Capítulo sete

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— O que a gente teria feito? — pergunto olhando ao redor como se algo pudesse me dar alguma ideia

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— O que a gente teria feito? — pergunto olhando ao redor como se algo pudesse me dar alguma ideia.

— A gente teria ido fumar maconha naquele matagal no topo do Morro do Pega Unha. Eu não tenho maconha, mas tenho meu cigarro e se...

Vejo a mão de Benhur indo para o bolso de trás da calça e ajo por impulso me jogando contra ele. Com uma mão tento imobilizar seu pulso e com a outra me estico para pegar eu mesma aquele maço fedorento e detestável.

Benhur não luta contra, nem mesmo resiste, acho que minha atitude dramática o deixou sem reação. Meu rosto está colado em seu peito e seu perfume faz minha pele suar.

— Eu não invadi esse parquinho a troco de nada. Ninguém vai fumar, entendeu?

Ergo meu rosto e cometo um erro terrível, porque Benhur já me encara de volta e está tão perto que sua respiração quente faz meus olhos piscarem repetidamente.

Me afasto com um passo rápido e exagerado, colocando os cigarros dentro da minha bolsa.

Benhur ainda não se moveu. Do jeito que o deixei ele ficou. Respirando profunda e controladamente.

Não sei o que está acontecendo entre nós, mas é quase como se eu pudesse sentir a estática no ar ao nosso redor.

— Preciso me sentar um pouco — ele fala enquanto caminha para o lado da igreja, onde há uma pequena praça com mais bancos por entre flamboyants e vista para o mar.

As luzes de Itapoá ondulam ao longe, como vagalumes, alheios à nossa observação.

— Hoje foi tão bom que até esqueci o que vim fazer na cidade — confesso.

— Fico feliz de ter ajudado — Benhur responde com um tom duro, quase impessoal. Olho para ele e ele olha a escuridão à nossa frente. Me sinto culpada imediatamente, nem sei pelo quê. Mas por hábito aprendi que estou sempre incomodando ou agindo de maneira inadequada o tempo todo, mesmo que isso não seja verdade verdadeira, é a verdade que meu cérebro decide acreditar.

Murcho no banco, me encolhendo em mim mesma. A brisa fresca parece me cortar com pequenos lembretes de que nada nunca é bom para mim. Não por tempo o suficiente.

Eu não queria que essa noite acabasse, mas talvez ela já tenha chegado ao fim.

— Vem cá. — Benhur fala me puxando pelo ombro. Ele esfrega a palma quente pelo meu braço como se meu problema fosse o frio. Mas aceito seu carinho porque, também por hábito, me acostumei com migalhas.

Aconchego meu corpo junto ao dele, e encaramos a paisagem sem dizer mais nada por um bom tempo. Meu corpo derrete diante do calor de Benhur, sinto meus músculos moles e meus ossos leves.

Ergo o rosto para ver as sardas castanhas salpicando todo o seu rosto bonito e angulado. O cabelo cai pesado em cachos largos por cima da testa e a boca volumosa se contorce nervosamente enquanto ele morde o interior das bochechas.

Me remexo inquieta e me coloco de pé.

Estico a mão para ele, determinada a encerrar a noite oficialmente, antes que as coisas acabem mal de alguma maneira.

— Vem. Quando a gente era adolescente a gente voltava pra casa antes das 2 da manhã.

— Ainda estamos agindo como eles? — ele pergunta com uma faísca no olhar.

Aceno confirmando.

Ele alcança minha mão e me puxa para perto, ainda sentado, abre as pernas e me posiciona entre elas. Meu coração ameaça sair pela boca.

Brinco com a barra da saia com a mão livre para reprimir o impulso de tocar em Benhur.

Ele prolonga o momento sem dizer nada, mas seus olhos pulam dos meus para meus lábios e toda essa tensão pesa minha respiração. Meu peito começa a subir e descer com cada vez mais dificuldade, a ponto de que o movimento chama tanto a atenção de Benhur que ele fita meu busto próximo ao seu rosto.

Sua mandíbula se trava e suas mãos de repente estão atrás de meus joelhos, num carinho tão sutil que chego a fraquejar.

Desisto de me privar e permito que meus dedos se afundem nos cabelos negros de fios grossos e pesados. Sorrio pela maneira entregue com que suas pálpebras cerram quando meus dedos percorrem seu couro cabeludo.

Os lábios entreabertos, a respiração saindo e entrando em um fio acelerado. Benhur é lindo, por fora e por dentro, e se eu não beijar ele agora vou me arrepender pelo resto da vida.

— Ah foda-se essa merda — Benhur murmura antes de segurar minha nuca com firmeza e me curvar em sua direção. Minha boca já está entreaberta pronta para recebê-lo, e a expectativa me faz tremer da cabeça aos pés.

Seus lábios capturam os meus e ficamos assim por longos segundos, testando o toque, esperando para ver se alguém pretende desistir. Mas quanto mais tempo nossas bocas passam em contato, mais eu quero tê-lo para mim. E logo minhas mãos se ocupam em cafunés não solicitados e a boca de Benhur se abre um pouco mais, me dando espaço, fazendo um pedido silencioso.

Nossas línguas se descobrem e meu corpo inteiro parece formigar, sinto o calor se espalhando por meus ouvidos e meus músculos pélvicos se contraindo.

Ele envolve os braços ao meu redor e eu não estou satisfeita. Sem interromper o beijo, passo uma perna de cada vez por cima de Benhur, o prendendo entre meus joelhos. Ele suspira e me aperta com brutalidade, grunhindo em minha boca, e juro por deus que ninguém nunca me beijou com tanta vontade assim antes.

Acho que por um momento eu me esqueço onde estou e até quem sou. A única coisa que parece fazer sentido é a boca de Benhur contra a minha. O gosto amargo das cervejas que tomou. Os dentes alinhados que mordiscam a pele fina de meus lábios. A respiração quente resvalando em minha pele e seu aperto forte prendendo meu peito contra o seu. Nossos corações tamborilando sem sincronia, mas na mesma velocidade.

Uma mão de Benhur desliza por minha coluna e repousa em minha lombar, gosto demais da maneira que seus dedos se espalham, que se acomodam quentes e firmes para me manter no lugar.

A mão livre vem para meu pescoço, me acaricia no ponto sensível perto do maxilar e me sinto amortecida.

— Para, Benhur — peço ofegante. — Para.

Ele me olha atônito enquanto minhas pálpebras lutam para permanecerem abertas.

— Para de me beijar como se a gente tivesse quinze anos. Me beija como o homem que tu é — digo com a voz estrangulada de desejo.

 Me beija como o homem que tu é — digo com a voz estrangulada de desejo

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Meu deus, eu vivi por esse momento. Minha religião é o Benhur, eu ouvi um amém?

Agora foram quatroOnde histórias criam vida. Descubra agora