O kalós krios

82 11 4
                                    

O bom senhor

Quando o medo do perigo eminente já paralisava o meu corpo e congelava minhas ações uma surpresa agradável apareceu, de uma casa simples com poucas janelas e um cercado de estacas a volta surgiu um senhor, com fortes linhas de expressão e fios de cabelos ralos, aparentes na luz da tocha que segurava com a mão esquerda, enquanto com a destra equilibrava-se em uma espécie de cajado com função de bengala.

—Saia, fera! —falou alto e rouco enquanto de maneira corajosa ia em direção ao animal. —Fora do vilarejo. —proferiu autoritário mais uma vez, desta vez conseguiu a atenção completa do predador. O homem batia o bastão contra o chão aumentando a intensidade progressivamente. —Saia, saia! —ele aproximou-se muito, talvez se minhas pernas não estivessem tão trêmulas e sem força buscaria afastá-lo um pouco. O de mais idade levou o objeto com chamas até o canino que sentiu-se coagido, de alguma maneira todos os animais temem fogo, seus instintos compreendem perfeitamente bem seu perigo, o ser após rosnar e não perceber sinal de desistência ou medo nenhum por parte do humano acabou se afastando, e indo para qualquer parte da mata distante.

Suspirei de alívio, não sabia se a ajuda tinha vindo por solidariedade divina, ou simplesmente porque existia alguém bondoso por ali, e também não sabia qual seria mais reconfortante.

Busquei respirar algumas vezes para recuperar a força e a compostura.

Levantei-me e ainda podia sentir meus membros inferiores tremerem e o coração pulsar quase como se fosse quebrar minhas costelas e perfurar a carne.

—Senhor, —chamei enquanto me aproximava lentamente sem apresentar hostilidade, —muito obrigado pela ajuda. —curvei-me bastante formando um ângulo de noventa graus.

—Era só um lobinho filhote, —o homem respondeu, mais baixo do que com o bicho, mas ainda com vocal empoderado, —deveria conseguir se defender ao menos daquilo.

—É... Sim. —respondi um pouco desconcertado e endireitei a postura.

—Então, passar bem. —virou as costas e voltava para o alojamento do qual saiu anteriormente.

—Senhor, —dei um passo desesperado chamando a atenção dele, que virou o rosto por cima do ombro para me encarar, —posso me abrigar em sua casa? —na carranca extremamente sombreada devido a escuridão da noite uma sobrancelha se ergueu mostrando indignação, desconforto ou até mesmo um pensamento rude sobre mim. —Eu fico no quintal, ou seleiro, —deduzi que tinha um desses, —onde for, não me importo, só preciso de um lugar para me abrigar hoje. —minhas falas estavam desesperadas, mas ainda sim o mais velho não parecia ter intenção de me ajudar mais do que fez, ainda sim precisava insistir um pouco mais. —Estou vivendo à deriva, não tenho onde ficar, então por favor.

Moveu o acrômio e a supraespinal para cima e para baixo uma vez.

—Venha. —completou e retornou sua caminhada.

Apressei o passo com três pulinhos para conseguir me aproximar o suficiente, uma vez que ainda mantínhamos muita distância.

Atravessou as marcações de madeira, hesitei por um momento para entrar mas com a concessão do mais velho apressei-me, ele me conduziu a parte de trás do local, onde existia um cômodo sem porteira, com somente um pouco de palha e sementes, algo semelhante à um armazém, um pouco mais rústico do que aqueles grandes empresários com indústrias de alta tecnologia, o que era de se esperar para este mundo com aspecto medieval.

—Pode ficar aqui. —o dono disse.

—Muito obrigado. —curvei-me em gratidão plena e genuína.

O outro ali, além de mim, bufou, entretanto não parecia bravo ou irritado.

Eu Vou te TrairOnde histórias criam vida. Descubra agora