontem e o dia de hoje, e a cada passo seu corpo ameaçava se despejar e adormecer. Realmente, uma boa xícara de cafeína ajudaria. Algumas respostas também. 
  Por sorte, chegou lá ainda de pé, quase caindo ao lado devido ao tamanho peso nas pálpebras que sentia. A qualquer momento…

  — Cesar, bom dia! - Chegava Joui, caminhando como se estivesse se exercitando logo de manhã. Seu estado físico estava ótimo, sentia energia no seu olhar e conforto em seu sorriso. Ele não podia se sentir mais invejado, de fato. - Tudo bem?

  — Ah. Bom dia, Joui. - Dizia calmamente, como se estivesse se esforçando para não cair no sono. O olhar levemente arregalado do asiático sinalizava que havia entendido o pretexto da situação, assim soltando uma doce risada, enquanto a fumaça de ar quente se formava ao redor devido ao frio.

43 Mil Horas - AU Joesar (#JoesarWeek)Onde histórias criam vida. Descubra agora