Guerra em tempo de paz (MadaTobi)

Capítulo 3

Os dedos de Tobirama deslizavam entre a seda e o algodão, brincando com as bainhas de cada camisa de seu armário. Ele nunca teve tanta roupa de uma só vez antes e tinha sentimentos muito confusos sobre isso. Por um lado, era apropriado que ele recebesse presentes para celebrar seu casamento. Tradições semelhantes provavelmente existiam em quase todos os clãs, sejam shinobi ou civis, em cada uma das cinco grandes nações. Por outro lado...

Uma carranca marcou suas feições quando ele moveu a roupa em sua mão para um lado com um movimento desdenhoso, virando o quimono para ver o leque uchiwa costurado nas costas onde ficaria diretamente entre as omoplatas. Tudo o que ele havia recebido carregava o símbolo do Clã no qual ele agora vivia e ele odiava isso. Ele odiava porque não pertencia a ele e ele não pertencia a eles. Por que ele deveria carregar a marca de um clã que o rejeitou tão obviamente?

Com um grunhido desdenhoso, ele empurrou a camisa para o lado e, em vez disso, pegou uma que trouxera de sua antiga casa. A cor azul dele era sólida em toda a volta, quebrada apenas pelo brasão Senju costurado na ampla guarnição branca perto do colarinho. Onde a maioria das roupas que ele recebeu eram feitas em tons de preto e roxo, interrompidos com um toque ocasional de vermelho, Tobirama sempre preferiu se vestir em tons de azul. Ele gostou da calma da cor e de como ela o fazia parecer uma onda quebrando, espuma branca quebrando sobre águas azuis ondulantes - embora ele preferisse morrer cem mortes do que expressar tais absurdos caprichosos para alguém.

O armário fez um clique silencioso quando ele fechou as portas com muita delicadeza, dando um passo para trás com a roupa que havia escolhido na mão e saindo do quarto sem sequer olhar para a cama. Madara ainda estaria dormindo e havia pouco a ganhar olhando boquiaberto para um homem sonhador. Esse novo hábito de dormir tão pouco já havia começado a pesar sobre ele, mas valia a pena para evitar as brigas que ele sabia que inevitavelmente aconteceriam se passasse mais tempo em casa. Então Tobirama continuou a se levantar antes do sol todos os dias e escapar de sua residência nupcial antes mesmo de seu marido acordar, escondendo bocejos com mandíbulas cerradas e carrancas profundas enquanto rezava para que ninguém considerasse adequado comentar sobre as bolsas profundas crescendo sob seus olhos.

Como havia se tornado seu novo hábito, ele trocou de roupa no corredor do andar de baixo e jogou a roupa de dormir na lavanderia enquanto passava a caminho da cozinha. Ele achou um pouco estranho que os Uchihas deixassem os empregados lavarem suas roupas - era estranho confiar em outra pessoa para limpar suas roupas íntimas - mas era uma das poucas coisas que ele achava que realmente gostava aqui. Pelo menos agora Hashirama não tinha como culpá-lo por lavar as roupas sujas de ambos e havia mais tempo a cada dia para gastar em outras coisas, em vez de se sujar com sabão em pó ou lembrar de pegar suas camisas no varal.

Hoje em dia, o café da manhã era o que ele encontrava na geladeira para comer rápida e silenciosamente ao sair de casa. Ele sentia muita falta dos momentos em que podia dormir até o sol nascer e fazer uma refeição matinal tranquila com seu irmão e Mito. Agora ele estava reduzido a fugir de sua suposta 'casa' e atravessar o mercado privado do distrito Uchiha na escuridão da madrugada.

Poucas pessoas na rua o cumprimentaram. Tinha sido assim desde seu primeiro dia entre essas pessoas e não importava que continuasse a incomodá-lo, ele se recusava a deixar isso transparecer. As emoções eram impróprias, melhor guardadas para si mesmo e nunca para serem expressas em público como uma criança que não consegue se controlar. Como um todo, ele descobriu que os Uchihas eram um grupo assustadoramente expressivo com a capacidade de dominá-lo facilmente com a liberdade com que gritavam seus sentimentos para o mundo. O fato de ele não ter o hábito de fazer o mesmo o levou a uma espécie de ostracismo silencioso que, apesar de doer, era honestamente o melhor.