O Acidente

813 83 197
                                    

  Sua mente estava um tumulto. "Ok, calma" pensou consigo mesmo quando ainda estava na cama daquela madrugada, tão fria e quieta que nem a lua ameaçou aparecer. O céu nublado, os véus das cortinas quietos, que parecia inquietante aos olhos de Cesar. Aquela quietude estava deixando seu cérebro inquieto e confuso. Não sabia o que sentir, o que dizer, ou o que fazer. "Bem… Se Joui gosta de outra pessoa, o que me resta é desistir. Né?"
 
  …

  Cesar não era idiota, e aquele silêncio provava disso. Ele sabia que havia se nutrido de um sentimento vazio durante mais de cinco anos, e não seria agora que ele iria se livrar disso. Joui era especialmente importante para si, o via como um porto seguro e alguém para confiar. Confia nele durante toda a juventude de sua vida, permitindo até a vida adulta. Tinha vinte e cinco anos, já estava na hora de amadurecer. "Não acha, Cesar?" Pensou.
  Sentiu sua garganta apertar, um frio doloroso pairou sobre o seu coração, sua mão se guiando até o seu peito numa tentativa de o esquentar. Pensar que, talvez, seu porto seguro teria se cansado de si; da sua aparência velha e acabada, da sua voz rouca e grossa, do seu humor duvidoso, sua falta de autocuidado, das suas palavras, da sua presença… Cara, isso doeu. Sentia seu peito apertar mais e mais, sentindo a agonia passar pelas suas veias. Era provável, era notável.

  Seria essa, talvez, a certeza do destino próximo? O destino deplorável de Cesar, com seu amor não-correspondido? Apodrecendo, sozinho, nesse mundo tão sem graça? Sem seu porto seguro? Sem o seu girassol?

  Podia até continuar pensando e pensando, em um ciclo infinito dentro da sua própria cabeça, sentindo seu peito apertar mais e mais até que, talvez, exploda. Mas foi acompanhado de uma tosse seca que, infelizmente, sentiu algo estranho se espirrar ao redor de sua boca. Passou a ponta de seus dedos, e apenas conseguiu enxergar o vermelho, pulsando em meio ao seu sangue.

  "Bom dia", pensou consigo mesmo. Já estava acordado a bastante tempo, bastante mesmo, poderia até dizer que não conseguiu dormir depois que buscou Joui do aeroporto. Não que fosse culpa do garoto, claro que não, Cesar sempre foi bastante problemático quando se tratava de passar noites em claro se alimentando de suas paranoias. Mas, depois daquele certo incidente, buscou pesquisar mais a respeito do caso. Vendo que se tratava de um problema pulmonar, talvez conseguirá colocar a culpa de seus sintomas inusitados no seu vício no tabaco.
  Mas, enfim, não havia tempo para perder: era um novo dia. Um novo dia, uma nova tentativa de tentar entender mais um pouco sobre aquele garoto que tanto o intrigava, Joui Jouki. Gostava de ouvir sobre suas histórias engraçadinhas e atrapalhadas das inúmeras vezes que confundiu certos termos em italiano durante seu dia a dia, gostava de vê-lo sorrir em orgulho ao testemunhar alguma conquista pessoal, ou quando explicava detalhadamente sobre certos assuntos que se tinha um interesse especial… "Perdido nele denovo, Cesar?" Se levantou, repetindo, não havia tempo para perder. Pro mesmo destino, no mesmo horário, o Cohen se arrumou e prosseguiu até a mesma cafeteria de sempre.

  Saindo de casa, encontrou um gato, manhoso e carente, andando pelas beiradas da calçada, beirando adentrar no espaço da rua levemente movimentada. Poucos carros passavam por ali, em intervalos longos que variam entre minutos, até horas. O dia estava mais frio do que antes, devido a tal fato as pessoas não arriscam sair de suas moradias para trabalhar, afinal, ninguém gostaria de se gripar. Mas talvez aquele gato seja diferente. Bastante peludo, coberto de pelagem escura, puramente preta, como a mais escura noite de luar, com um de seus olhos sendo amarelo e o outro, branco, sinalizando ali que tal felino seria cego de um olho. Sorriu confortável assim que sentiu o carinho de Cesar no topo de sua cabeça, acompanhado de um acariciar em suas bochechas. Logo após se despedir mentalmente do gato e prometer que iria buscar ele, se voltou a caminhar até o ponto inicial: a cafeteria. 

  Em passos curtos e leves, se dirigia até o estabelecimento. Ao contrário do dia anterior no qual teria feito uma maratona até o ponto de encontro, decidiu se permitir descansar e apreciar as belas árvores de inverno. As flores que cresciam e brotavam na espera da primavera, algumas nascendo com antecedência, suas cores contrastando com a monocromia do ambiente claro e azulado, o céu tampado sem algum sinal da estrela solar, mas ainda sim iluminado, pessoas desconhecidas por Cesar que saíam de suas moradias pra prosseguirem para "sei lá aonde eles estiverem indo", e o gato manhoso que o estava perseguindo, que só foi notado quando havia ultrapassado o mesmo. E assim chegou até o local, respirando profundamente e focado no que estava para acontecer. Realmente temia o suposto destino próximo, mas deixou isso de lado. Era um dia tranquilo e confortável, o que de tão ruim poderia acontecer? 

43 Mil Horas - AU Joesar (#JoesarWeek)Onde histórias criam vida. Descubra agora