Bárbara
Depois daquele almoço constrangedor eu, meu avô e Winnerson seguimos para o estábulo, onde ele prepara dois cavalos para nós. Depois de dar umas instruções básicas a Winnerson. Saímos em direção à vila. Não muito longe de casa, mas também não tão perto para se caminhar.
Cavalgávamos quase em total silêncio. A neve caia sobre as nossas cabeças, ainda que cobertas. A pior descoberta foi de que, Winnerson não queria falar sobre nós e nem sobre a noite passada. Cansada daquela parvoíce resolvo quebrar o gelo:
― Nunca tinha cavalgado antes?
― Não. Esta é a primeira vez. – diz ele e os meus pensamentos me puxam para aquele quarto.
Começo a lembrar-me de cada toque, de cada beijo, de suas caricias e, aquilo me faz fechar os olhos e deixar a mente viajar.
― Você não me disse que era “expert” em montar cavalo. – Seu comentário me traz de volta a realidade.
― Sem exagero Winnerson. Já faz muito tempo que não monto.
― Mesmo assim, parece que ele não se esqueceu de si, – ele lança um rápido olhar ao meu cavalo. ― Teu avô disse que ele era o seu favorito, quando criança.
― É. O Hansel sempre foi um bom menino. Não é Hansel? – Falo com o cavalo que rapidamente relincha como se concordasse.
― Uau, você fala com cavalos? Quer dizer, ele entende o que você diz?
― Nada de mais. Com o treinamento todo cavalo adquire essa habilidade, – paro e desço do cavalo. ― Vem, vamos fazer uma foto.
― Sério? – ele desce do seu cavalo preto. — Desconfio que essa coisa ainda funcione.
― Meu avô é quem me deu essa maquina e para ser sincera, eu também desconfio que ainda funcione, – puxo-o pelo braço. — Agora vem.
Winnerson se posiciona a minha trás e me abraça. Faço uma selfie rápida e a foto é imprimida de imediato.
― Essa fica contigo. Eu faço outra copia para mim. – entrego-lhe a foto.
― Huumm, perfeito, – diz ele com aquele sorriso giro. — O que mais sabe fazer?
― Só isso. Na verdade eu gosto mais de tirar fotos, do que qualquer outra coisa.
― Você é incrível, sabia? – Diz ele e me sinto um pouco tímida.
— Se era para me deixar sem graça, conseguiu.
— Estás a chorar? Ohh, meu Deus, sinto muito. Não sabia que é alérgica a elogios.
— Claro que não Winnerson, – Digo quando sua mão enluvada se aproxima do meu rosto.
— É, estás mesmo a chorar. – Ele brinca, mesmo quando rejeito sua mão.
— Não, claro que não.
No meio daquela brincadeira acabamos num beijo gelado. Paro por um bocado para olhá-lo e novamente nos puxamos para mais um beijo gelado, mas agora demorado. Ao terminarmos, pego o meu cavalo pelas rédeas e sem dizer nada toco a andar. Winnerson também pega o seu animal e acompanha o meu passo.
— Quer conversar sobre ontem?
— Não, – Minto.
— Tudo bem, mas e sobre nós?
— O que tem, nós? – Contraceno, como se realmente não me importasse.
— Aann, sei lá. Só acho que... que..., – Ele titubeia e acho aquilo engraçado.
— Winnerson, – corto-lhe o raciocino. — Teremos muito tempo para isso, não acha?
— Está certo.
— Chegamos. ‒ Digo assim que avistam-se lojas e bares.
O lugar parece não ter mudado muita coisa. Quase que ainda me lembro de como tudo era. Não era tão criança ao ponto de não me lembrar de algumas esquinas desse lugar.
Deixamos os cavalos amarrados e entramos num estabelecimento, que agora parece mais um bar clandestino, onde imediatamente somos encarrados como a estranhos, e é o que somos.
— Eu só vou enviar o e-mail e vamos embora está bem? ‒ Diz Winnerson ao perceber o olhar severo de alguns homens barbudos.
— Está bem.
Caminhamos para o balcão, onde imediatamente peço usar a internet. O intermédio dono do estabelecimento que não me parece estranho, indica-nos um lugar depois que pago o valor. Quanto ao favor: Winnerson me encara com cara de quem não gostou, mas invento um falso sorriso para me desculpar quando ia se sentar.
— Enquanto envias vou pedir um chocolate quente. Quer?
— Não, obrigado. ‒ ele responde atento ao computador. — Mas não demore.
— Tudo bem! – Retorno ao balcão.
Enquanto o dono do estabelecimento atendia o meu pedido, um homem barbudo e com um lenço vermelho na cabeça se aproxima a mim com um ar de quem gosta de encrenca.
— Vejam só o que temos aqui, ‒ diz ele em russo com um sorriso maroto e um palito na boca. — Não é sempre que vemos mulheres bonitas por aqui.
Não respondo ao provoco. Mas o louco aproxima o seu rosto ao meu e logo depois, pega o meu cabelo.
— É melhor não tocar nela se não quiser problemas senhor. ‒ Diz Winnerson se erguendo do assento.
— O que disse? ‒ agora fala em inglês virando-se para Winnerson. — E quem vai me trazer esses problemas, você?
— Hei Jimmy, ‒ diz o dono se aproximando ao balcão. — Não quero confusão no meu estabelecimento.
— Mas quem é esse preto de merda que vem aqui, na minha terra e me fala de problemas? ‒ Diz o homem com uma cara de raiva.
Ele retira o palito daquela boca barbuda enquanto aproximava-se do Winnerson. Seus amigos também se levantam e aproximam-se lentamente. Descontente o dono do bar, mais uma vez chama-lhe atenção. Mas a tensão entre o homem barbudo e Winnerson subia cada vez mais e se encaravam como dois galos. O dono do bar deixa o meu chocolate quente sobre o balcão e rapidamente atravessa a portinhola para separá-los.
— Já tem seu chocolate querida? – Ele pergunta ainda no meio dos dois. Aceno com a cabeça. — Então é melhor vocês irem embora.
— Tudo bem, ‒ digo e deixo umas notas no balcão pagando o chocolate. — Muito obrigado.
— Hei, eu te conheço! – Diz ele quando íamos sair.
— Eu, não. Deve estar a me confundir, senhor. ‒ Nego.
Enquanto isso, o homem barbudo e seus homens retornam aos seus assentos.
— Você não é a branquinha? Neta do velho Dimitri? – ele questiona duvidoso, mas assinto. — É isso, veja só, como você cresceu.
— E como o senhor me conhece?
— Annn.., você é bem parecida com sua mãe. E quem esqueceria esse rosto lindo? Que, aliás, foi o que você herdou dela. – diz ele e depois faz uma pausa como que de súbito. — E... Sinto muito pela morte dela, que Deus a tenha.
— Não tem de quê, obrigado.
— Você vinha quase sempre aqui com a sua mãe. Quando isto ainda era só uma lanchonete.
— Claro. Muito obrigado senhor, ‒ corto-lhe quando ia dizer mais alguma coisa. — Precisamos ir.
— Conheces aquele homem? – Pergunta Winnerson após deixarmos o lugar.
— Sim, ele é o dono do bar, – digo, sem muita vontade. — Teve um caso com minha mãe e...
— E...?
— Não quero falar disso, Winn.
— Tudo bem. Agora vejo por quê o tratou daquela forma.
Montamos nos cavalos e seguimos o nosso caminho de regresso a casa, mas agora lhe falava da minha infância e, o caminho todo Winnerson quase não diz nada, apenas me escutava.***
Finalmente chegamos a casa. Deixamos os cavalos amarrados na entrada de frente. De repente, meu coração começa a bater fortemente e uma sensação estranha invade o meu peito. Antes de ir para dentro, a minha intuição me diz que havia algo de suspeito. Corro para dentro e deparo-me com uma situação tristemente devastadora: coisas fora dos seus devidos lugares: quadros, vasos, tudo estava espatifado e jogado ao chão. Incluindo meus avôs: estatelados no chão e ambos a sangrar. Alarmada, corro para a avó Katarina, que dava sinais de vida. Não sabia se o avô Dimitri ainda respirava, mas a sua espingarda estava jogada no chão ao seu lado.
— Avó, o que aconteceu? ‒ de joelhos ergo-a em meus braços . — Avó, o que aconteceu, fale comigo.
Olho para o Winnerson que inspecionava o corpo do avô Dimitri que não se mexia e logo deduzo que devia estar morto. Moro de susto só de pensar que o meu irmão teria feito aquilo com os próprios avôs.
— Filha, o seu irmão esta aqui, fuja. – Diz avó Katarina segurando minha mão.
— Não, eu não vou a lugar algum sem você avó.
— Vocês têm que fugir, – diz ela após tossir com certa dificuldade. — Meu filho, leve-a para bem longe daqui, por favor.
— Sim avó, – Winnerson se agacha perante ela. — Bárbara, temos que ir.
— Eu não saio daqui sem a minha avó. – Não consigo parar de chorar.
— Vocês correm perigo, Branquinha– diz ela e tosse mais uma vez. — Há qualquer momento eles podem voltar.
— Avó eu... Eu não quero te perder.
— Você não vai me perder meu amor. Eu estarei sempre contigo, – ela aperta a minha mão com o pouco de força que lhe resta e estica a outra para segurar o Winnerson. — Filho, cuide bem dela e a proteja. Prometa que vai cuidar dela? Prometa-me.
— Eu vou tentar avó, eu prometo que vou tentar.
— Muito bem. Agora vão, e não olhem para trás. – Diz ela quase sem forças.
Ela sorri pela última vez e logo solta minha mão. O meu coração se rasga ao meio e o meu choro se agrava, ao perceber que ela já não respirava. Não dava para acreditar que aquilo estava acontecendo na minha vida.
— Bárbara, temos que ir agora. – Escuto a voz do Winnerson distante.
Demoro um instante para me erguer e seguir para o quarto, onde ao entrar encontramos nossas coisas também espalhadas no chão. A emoção e a raiva sobem-me a pele. Era como se eu pudesse fazer alguma coisa, mas infelizmente, a única coisa que consigo é somente chorar.
— Eles levaram o meu lap top. – Diz Winnerson com a pasta vazia nas mãos.
— O que vamos fazer, agora?
— Temos que ir, ‒ ele busca a arma de abaixo da cama e coloca-a na cintura. — Você ouviu sua avó, eles podem voltar a qualquer momento.
Antes de sairmos, apanho a foto da minha mãe que carregava comigo na mochila. As mochilas, deixamos. Não valia apena gastar tempo apanhando o que estava espalhado. Excepto alguns documentos e os passaportes falsos, que também tinham sidos jogados ao chão.
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Uma escolha fatal|O moço ambikano e suas paixões
RomanceWinnerson Culande encontrava-se de férias na Cidade do Cabo, em África do Sul. Onde por alguma razão, uma jovem russa de nome Bárbara Kasyanov, invade o elevador no qual ele estava. Fugia da máfia. Roubara uma informação valiosa, e a máfia a queria...