Mr. C

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 Não questionei Deam sobre o que o fez vir comigo ou por que queria caçar ao meu lado. Sabia que trabalhávamos em ramos diferentes, mas me faria bem uma companhia, visto que ando muito sozinha ultimamente. Ainda mais a companhia dele.

   Já estávamos na estrada a duas horas quando sinto as mão de Deam fazer pressão na minha coxa.

   -Está passando mal? Quer que eu pare? - Parei o carro no canto da estrada antes que ele pudesse responder. Ele estava pálido, como sempre foi, mas suas bochechas tinham um vermelho vivo. - Deam, você está bem?

  -Sim, eu estou ótimo - um sorriso apareceu em seu rosto. Ele levou as mãos ao rosto e resmungou alguma coisa. Foi quando vi a garrafinha de wiski em sua jaqueta. Ah, claro.

  -Você está bêbado. É o motivo por ter vindo comigo né?

  -Claro que não, estou sóbrio! Estou aqui porque te quero.

  -Deam, deita no banco de trás. Vai ficar lá até encontrarmos um hotel. Depois te despacho e vou embora, entendido?

  -Não quero, vou ficar com você - ele veio a minha direção, tirando seu cinto. Senti seu hálito no meu rosto uma mistura de menta e claro, bebida. Entendi o motivo do silêncio desde que entramos no carro. Afastei-o, empurrando seu ombro de volta a seu banco.

  -Não vou tranzar com você Deam.

  -Não quero tranzar com você América.

  -Que bom - respondi, tocada com suas palavras. Não queria tranzar comigo? O que isso queria dizer? Não sou boa para você Deam?

  -Quero fazer amor com você Meri.

  Minha boca se abriu em um "o" e senti minha respiração pesar. Ele me puxou para si e antes que eu pudesse evitar, me beijou. Um beijo molhado, longo e intenso.

  -Deam, pare. Nem consigo me mexer aqui.

  -A gente dá um jeito - ele tirou meus cintos e empurrou os bancos para trás. Me puxou para mais perto e passou as mãos por minhas costas. Enterrei as mãos em seus cabelos. Paramos o beijo para respirar e ouvi ele dar um risinho baixo. Ia o beijar mais uma vez quando vi um senhor de roupas azuis bater no vidro do jeep.

  -Podemos ajudar? - Deam perguntou, abrindo o vidro do jeep e dando um riso.

   Droga, polícia. E se ele reconhecesse meu rosto? Joguei meus cabelos para frente, tampando minhas bochechas.

  -Aqui não é lugar para namorar jovens. Tem um motel a poucos minutos daqui, se forem fazer algo, vão para lá. Não quero ninguém a foder na minha estrada.

  Deam riu com as palavras do velho e eu olhei para o senhor, que me encarou por um tempo.

  Ele não era mesmo um policial, ou era? Sua roupa parecia de policial, mas não tinha distintivo. O senhor pediu mais uma vez que saíssemos da estrada e voltou ao seu carro. Deam olhou para mim e soltou uma deliciosa gargalhada, me fazendo rir também. Liguei o jeep de novo e entramos na estrada. Ficamos num silêncio constrangedor que foi quebrado por Deam

  -Meri? - Ele falou, olhando para a janela ao seu lado.

  - Sim Deam?

  -Você iria mesmo fazer aquilo comigo, lá atrás? - ele pergunta envergonhado.

  -Bom, se você continuasse acariciando minhas costas daquele jeito, não iria conseguir aguentar muito tempo.

   Ele riu orgulhoso quando entramos na cidade. Era mais uma típica cidade do Colorado. Calma, fria, com árvores nas ruas, montanhas ao redor.

   Achamos um hotel e logo nos acomodamos em um quarto. Ficaremos no mesmo quarto, porém em camas diferentes. Deam pegou cervejas e as colocou na mesa. Tirei a jaqueta e liguei o televisor. Alguns minutos depois, senti o smartphone vibrar no meu bolso. Atendi a chamada de um número desconhecido e esperei que alguém falasse do outro lado da linha.

  -América Denser? Preciso de seus trabalhos. - Um homem disse. Sua voz era firme, autoritária.

  -Pois não, diga o que quer que lhe digo se cumpro a tarefa.

  -Acho melhor que não recuse minha oferta Denser... Ou então... - Esperei que ele terminasse a frase, mas não aconteceu. Ah que ótimo, nem sei o que ele quer e já levei uma ameaça.

  -O que você quer? - Perguntei tentando soar confiante, mas o nervosismo já era notável em minha voz.

  -Quero que pegue algo valioso. Algo meu, que tiraram de mim a um tempo. E tenho necessidade que seja rápido.

  -Quanto tempo?

  -Entre duas semanas.

  -Onde?

  -Estes Park.

  -Fica longe de onde estou, não consigo chegar a tempo de concluir a missão.

  -Terá que se virar Denser...

  -Quanto me oferecerá?

  -100 milhões de dólares. - Senti minhas pernas bambearem quando ouvi o valor. Nunca me ofereceram um valor tão alto, eu ganhava no máximo 6 milhões, e muito se ia cobrindo meus rastros.

  -O que você quer que valha tudo isso senhor... - esperei que ele dissesse seu nome.

  -Me chame de Mr. C, não precisa saber meu nome agora.

  -Tudo bem, Mr C. O que você quer? - tornei a perguntar, já com medo da resposta.

  -Quero o coração de Dennier.

   Coração de Dennier? Ele quer que eu mate por ele?

  -Desculpe, quer que eu mata alguém? não vou fazer.

  -Ou faz, ou terá consequências Denser.

  -Por que me chamou para isso?

  -Ora Denser... Você é boa no que faz, desastrada, porém boa. Ou faz, ou terá consequências - ele tornou a repetir, me deixando arrepiada.

  -Que tipo de consequência?

  -Algo que não poderá ser revertido. Pense no assunto. Ligo novamente mais tarde.

  Desligou.

  [...]

  Fiquei algum tempo pensando no que Mr C disse. Era um valor realmente muito alto! Mas ele queria o coração de alguém. Posso ser ladra, mas nunca matei ninguém. Percebi que fiquei muito tempo em meus pensamentos quando o relógio soou três da manhã. Deam via um filme qualquer no televisor, rodeado de doces e cerveja. Fui até o banheiro e lavei o rosto. Ao voltar para o quarto, vejo o celular vibrar em cima da cama. Congelei ali mesmo.

  -Não vai atender? - Deam perguntou, me tirando do transe. Arrumei o cabelo nos ombros e caminhei até a cama. Número desconhecido. Atendi. 

  -Pensou no que lhe disse? - Mr. C perguntou antes que eu falasse qualquer coisa.

  -Sim - minha voz falhou um pouco. Limpei a garganta e ouvi Mr. C dar um suspiro. Estaria ele...aliviado?

   -E o que me diz?

   -Eu faço. - O que foi? São 100 milhões de dólares!

   -Ótimo Denser! Terá duas semanas para me trazer o coração de Dennier. Boa sorte. - Ele desligou antes mesmo que eu perguntasse qualquer coisa. Como eu iria saber onde entregar o pedido? Pior, como eu iria achar o pedido? Só o que sabia era que ficava em Estes Park. E que teria que pegar o coração de alguém.

  Tirei o celular da orelha e me deixei cair na cama. Não consegui expressar nada, o que fez Deam se levantar e sentar na cama ao meu lado.

  - O que foi? - ele perguntou

  -Nada.

  -Quem era?

  -Um homem.

  -E o que ele te disse?

  -Que temos uma caçada.

A CaçadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora