Empregados do casarão

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Saímos do casarão e atravessamos a rua. Caminhamos um pouco e logo o casarão vermelho ficou visível. De longe ele não parecia tão assustador, mas quando entramos no jardim já mudamos de opinião. O casarão era antigo e a tinta vermelha já estava descascando. Duas grandes árvores cobriam parte da varanda, uma de cada lado da porta. A escada da varanda tinha seus degraus de madeira a ponto de ruir, e o jardim tinha flores mortas e folhas caídas.

Algumas pessoas entravam e saíam da casa, carregando móveis, latas de tinta, utensílios de limpeza e muitos fios. Todos eles usavam uniformes verde claro, com desenho de uma flor no canto esquerdo do peito.

Uma mulher de saia preta e blusa verde veio correndo na nossa direção quando nos viu.

-Graças! Vocês chegaram! Onde está o uniforme de vocês? Por que demoraram? Venham comigo.

A mulher nos puxou para dentro da casa, sem deixar que a gente falasse uma só palavra. Se do lado de fora era assustador, eu realmente não tenho palavras pra descrever o lado de dentro.

Estávamos num grande salão, com uma gigantesca escada ao fundo, e um lustre ainda maior acima de nossas cabeças. O salão era escuro, a única luz vinha das janelas que rodeavam a parede da escada que levava para o segundo andar. Algumas cadeiras e mesas estavam empilhadas no fundo do salão, junto a outros móveis, todos empoeirados. Pelo menos uma dúzia de pessoas estavam no grande salão, limpando mesas, polindo o chão, limpando as janelas gigantes. Uma mulher parou em frente a senhora que nos levou até lá e começou a falar desesperadamente

-Senhorita Rudite! Os copos, onde estão os copos? Não consigo achá-los, Senhorita Rudite o que faço com os copos?

-Calma Sophi! Se controle! Vá buscar uniformes para Maria e James, eu cuido dos copos! - Rudite abanou o rosto e disparou para a porta a nossa esquerda, sumindo entre tecidos brancos que se amontoavam na entrada da porta. Olhei para Deam, que assim como eu, não estava entendendo nada.

-Oh Maria - a mulher que se chamava Sophi me olhou, acariciando meu cabelo - Não pensei que você fosse tão...jovem! E você James...- ela se virou para Deam, passando a mão em seus braços - Não pensei que fosse tão...forte! Vire-se - Sophi não esperou que Deam se virasse e o empurrou de lado, o olhou de cima a baixo e pude jurar que demorou uns segundos a mais abaixo da cintura de Deam.

Que abusada...

Pigarreei e Sophi olhou para mim, e logo se pôs a nossa frente.

-Venham pegar seus uniformes, vocês tem muito trabalho lá em cima. - Sophi se virou e andou em direção a escada. Comecei a segui-la, mas Deam puxou meu braço.

-Aonde você vai?

-Deam, se acham que vamos trabalhar aqui poderemos andar sem levantar muitas suspeitas.

-Mas e quanto ao James e a Maria? Se eles aparecem aqui pode dar trabalho pra gente.

-Precisamos de mais gente aqui! Não vamos dar conta sozinhos! - Uma mulher que varria o chão gritou para um homem que arrumava alguns fios.

-Bom, se Maria e James aparecerem por aqui vão trabalhar do mesmo jeito. Olha como essa gente está desesperada, mal conseguem respirar direito.

Deam olhou em volta enquanto pensava. Parece que ele se cansou de pensar, pois bufou e foi em direção a escada, procurando por Sophi. Fiz o mesmo.

Quando chegamos no segundo andar vimos uma bagunça ainda maior por ali: mulheres entravam e saiam dos cômodos carregando lençóis amarelos, travesseiros manchados, outras levavam mantos limpos e brancos. Alguns homens pintavam as paredes, outros penduravam quadros, enquanto alguns apenas davam instruções ou seguravam escadas. Uma pilha de toalhas estava jogada no início do corredor, junto com desinfetantes, vassouras e panos de chão.

Conseguimos achar Sophi em meio a multidão e andamos até ela, passando por pessoas aflitas e móveis sujos. Assim que chegamos, Sophi nos entregou uniformes verde claro e nos disse o que fazer.

-Vistam-se e comecem. James, você tem que trocar as lâmpadas de todos os cômodos daqui de cima. Maria, você vai tirar o pó de todos os quartos. Depois que terminarem, vão para o andar de baixo, lá você deve consertar algumas mesas quebradas - ela falou com Deam, logo se virou para mim e continuou - Você vai arrumar o escritório do Senhor Dennier. Façam tudo direito e recebam o dinheiro no fim do dia. Ao trabalho!

Assim que Sophi saiu, entramos em um dos quartos e fomos trocar de roupa.

-Não olhe - disse para Deam assim que tranquei a porta.

-Não seria a primeira vez - um sorriso de lado apareceu e eu corei. - Será que vamos achar esse tal de Dennier?

-Bom, estamos na casa da família Dennier, como vamos saber qual deles tem o coração que Mr. C quer?

-É tudo a mesma coisa, como ele vai saber de quem é o coração?

-Se matarmos a pessoa errada pode dar problema pra gente.

-Vamos mesmo fazer isso? - Deam sentou na cama e olhou para mim, seu olhar era preocupado e firme ao mesmo tempo. Sentei ao seu lado na cama e ele me abraçou.

-Não tinha me perguntado isso até agora. Olha só onde nos metemos, viemos até aqui com a intenção de matar alguém. O que está acontecendo comigo Deam?

-Se você quiser podemos ir embora e...

-Não - interrompi Deam - Não posso ir embora. Lembra do que o Mr.  C disse, que se eu não cumprir posso ter consequências? Tem algo nesse homem que me põe medo. Não quero arriscar.

-E se formos pegos?

-Nós não vamos. Vamos dar o melhor de nós mesmos e sair daqui o mais rápido possível, sem que ninguém nos pegue.

-Assim espero.

Deam me deu um beijo na testa e se levantou, tirando suas roupas para vestir o uniforme.

A CaçadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora