Sophie
Sinto um pouco de receio quando seguimos para a floresta, conduzidos por um homem conhecido. Nenhum de nós dizia palavra. E o homem, bufava ao longo da caminhada.
― Onde está o carro? – Pergunto ansiosa.
― Logo ali, – ele aponta e logo me entrega as chaves. ― Eu volto aqui.
― Obrigado. – Diz Winnerson, estendendo-lhe a mão.
― Não é por você. – ele recusa o aperto de mãos e faz meia volta.
― Winnerson, vamos.
— O que ele tem? – Pergunta Winnerson enquanto seguíamos para o carro.
— Quem?
— Aquele homem.
— Não sei, – digo e entrego-lhe as chaves. ― Você dirige.
Winnerson liga o carro e partimos pela estrada florestal. A neve caia de leve quando deixamos a vila rumo à cidade. Após algum tempo de viagem, Alexei dormia no banco de trás.
Winnerson conduzia de os braços firmes ao volante. Seu olhar atentava somente a estrada. Mas do nada se apercebe que o olhava. Ele sorri.
De longe, um carro seguia-nos veloz. De faróis bem acesos vinha como se deslizasse no gelo.
— Temos companhia, – digo observando-o pelo espelho. ― É o carro de Anatoly.
— Segure-se. – Diz Winnerson metendo a mudança.
Próximo de nós. Anatoly começa a disparar contra o nosso carro. Alexei tinha despertado. Winnerson manda-nos abaixar a cabeça, enquanto cada vez mais, acelera. Um tiro quebra o vidro traseiro. Sinto medo. Meu filho gritava de desespero. Rastejo até ele, e o aconchego em meus braços. Os disparos continuam. Agora o vidro de frente se encontrava com rachas, mas Winnerson não parava.
― Sabes atirar? – ele saca a arma da sua cintura. ― Ah, é claro que sabe. Então pega isto.
Seguro aquela arma e aponto para o carro a nossa trás. Atiro umas duas vezes, mas o falho. Não cessavam os disparos do outro lado. Mais uma vez tento acerta-los, mas não sei se acerto ou se falho. O medo era muito grande.
― Dispare nas rodas Sophie. – Diz Winnerson, sem tirar os olhos da estrada nevada.
― É o que estou a tentar fazer. Alexei abaixa! – Agora tento disparar nas rodas, mas falho.
― Eles acertaram nossas rodas. – Diz Winnerson tentando controlar o carro, que descontroladamente deslizava, até embater-se numa árvore. — Saiam do carro, vamos.
Winnerson sai e abre a porta de trás para levar o Alexei, mas Anatoly o apontava com uma arma. Rapidamente também empunho a minha arma.
― O que vai fazer Sophie, abaixe essa arma, – diz Anatoly, mas não o obedeço. ― Abaixe essa arma Sophie, antes que alguém se machuque.
― Sophie não. – Diz Winnerson com as mãos ao alto.
— É melhor cooperar Sophie...
― Solta ele primeiro.
― Eu não quero que isso acabe assim Sophie, eu só vim pelo menino, – olho para o Alexei que ainda se mantinha no banco de trás. ― Eu poderia até matar esse imbecil bem aqui, afinal sua cabeça vale muito...
― Mas não vai fazer isso, sabe por quê? Porque a sua, vale mais para mim. E o meu filho vai comigo.
― Haa, o que é isso, mulher, me entrega o menino e todo mundo sai daqui vivo, – ele carrega a arma. ― Ou talvez possamos fazer uma troca justa, o que me diz?
— Sem chance. Não negoceio com terroristas. Alexei vem para cá! – meu filho sai do carro e se esconde atrás de mim
― Não estás a pensar que vou te deixar fugir com esse merdinha e ainda levar o meu filho, estás? Será que ele já sabe que és uma vadia e que acabou tendo um filho com o homem mais cobiçado de Chelyabinsk?
Ele continua a tagarelar sem parar. Aquelas palavras despedaçam-me a alma. Só de me lembrar de que foi ele quem me estuprou e, ainda negou ter feito aquilo e negou de assumir o filho, uma indescritível raiva suscita-se dentro de mim. Um mar de lágrimas lava-me a cara e não ouvia mais nada do que Anatoly falava. Grito para que ele se calasse e, sem saber como, um tiro acertava-lhe. Winnerson rapidamente bate seu braço esquerdo e a arma cai-lhe. Ele tenta apanhá-la com outro braço que lhe restava, mas dou-lhe outro tiro no pé. Anatoly cai. Não demoro a apontar-lhe outra vez com a arma, no meio da sua cara.
― Sophie não, – Diz Winnerson atrás de mim. — Não faça isso.
― E por que não? Você não sabe o que esse monstro fez comigo.
— Puxa logo o gatilho sua vadia. – diz Anatoly ali deitado, ensanguentado — Acabe logo com isso.
― Tem razão, eu não sei. Mas tirar a vida dele não é uma solução.
― Eu sei que não, mas estarei em paz porque terei me vingado, – Anatoly faz provocações com palavras obscenas. — E nunca mais terei que olhar para sua cara nojenta.
— Acabe logo com isso vadia!
― A vingança não traz paz, Sophie. Não faça algo que depois vais se arrepender pelo resto da sua vida. Por favor, não faça isso.
Estremeço com o dedo no gatilho enquanto soltava uma rajada de palavrões, mesmo em frente do filho. Não desvio o olhar. Nem para a esquerda nem para a direita, muito menos para trás.
— Mostre o nosso filho, esse seu lado assassino, sua prostitutazinha barrata, – continuava Anatoly. — Pelo menos agora ele poderá ver seu pai morrer de verdade.
― Mãe, ele é meu pai? – pergunta Alexei atrás de mim. ― Ele é meu pai de verdade?
Subitamente uma tranquilidade surge em mim. Olho para meu filho que o encarava com aquele olhar inocente de criança. De mim, não saia palavra. Somente pensava. Tudo em mim trava, então abaixo a arma e me agacho para abraçá-lo.
― Filho, eu já disse: seu pai morreu, quando você era bebê. Esse homem não é seu pai. Ele está doente. Não escute nada do que ele diz, está bom? – Alexei aceita com a cabeça e dou-lhe um beijo na testa.
— Mas eu sou o pai dele.
— Cale a boca Anatoly. Você nunca foi e nunca será o pai do meu filho.
― É melhor a gente ir, – diz Winnerson com a arma apontada para o Anatoly. ― Vamos levar o carro dele.
― Você vai me pagar sua vadia, – Anatoly grita quando nos afastávamos dele. ― Vocês não têm como escapar... Dimitri vai vos encontrar antes que cheguem a algum lugar.
― Entra ai, – diz Winnerson após tirar um homem morto da cadeira de passageiro.
Aquilo me apavora. Minha mente me recorda: “matei um homem”. Era o mesmo que nos tinha levado pelo caminho da floresta. Winnerson mete as nossos pertences no banco de trás, onde entro com meu filho, so para não sentar no banco de passageiro. Winnerson põem o Jeep a funcionar e voltamos à estrada.
― Obrigado por salvar a minha vida, – diz Winnerson ao volante. ― E por não fazer aquilo... Você sabe.
― Mas eu matei um homem. Isso vai me assombrar a vida toda. Isso se o Anatoly não me achar e me matar.
― Não diga isso, Sophie, – ele olha para o meu filho. ― Você vai ficar bem. Vocês dois.
— Eu fiz uma promessa a mim mesma, que nunca deixaria Anatoly chegar perto do Alexei e que faria qualquer coisa para protegê-lo.
— E você fez Sophie. Você fez.
Não quero mais falar, então deixo o silêncio penetrar. Pensava eu que fosse solução, mas a viagem se torna mais demorada e dolorosa. Por fim, assim como meu filho caio num resoluto sono.***
Quando desperto já entravamos na cidade e o sol já se ia descansar em seus aposentos. Olho para Winnerson que atentava a estrada e depois para meu filho que tranquilamente dormia encostado às pastas.
― Mais uns metros, estamos na Praça da Revolução. – digo e ele levemente sorri. ― Pensei que de alguma forma haveríamos de nos cruzar com eles, durante o caminho.
― Aié? Foi por isso que dormiu? – ele faz graça sem tirar os olhos do volante. — Não tinha como nos cruzamos com eles. Seu avô foi muito esperto por nos mandar entrar pelo caminho florestal.
— Ainda falta muito para a tal praça?
— Não. É logo ali à frente.
― Então vou encostar aqui, – diz ele quando chegamos à Avenida Vladimir Lenine. ― Tenho que ligar para este número. Tem como encontrar um telefone público aqui?
― Sim, mas eu ligo. E você fica aqui, – estendo-lhe a mão. — Dá-me o número.
― O quê? Por quê?
― Winnerson... Eu tenho mais chances de conseguir um celular sem ser reconhecida. – Ele me encara como se fosse dizer algo, mas desiste.
― Está bem. Você venceu.
Saio do carro e facilmente consigo um celular emprestado. Falo com o meu tio que por fim me dita o endereço de sua casa, como se eu tivesse esquecido. Mesmo assim, o deixo fazer aquele papel de tio.
― Conseguiu falar com ele? – Pergunta Winnerson assim que retorno para o carro.
― Sim...
Olho para o Alexei que já estava acordado, mas ainda com uma cara de sono. Digo “oi”, mas ele me despacha se deixa cair sobre as pastas.
― E...? – Winnerson fita os olhos em mim, ― Ele vai nos ajudar?
― Sim, mas sabe como é: não há nada sem preço. Com meu tio sempre foi assim.
― Como assim?
― Deixa para lá, eu dei um jeito.
― Como... – Ele insiste, atento.
― Aaann... Winnerson chega de perguntas, nem? – digo e ele me encara com aquele olhar sedutor. ― Está bom, eu tive que ameaça-lo um pouco.
― Pois é... Essa é a Sophie que eu conheço, – ambos, nos rimos. — Sempre dás um jeito.
― Claro. E agora temos que abandonar essa lata velha, – digo puxando as pastas no banco de trás. ― Está tudo bem filho?
― Sim mãe, eu só estava com medo.
― Tudo bem meu amor, já passou. Agora estamos todos seguros, está bem?
― Tio Winnerson, – diz Alexei, após aceitar o que digo. — Você vai mesmo embora?
― Sim, mas eu volto, está bem?
― Você promete? – Alexei insiste.
― Eu prometo. – Winnerson estende-lhe o punho que meu filho o toca sem receio.
― Ótimo, agora temos que ir. Antes que a policia nos encontre aqui com essa lata.
Assim que chegamos a casa do meu tio, toco a campainha. Somos atendidos por um homem. Aparentava ter, não mais que cinquenta anos. Trajava roupas de dormir, e na mão um copo de uísque.
― Oh, minha abobrinha, – parecendo que ia me abraçar. ― Oh... e quem é esse homenzinho? Deve ser o famoso Alexei.
Ele nos convida a entrar após uma encenação de amor fraternal.
A casa ainda era do mesmo jeito, por fora e dentro. Parecia que nada havia mudado, para além da nova coleção de quadros. Era pequena, mas me lembro de alguns quadros ali pendurados.
Uma jovem de quase vinte anos, aparece na sala, só de lingerie. Rapidamente cubro os olhos do meu filho. Meu tio se desculpa e a manda voltar, depois de uns trocados de beijinhos uma palmada no seu traseiro liso.
― Mulheres, – diz meu tio com a cara sem vergonha. ― Me desculpem. Vocês sabem... Mas me digam: o que os traz a minha humilde casa?
Eu e Winnerson entreolhamo-nos, antes de dizer qualquer coisa. Winnerson tira um papel do seu bolso e o deixa na mesinha do centro. Meu tio olha longamente de mim para Winnerson, antes de pegar o papel. Um cãozinho branco aparece na sala. Alexei se apaixona. O peludinho se aproxima a ele para cheirá-lo. E ambos se encaixavam.
― Mãe... Posso brincar com ele? – pergunta-me, mas meu tio se antecipa a responder. Logo Alexei já estava lá, correndo atrás do cãozinho.
― O que é isso? – Meu tio pergunta desdobrando aquele papel.
Ele busca seus óculos de graduação pendurados ao seu pescoço e lê atenciosamente, seja lá o que for. Enquanto lia, seus olhos saltavam de quando em vez, entre os óculos, em direção a Winnerson.
― Aaaahhh... Esse velho idiota, ele acha que eu lhe devo algum favor... Isso é golpe baixo, – ele reclama e joga o papel na mesinha tirando os óculos em seguida. ― “... é hora de retribuir o favor...” Haaa... Como acha que eu vou ajudar um estrangeiro, sem documento algum a sair do país?
― Não sei... como sempre faz?
― Eu não faço mais isso.
― Uma vez ladrão... Sempre ladrão. Foi o senhor quem disse, lembra?
― Não ouse falar assim comigo menina. Sabe que tudo o que fiz, foi para sobreviver. Inclusive para manter você viva.
― Eu sei tio, por isso que precisamos da sua ajuda. Não temos mais ninguém que possa nos ajudar. Se tivesse, eu não estaria aqui.
― E não devia, – ele levanta-se e se distancia. — Ahhh, que inferno.
― Você não pode simplesmente me ignorar, eu sou sua filha, – corro atrás dele, Winnerson tenta me impedir, mas não o escuto. — Tio, você é a única família que tenho, para além do vovô.
— E vocês, são a família que eu nunca quis ter...
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Uma escolha fatal|O moço ambikano e suas paixões
RomanceWinnerson Culande encontrava-se de férias na Cidade do Cabo, em África do Sul. Onde por alguma razão, uma jovem russa de nome Bárbara Kasyanov, invade o elevador no qual ele estava. Fugia da máfia. Roubara uma informação valiosa, e a máfia a queria...