|CAPÍTULO 01|

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Bilhete nº 05

Você realmente deveria ouvir Iris de Goo Goo Dolls. 

É uma obra prima. Depois que ouvir, me conte o que achou, tudo bem? 

Ou juro que posso começar a te odiar de verdade.

Ferret.

PASSADO | LUCAS GRAHAM

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PASSADO | LUCAS GRAHAM

             UMA VEZ ME disseram que o luto é o único evento na vida que não desaparece com o tempo; ele apenas se dispersa o suficiente para que você consiga enxergar o entorno e seguir em frente. O luto troca o chão firme sob seus pés por uma corda bamba, forçando-o a caminhar todos os dias sobre um precipício sem fim. Ele também faz você esquecer como é estar vivo, faz você acreditar que não merece estar vivo. E ele te mata, um pouco a cada segundo, sem realmente te matar. Mas quando seu peito finalmente para de se mover, isso chega como um presente, porque respirar sem aquela pessoa é como estar no inferno.

O dia em que recebemos a notícia da morte do vovô e da vovó foi um dos piores momentos de nossas vidas. Naquela manhã, dois anos atrás, minha mãe foi me buscar mais cedo na escola. Seus olhos estavam vermelhos, o rosto mais pálido do que o normal, e seus dedos tremiam em volta do meu pulso enquanto caminhávamos até o carro em completo silêncio. Eu sabia que algo estava errado desde o primeiro momento em que a vi. No entanto, imaginei que a tristeza que a envolvia fosse resultado de mais uma daquelas raras ligações de cinco minutos com os Callegari.

Eu estava errado, é claro.

O carro do papai estava na garagem quando chegamos em casa. Ele não deveria estar lá, não em horário de expediente. Então, antes de alcançarmos a porta, mamãe me contou o que tinha acontecido. A vovó e o vovô Graham estavam a caminho de Veneza para passar alguns dias quando o avião deles caiu no mar. Mais de cem passageiros. Nenhum sobrevivente. Ao encontrarmos o papai na sala de estar, o mundo parecia ter desabado sobre seus ombros. Nunca serei capaz de esquecer sua figura derrotada, sentada no sofá com o rosto enterrado entre as mãos. O noticiário havia divulgado a informação enquanto ele atendia um cliente em um café perto do escritório. Ele disse que não se lembrava de ter saído do café, de ter entrado no carro, nem das dezenas de ligações que fez para o celular do vovô. Ele não lembrava como chegou em casa ou como abriu a porta e se jogou nos braços da mamãe. A ligação foi o que tornou tudo real. O aviso de que as pessoas que o criaram, infelizmente, não haviam sobrevivido.

A tragédia arrancou um pedaço de todos nós, mas ela destruiu meu pai. A viagem para a Itália havia sido um presente dele e, além de lidar com o luto, ele também teve que enfrentar a culpa. Agora, consigo entender perfeitamente como ele se sentiu. E as palavras amargas que ele pronunciou durante o velório do vovô e da vovó nunca fizeram tanto sentido.

When We FallOnde histórias criam vida. Descubra agora