A Hora

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  Tudo estava escuro e nebuloso.
  Não conseguia sentir seu corpo, quase como se estivesse solto pelo espaço sideral, ou talvez… Como se estivesse morto?

  Bem, sentia em si uma certa… parte morta. Mas não era seu corpo.

  Era sua alma.

  Até que de repente, sentiu seu nariz despertar; um forte cheiro de ar fresco, sopa e… flores.
  Suas pálpebras começaram a acordar. Se abriram em cansaço, revelando olhos profundos que encaravam um teto branco, simplesmente branco. Parecia ser de madeira? Plástico? Podia até que pensar nisso para ver se o tempo passava e pudesse esquecer de como foi parar ali, mas sentiu algo pesado em suas pernas. Pensou no pior: será? E, em um ato de susto, ergueu sua cabeça para ver o que era; era Joui. Ele estava descansando sua cabeça em suas pernas, no que parecia ser um sono profundo. "Ele é tão bonito dormindo…" Pensou. Mas, quando finalmente se realizou, que Joui estava sentado ao lado de uma cama hospitalar que, por acaso, era a sua, se desesperou. Cesar olhava seus arredores e percebia o seu deplorável e miserável cenário em que se encontrava: internado em um hospital. Tinha um fino tubo de soro que entrava em suas veias, vários aparelhos que não sabia se quer identificar pra que servia, mas ver seus batimentos cardíacos sendo contados milimetricamente por aquela tela lhe fez pensar que podia ter morrido. Na verdade, Cesar podia ter jurado que tinha morrido, mas ver seu corpo inteiro em perfeito estado lhe fez quase que chorar de alívio, mas em um sentimento de confusão devido a situação em que se encontrava. Não se lembrava de muita coisa, sua consciência ainda parecia presa apenas ao momento presente e se recusava a tentar se lembrar de momentos antes. E antes que pudesse ao menos tentar, não havia percebido que seus movimentos bruscos acordou Joui, que resmungava:

  — Hum… Doutor… ? Só… Só um minuto…

  — … Tá tudo bem. - respondeu Cesar, sorrindo meigo perante ao seu melhor amigo, tal que esperava estar contigo em momentos tão delicados quanto esse.

  — Huum? - Acordou, assim, Joui, ao escutar a voz grossa e rouca do Cohen. Seus olhos se abriam lentamente, quase que se adaptando novamente mas, até que se abrissem pela metade e conseguissem assistir a imagem de Cesar, quase que como um pulo, Joui se levanta. - Ah… Cesar? - Dizia, assustado.

  — Eu mesmo. - Soltou uma risada sem graça, mas sentiu uma pontada em sua garganta que não permitiu que a terminasse. - Bom dia, Joui.

  Viu os olhos do asiático se encher de lágrimas, sua boca tremer e suas pernas bambearem. Estava sensível e, conseguiu ver naqueles olhos castanhos e meigos que teve um momento em que Joui teve medo que Cesar morresse. Tanto medo que tinha uma lixeira repleta de guardanapos que, talvez, tivesse sido usados para limpar as lágrimas de quem tivesse medo de perder a quem tinha. E antes que a luz do amanhecer do sol pudesse entrar naquele quarto, Joui abraçou Cesar com tanta delicadeza pelo medo de estragar algum equipamento ou piorar sua saúde, que o cabeludo se sentia como se fosse uma criança, novamente. O abraço acolhedor do Jouki, quase que lhe relembrava seu pai, que… Enfim, já faz tempo. E Cesar percebeu que podia encontrar sua família em Joui, sem precisar resgatar fotos rasgadas ou violetas murchas. Escutou sua voz falhar, sem ao mesmo dizer uma única palavra. Em um ato de conforto, Cesar segurou o topo da cabeça do outro, como se lembrava receber dele, quando também estava com medo. Pessoas sentem medo, e medo é humano. Da mesma forma que aquele abraço de Joui parecia tão apavorado como o de uma criança, e o cafuné de Cesar parecia tão acolhedor como o de uma mãe. Podem não ter como procurar uma família, mas tem com quem chamar de família. E paixão faz parte da família, também. 

  — … Desculpa. - Sussurrou o Cohen no pé do ouvido do amigo, em tom preocupado. - Desculpa.

  — Não! - Joui se soltou, ainda com os olhos úmidos, encarando Cesar com certa repreensão, mas que era coberta de compreensão. - Você não tem o que se desculpar, eu quem deveria cuidar de você!

43 Mil Horas - AU Joesar (#JoesarWeek)Onde histórias criam vida. Descubra agora