Winnerson
Levo a carteira, mas ainda com a mente naquela branquela. Mesmo que eu não queira admitir, ela é incrivelmente linda e, isso é irrefutável. Talvez eu devesse só me concentrar na minha vida e esquecer toda essa baboseira.
Quando deixo o quarto, ainda na porta, ouço um grito vindo do quarto ao lado, e lembro-me que era o quarto da branquela. “Isto é guerra”, penso. Não sabia exatamente o que fazer, e muito menos o que estava lá a acontecer, “mas seja lá o que for, vou lá ver”.
Caminho num ante-pé em direção ao quarto da mulher misteriosa. Exterminosa é a sensação que me carrega enquanto a adrenalina me sega e me delega. Tiro uma caneta do bolso enquanto aproximava-me vagarosamente da porta duzentos e doze, onde silenciosamente espreito e vejo dois homens de preto: um com os braços na mulher misteriosa e o outro vasculhando suas coisas.
Mais uma vez fico paraplégico, sem saber se chamo a policia ou se entro no quarto de cabeça. “Não pensa”. Digo para mim mesmo em silencio. Então ganho coragem e empurro a porta vagarosamente, entrando num misterioso silêncio e uso a caneta nas costas do homem que segurava a mulher. Ele a solta no grito estranho e se vira para mim, mas logo recebe um soco no nariz e cai por cima do amigo que vasculhava a pasta.
— Vamos, ― seguro-a pela mão e deixamos o quarto às correrias, mas logo um tiro nos falha ainda na porta. — Cuidado... Corre.
Juntos corremos em direção ao elevador onde piso o botão para o reis de chão, mas o elevador demora toda a eternidade para chegar.
— Vamos pela escada. ― arrasto-a comigo e seguimos pelas escadas.
Os bandidos começam a disparar contra nós, em meio àquela descida. Enquanto descíamos, nos escondíamos dos tiros por baixo das escadas.
Era como se estivéssemos a descer as cegas por uma grande montanha, e as mortalhas pintadas nas paredes confundem-se com as pequenas portas trancadas que vou experimentando uma a uma a cada andar que chegávamos. E por fim, encontramos uma destrancada e entramos por ela que nos leva a um estacionamento subterrâneo.
― Espera! – diz a mulher em inglês parando logo a saída. ― Qual é o seu nome?
― Winnerson!
— Está bem. O que fazemos agora, Winenerson?
— Nos escondemos, ― aponto para um carro. — Vamos!
― Espera, – diz ela mais uma vez segurando minha mão quando ia caminhar. ― Não vai perguntar o meu nome?
― Não,
― Bárbara. Meu nome é Bárbara.
― Está bem, prazer Bárbara. Mas se quer viver melhor irmos agora.
Os dois homens de preto chegam ao local após nos escondermos ao lado de um carro. Claro, eles nos procuravam entre os carros: por dentro, por fora e por de baixo.
— Estamos cercados, o que vamos fazer? ― Ela pergunta toda assustada.
— Shii... Fique calma. Vou tentar despistá-los, está bem? ― digo e ela consente com a cabeça. — Vem.
Quando um dos homens aproximava-se ao carro onde estávamos, seguro sua mão, e passamos para o outro carro ao lado.
O Bandido dá meia-volta e procura noutros carros e, consequentemente distancia-se de nós. Logo depois, um deles fala ao telefone em russo e isso me faz perceber que a mulher misteriosa é uma deles.
— O que ele está a dizer? ― Pergunto quase cochichando.
— Ele diz que nos perdeu de vista, ― Bárbara imita minha voz logo após um suspiro. — Precisamos voltar para o hotel e talvez, pedir ajuda a policia ou qualquer coisa que seja...
— O que? Não. Quer dizer, não podemos voltar para lá dentro, ― digo um pouco espantado com sua proposta.
— Não? Por que não? Você sabe que eles estão armados e eles não vão descansar sem encontrar o que eles querem.
— Eu sei, mas não pode arriscar a sua vida indo para lá dentro, – digo fitando nos seus olhos lindos e azuis. — Pelo menos não agora. Quem sabe não deixaram outros para vigiarem o local?
— Tem razão, mas e então, o que fazemos, aliás, o que devo fazer?
— Eu ainda não sei, ― respondo tentando pensar em alguma coisa útil. — O que eu sei é que não vou te deixar voltar para lá, agora.
Enquanto conversávamos ali agachados, um Van preto entra no local e os dois homens aproximam-se do veículo e iniciam uma conversa com alguém que esta no veículo. Um vínculo de ideias me surge à mente quando do outro lado, vejo um homem bojudo abrindo a porta do seu carro cantarolando num fraco assobio. Sozinhos, eu e Bárbara entreolháramo-nos como se tivéssemos pensado na mesma coisa.
— Está a pensar o mesmo que eu? ― Pergunto-a com um leve sorriso.
— Espancar aquele homem e levar o carro dele? Não, não vamos fazer isso.
— Não exatamente isso, mas se necessário, teremos de fazê-lo. ― Digo e ela encara-me com um olhar repreendedor.
Encaro-a, ou seja, encaramo-nos com certa discórdia, mas, logo desvio o olhar de volta ao homem da viatura dupla cabine, que entrava na mesma, mas que por algum motivo ele volta a sair. Ao sair, ele caminha para dentro do hotel através de uma porta de funcionários.
— No três, nós corremos para aquele carro está bem?
— Está bem. ― Bárbara aceita, mas ainda com uma respiração ofegante.
— Fique tranquila. Tudo vai dar certo. Está pronta? ― pergunto e ela consente apertando a minha mão com firmeza. — Está bem. Um dois... Vamos.
Ergo-a e corremos até o carro, onde entramos na cabine e nos escondemos.
— É sério? ― Diz ela arregalando aqueles olhos lindos.
— O que? ― Digo como se não soubesse do que ela reclamava.
— Você não contou até três.
— É mesmo? Ahh eu nem me apercebi. ― Me divirto mesmo vendo que ela ficara chateada.
— Que engraçadinho, ― diz ela toda brava, mas com uma voz baixa.
— Ahhh, desculpa, é que eu não sou bom com números e principalmente quando estou nervoso. ― Continuo a me divertir.
— Então por que disse “no três”, sabendo que não ia contar?
— Eu não sabia. Achei que você ficaria nervosa e não correr.
— Sério? E você não ficaria nervoso? Claro que não, você não parece alguém, do tipo que fica nervoso.
— Você tem razão, Shii... Ai vem o barrigudo. ― Digo abaixando sua cabeça.
— Isso não acabou. ― Ela cochicha, e aquilo soa irônico.
O homem entra no carro ainda assobiando e então liga o motor, mas quando ele acelera de repente tiros chovem por de atrás do carro.
O homem acelera a viatura deixando o hotel a uma alta velocidade. Tento espreitar, vejo o Van preto na cola e os tiros continuavam intensos assim como o grito dos pneus. Mas a perseguição não dura muito, minutos depois os tiros cessam e o carro aos poucos reduzia a velocidade, mas do nada, o homem trava com fúria.
— Quem está ai? ― diz ele. — Apareça antes que eu atire.
Eu e Bárbara entreolhamo-nos e, sem muita escolha levantamos as mãos.
— Não atire, por favor. ― Diz Bárbara com a voz trêmula.
— Quem são vocês e como entraram aqui? ― Questiona o homem com uma arma apontada para nós.
— Nós... Nós somos...
— Estamos a fugir dos bandidos que disparavam o seu carro, ― corto as palavras da Bárbara. — eles estão atrás de nós e...
— E... vocês acharam que era melhor entrar no meu carro. É isso?
— É... É isso sim. Entramos no seu carro e... Aqui estamos, ― digo sem saber exatamente o que dizer. — Quer dizer: tecnicamente não que tenhamos achado que fosse a melhor coisa a fazer, é que... Não tínhamos outra opção.
— Quer dizer que aqueles bandidos tentaram me matar por vossa causa? ― ele fala balançado a arma a nossa frente.
— Sentimos muito senhor, ― diz a Bárbara tentando amenizá-lo. — Na verdade foi por minha causa, ele não tem nada a ver com isso. Então se quiser pode atirar em mim...
— O quê? Eu tenho tudo a ver sim. E eles querem me matar também. Se eu não tivesse te arrancado dos braços daquele bandido lá no hotel, ai com certeza eu não teria nada a ver com isso, ― articulo e ela me olha surpresa. — Então pode atirar em mim senhor, eu é que tive a ideia de entrar no seu carro.
— Ei, afinal qual é o seu problema? Eles estão atrás de mim e não de ti. Você está nesta confusão por minha causa e...
— Eu estou nesta confusão porque quis, porque eu escolhi te salvar, porque eu tive a ideia de entrar neste carro então, é claro que a culpa é toda minha.
— Mas não é a ti que eles querem. ― Ela se exalta furiosa.
— Está bom, chega, ― grita o homem e logo abaixa a arma. — Não vou atirar em nenhum dos dois. Vocês tem sorte porque hoje estou de bom humor. Também não é sempre que a gente tem oportunidade de salvar vida de alguém.
Eu e a Bárbara mais uma vez entreolhamo-nos, mas agora desacreditados, mas ainda com os braços levantados.
— De o quê estão à espera? Passem para cá, ― diz o homem colocando a viatura em movimento. — A propósito, meu nome é Jefferson, mas podem me chamar de Jeff. É assim como a maioria me chama.
O homem falava com os olhos na estrada, mas uma vez a outra vigiava os espelhos e o retrovisor.
— E vocês, tem nomes? Ou... ahh... Está bom, isso não é da minha conta, ― após essa questão nossos olhares se chocam no retrovisor. — Então, onde vão ficar?
— Ann Pode nos deixar no... na..., ― me enrolo com as palavras que mal saiam. — Pode nos deixar em qualquer lugar.
— Já entendi. Não conhecem lugar nenhum, — ele deixa escapar um leve sorriso pelo canto da boca.. — Deixe-me adivinhar, um casal de jovens que decidiu fazer turismo nas terras do Rand, e então é atacado por bandidos armados. Isso daria uma boa estória hein?
— O que? Nós não...
— Não, fique tranquila minha jovem, eu não escrevo, ― ele corta as a Bárbara. — Mas bem... Não é a primeira vez que uma coisa dessas acontece por aqui. Quer dizer: não que seja frequente, os turistas serem atacados cá na cidade do Cabo. Mas acredito que vocês me entenderam.
— Nós não somos um casal... – Remata Bárbara.
— Claro, entendemos sim. ― Corto o fio do pensamento dela que parece que ia continuar.
— E... Já que não conhecem nenhum lugar por aqui, posso vos oferecer um quarto na minha casa, mas só por uma noite.
Bárbara faz não com a cabeça, mas eu digo sim com os olhos e ela me encara como se fosse me engolir com aqueles olhos lindos. Indo nos para um lugar desconhecido, Jefferson que parecia nativo, faz uma curva em silencio.
— O quê? Não, não podemos aceitar. – Bárbara cochicha segurando-me pelo braço.
— É melhor aceitarmos, seria uma péssima ideia ficar na rua com tantos bandidos atrás de nós. – Cochicho de volta como se não quisesse abrir a boca.
— Ainda a discutir... Ahh que casal fofo, ― diz Jefferson fazendo outra curva saindo da estrada principal. — Vocês combinam perfeitamente, sabiam? E me lembram eu e Dyane, minha esposa. Quase que nunca concordávamos com nada. Mas no fundo, sempre nos amamos.
— Quanta gentileza da sua parte senhor, mas nós...
— Aceitamos o favor, ― mais uma vez arranco as palavras da boca da Bárbara. — E agradecemos muito a sua hospitalidade senhor.
— Que bom que aceitaram, eu não ia querer deixar dois estrangeiros procurados por bandidos perigosos, na rua. Isso seria um grande pecado para mim e Deus nunca ia me perdoar por isso.
Num instante ele trava em frente a uma porta, que se abre remotamente. Logo à frente, uma grande e bela casa se instala acompanhado de um vasto relvado quintal, onde Jefferson imediatamente estaciona o carro.
Enquanto descíamos, Bárbara procura minha mão e a segura como uma criança perdida. Seguíamos o passo do Jefferson que caminha com alegria enquanto assobia.
— Bem vindos a minha humilde casa, ― diz ele quando chegamos a entrada principal. — Bom não é bem humilde como tal, mas também não posso dizer que sou rico.
Enquanto Jefferson tagarelava a porta se abre e, uma mulher loira com um avental de cozinha aparece com os olhos arregalados. Deve ser a tal Dyane, a esposa do Jefferson. Para confirmar minhas suspeitas, ela segura a maleta do Jefferson, e logo o beija.
— Docinho, estes são meus convidados o...
— Winnerson. ― Me apresso a responder.
— E a... Sua namorada.. Quer dizer: noiva. E isso, noiva nem? A...
— Namorada, só namorada, ― Bárbara entra no jogo e solta o meu braço para saudar a mulher do Jefferson. — Bárbara.
— Prazer... Dyane. ― Diz ela apertando a mão da Bárbara e depois a minha.
— É isso ai. Bárbara e Winnerson. São nossos convidados, ― diz Jefferson, colocando as mãos no bojo. — E a fome nos acompanha.
Sem mais delongas somos convidados a entrar e indicados um lugar para sentar. Sentados, o aconchegante sofá traz-me uma sensação de euforia ao sentir meu corpo relaxado.
— Fiquem à vontade, ― diz Jefferson quando sua esposa afasta-se carrancuda para outro compartimento. — Vou falar com ela.
— Ela não foi muito com a nossa cara! – Bárbara comenta após um leve suspiro.
— Isso não me surpreenderia. Afinal somos turistas. – Divirto-me.
Um miúdo de cabelos leves e amarelados surge do nada a nossa frente. Aparentemente pode ter uns dez anos, mas o seu olhar o faz realmente parecer um duende com mais de mil anos.
— Quem são vocês? ― Pergunta o miúdo com uma voz áspera.
— Oi... Nós somos...
— Oi Lian, eles são amigos do pai, ― Jefferson se aproxima e nos salva daquele lance. — Este é meu filho, Lian. Lian, estes são: Sra. Bárbara e Sr. Winnerson. São amigos do pai está bem?
O menino assente com a cabeça e sem mostrar nenhum sorriso, mesmo de depois de tentarmos dizer “oi” para ele.
— Diga oi, filho.
— Oi. ― Diz ele depois que o pai o insiste.
— Oi Lian. Você tem um bonito nome, sabia? ― Diz Bárbara, mas nenhuma resposta vem do menino Lian.
— Bom, enquanto a Dyane prepara a refeição, que tal mostrar-vos o quarto de hospedes.
— Certo. ― Digo e logo nos levantamos.
— Sua casa é linda. ― Diz Bárbara enquanto revira o lugar com os olhos.
— Obrigado. Permitam-me mostrar-vos a casa toda.
— Claro!
Ele nos mostra muita coisa e tanto. Também nos mostra os outros compartimentos e, por fim nos leva ao quarto onde iremos dormir. Domina-me o cansaço e a preocupação pela Bárbara, mas nada digo no momento. Já que ela parece estar um pouco mais leve e distraída.
— Bom... Este é o vosso quarto, ― diz Jefferson assim que abre a porta e entra primeiro. — Ali é a privada, caso queiram tomar um banho e... e... Não se preocupem, ninguém irá vos encontrar aqui. Instalei câmeras de segurança e um bloqueio de rastreamento. Portanto fiquem tranquilos.
— Obrigado Jefferson, não sabemos como lhe agradecer.
— O que é isso. Vocês não apareceram na minha vida por nenhum a caso. Deus sabe de tudo. Bom... Sintam-se em casa.
— Senhor Jefferson... ― O chamo quando caminha para a porta e já com a mão na maçaneta.
— Apenas Jefferson, está bom.
— Está bem. Bom.. Ann, nós vimos com a sua esposa..., ― Bárbara belisca-me discretamente e depois faz um sorriso sínico. — Ela... ela é incrível e nós... é....
— Não queremos causar problemas para sua família. ― Bárbara salienta o improviso.
— Nós vamos embora amanhã cedo. ― Faço o desfecho, mas um pouco bobo, quando a Bárbara entrelaça os seus dedos nos meus.
— Eu sei. Qualquer coisa é só me dizer. Estou aqui para ajudar.
— Obrigado.
Jefferson se retira. A retina da Bárbara me traspassa a alma assim que ela me encara, mas com certa calma e, em câmera lenta, ela solta minha mão, como se não quisesse.
— O que ia dizer, que a mulher dele não foi com a nossa cara? – Diz ela disfarçando rapidamente aquele momento de êxtase.
— Claro. Você viu como ela nos olhou e como não se importou...
— Afinal qual é o seu problema? O homem nos recebe em sua casa e você quer falar da mulher dele?
— E eu devia mentir, ou ser hipócrita?
— Ai meu Deus, você difícil. ― Ela dá-me as costas e senta-se na cama.
— Você parece cansada, – dou alguns passos e encosto-me à parede. — Por que não toma um banho e descansa um pouco?
— É, é disso mesmo que eu preciso, ― após um suspiro ela vira-se para mim. — Mas diga-me uma coisa Winnerson, por que está a me ajudar?
— Sinceramente, eu não sei.
— Isso não é uma resposta.
— Vai querer falar sobre isso agora?
— Tem razão, vou fazer banho.
Logo que ela entra na privada, soa uma leve batida na porta e a Dyane entra. Ela trazia umas roupas na mão.
— Percebi que não traziam roupas para trocar. Acho que isto vai servir, ― diz ela e coloca as sobre a cama.
— Obrigado senhora Dyane.
— De nada. E a comida estará pronta em uns... Dez minutos. Vejo-vos daqui a pouco!
— Está bem. Mais uma vez, obrigado.
Quando ela retira-se me sento sobre a cama e logo começo a pensar na mulher que se banhava. Bastava só se lembrar daquele olhar para o meu coração saltitar e criar falsas esperanças.
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Uma escolha fatal|O moço ambikano e suas paixões
Roman d'amourWinnerson Culande encontrava-se de férias na Cidade do Cabo, em África do Sul. Onde por alguma razão, uma jovem russa de nome Bárbara Kasyanov, invade o elevador no qual ele estava. Fugia da máfia. Roubara uma informação valiosa, e a máfia a queria...