Capítulo 2

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                             Alisson

A madrugada estava escura e silenciosa quando acordei com uma sede insuportável. Desci as escadas devagar, tentando não fazer barulho. Nossa casa tinha quartos separados para meninos e meninas, e eu estava sozinha na cozinha. O chão de madeira rangia sob meus pés enquanto eu seguia em direção à pia.

Foi então que ouvi um ruído. Parei, imóvel, tentando identificar de onde vinha. A sombra projetada na parede indicava que alguém estava ali também. Meu coração disparou quando vi uma figura masculina se aproximando, era Harry.

— Você me assustou – ele disse, com um sorriso tímido.

— O que está fazendo aqui?

— Eu vim beber água – respondi, ainda surpresa.

— E você?

Harry pareceu pensar por um momento.

— Não tenho certeza. Acho que não consigo dormir.

Ficamos em silêncio, ambos confusos e sonolentos. Ele desejou-me boa noite e subiu as escadas. Eu abri a geladeira, peguei uma garrafa de água gelada e enchi um copo. Enquanto bebia, me perguntei o que havia nos trazido à cozinha naquela hora da noite. Talvez o silêncio da madrugada escondesse segredos que nem mesmo nós lembrávamos.

Sinto um toque suave e insistente no meu ombro, puxando-me lentamente do sono. Abro os olhos com dificuldade e vejo o rosto preocupado de Marie, seus cabelos cacheados emoldurando sua expressão tensa.

— O que aconteceu? – murmuro, ainda grogue.

— Mason encontrou uma cachoeira – diz Marie, sua voz baixa mas urgente.

Levanto-me, sentindo uma estranha sensação de agonia que não estava presente na noite anterior. Algo no ar parece diferente, carregado de uma tensão que me deixa desconfortável.

— Por que ele saiu? – pergunto, tentando entender.

Marie suspirou.

— Ele não conseguiu dormir e saiu antes de todos acordarem. Agora estamos esperando você para decidir o que fazer.

Assinto lentamente, ainda tentando processar as informações. Marie me entrega uma escova de dentes, envolta em um pequeno pacote plástico. Ela está vestindo uma camisa larga de manga comprida, que parece pertencer a um homem, e calças de moletom folgadas. A roupa aumenta sua aparência desolada, mas também sugere uma tentativa de conforto.

— Encontramos uma bolsa com o nome de cada um em cada escova – explica Marie rapidamente. — Nós, meninas, já fervemos água para garantir que estão limpas.

Eu apenas aceno, aceitando a escova de dentes. As palavras de Marie mal penetram na névoa do meu cérebro enquanto caminho até o banheiro. A tensão e a sensação de urgência ainda estão presentes, mas sinto-me mais funcional depois de alguns segundos de água fria no rosto.

O banheiro, com suas paredes de azulejos brancos ligeiramente amarelados, oferece um breve refúgio. Olho meu reflexo no espelho. Meus olhos castanhos escuros ainda estão turvos de sono, mas há uma determinação crescente. Meu cabelo está uma bagunça, ainda molhado e desgrenhado do banho da noite anterior. Minha pele clara, com um leve tom pardo, parece ainda mais pálida sob a luz fria do banheiro.

Escovo os dentes rapidamente, deixando a sensação refrescante da menta tomar conta. O gesto simples de higiene ajuda a centrar minha mente, a trazer uma sensação de normalidade a uma situação que está longe de ser normal.

Volto para a sala, onde todos estão reunidos. A atmosfera está carregada de ansiedade e incerteza, mas também há uma faísca de esperança. Talvez a cachoeira seja uma pista, ou pelo menos uma fonte de água limpa e uma oportunidade de explorar mais o nosso entorno.

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