CINCO

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O problema do beijo é o seguinte: Louis não consegue parar de pensar nele.

Ele tentou. Harry, Niall e os guarda-costas já tinham ido embora fazia tempo quando Louis voltou para dentro da casa. Nem mesmo o estupor embriagado ou a ressaca latente da manhã seguinte conseguem apagar a imagem de seu cérebro.

Ele tenta ouvir as reuniões da sua mãe, mas não consegue prestar atenção, e Sarah o expulsa da Ala Oeste. Ele estuda todas as leis que estão passando pelo Congresso e considera dar umas voltas para convencer alguns senadores, mas não consegue criar ânimo para isso. Nem mesmo sair com Eleonor para causar um burburinho na imprensa parece interessante.

Ele começa o último semestre, vai para a aula, senta com o secretário social para planejar seu jantar de formatura, mergulha em anotações grifadas com marca-texto e leituras complementares. Mas, por baixo de tudo, está sempre o beijo do príncipe da Inglaterra sob uma tília no jardim, o luar em seu cabelo, e as entranhas de Louis completamente derretidas, e ele quer se jogar do alto das escadas presidenciais.

Ele não contou para ninguém, nem mesmo para Liam ou Zayn. Não faz nem ideia do que diria se contasse. Será que tecnicamente ele pode contar para alguém, já que assinou um termo de confidencialidade? Será que foi por isso que ele teve que assinar? Será que Harry tinha isso em mente desde o começo? Isso quer dizer que Harry sente alguma coisa por ele? Por que Harry teria agido como um babaca entediante por tanto tempo se gostasse dele?

Harry não está dando nenhuma dica, nem ajudando em nada. Ele não respondeu nenhuma das mensagens de Louis nem atendeu nenhuma de suas ligações.

— Certo, chega — Liam diz em uma tarde de quarta-feira, saindo do quarto e entrando na sala do corredor compartilhado por eles. Ele está com suas roupas de treino e o cabelo molhado.

Louis enfia o celular no bolso na hora.

— Não sei qual é o seu problema, mas faz umas duas horas que estou tentando escrever e não consigo enquanto ouço você andar de um lado para o outro. — Ele joga um boné de beisebol para ele. — Vou dar uma corrida, e você vem comigo.

Paul os acompanha até o Espelho d’Água, onde Liam chuta a parte de trás do joelho de Louis para ele começar a correr, e Louis resmunga, solta um palavrão e aperta o passo.  Ele se sente como um cachorro que precisa ser levado para passear para gastar a energia.

E mais ainda quando Liam diz:

— Você é como um cachorro que precisa ser levado para passear para gastar a energia.

— Às vezes eu te odeio — ele diz para o primo, enfia o fone de ouvido e bota Arctic Monkeys para tocar no máximo.

Ele pensa, enquanto corre e corre e corre, que o mais idiota de tudo é que ele é hétero. Tipo, ele tem quase certeza que é hétero.

Ele consegue identificar momentos em sua vida em que pensou consigo mesmo: Viu, isso significa que não curto meninos. Por exemplo, quando ele estava no ensino fundamental, beijou uma menina pela primeira vez, e não pensou em nenhum menino enquanto aquilo acontecia, só que o cabelo dela era macio e gostoso. Ou quando estava no segundo ano do ensino médio e um de seus amigos saiu do armário, e ele não conseguiu se imaginar fazendo o mesmo. Ou no último ano, quando ficou bêbado e deu uns amassos com Calvin na cama de solteiro dele por uma hora, e não teve nenhuma crise sexual a respeito disso — isso devia significar que ele era hétero, certo?

Porque, se ele curtisse homens, teria sido assustador estar com um, mas não foi. Era só assim que melhores amigos adolescentes tarados agiam às vezes, que nem quando eles gozavam ao mesmo tempo assistindo a pornô no quarto de Calvin… ou naquela vez em que Calvin começou a passar a mão nele, e Louis não o impediu.

red, white and blue | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora