strange happenings [L.S]

one

Gotículas de água caíam e deslizavam vagamente pelo vidro embaçado do carro. O ruído das gotas eclodindo contra o teto do automóvel era o som que dominava o ambiente, tendo o barulho baixinho do motor e a chuva caindo do lado de fora como fundo.

Era uma chuva intensa, mas sem trovões. Ainda eram duas horas da tarde mas por conta do tempo, o céu estava nublado e tudo estava parcialmente escuro. Harry suspirou, sentindo os pelos dos seus braços se arrepiarem pelo frio. Quando saiu do aeroporto em uma cidade vizinha, a temperatura estava bem mais alta.

Desmond, ao notar o desconforto do filho com a temperatura, aumentou os graus do ar condicionado. Harry observava os campos verdes passarem do lado de fora, as árvores com folhas molhadas, que balançavam com o vento fraco. Olhava para tudo isso com um certo interesse, já que faziam tantos anos que não passava por ali que nem mesmo se lembrava de nada.

Até o momento de sua vida, Harry sempre morou com sua mãe, Anne Styles. A história dela com o seu pai é longa, mas por ora basta dizer que eles se separaram quando Harry ainda tinha cinco anos de idade, Anne o levou para morar com ela em Londres e seu pai continuou a morar naquela cidade pequena, que era o destino atual de Harry. Guildford. Uma cidade relativamente pequena, no interior da Inglaterra. Totalmente diferente de Londres.

Quando se divorciaram, o juiz decidiu que Harry viveria com a mãe, e seu pai poderia o visitar quando quisesse ao longo dos anos. Por ser longe, Desmond costumava ir ver o filho no máximo cinco vezes ao ano, desde os cinco anos de idade, Harry nunca voltou para Guildford. Agora com dezoito anos, ele decidiu que era o momento perfeito para passar um tempo com o seu pai, no último ano do ensino médio.

Apesar de não terem uma relação perfeita por conta da falta de contato, Harry se dava muito bem com o pai, por isso ele esperava não ter nenhum problema de convivência com Desmond ao longo deste ano.

Alguns minutos depois, Harry viu casas com a estrutura típica de uma cidade pequena na Europa de modo geral, pessoas andando com guarda chuva e carros passando do lado. Haviam chegado ao seu destino afinal.

Desmond é o delegado da cidade, por isso sua renda é de uma pessoa comum. Era uma casa boa e simples ao mesmo tempo, nada de grandioso.

- Guildford não parece ser o tipo de lugar que você gostaria de passar o resto da sua vida. - Desmond comentou ao estacionar o carro em frente a casa. - Você se parece muito com sua mãe sobre questão de personalidade. Mas espero que você goste e aproveite o tempo em que ficar aqui. - sorriu por fim.

- Eu sei que eu vou gostar, pai. - Harry murmurou, mesmo não tendo certeza disso. Era tão estranho pensar em morar em uma cidade pequena quando ele passou sua vida inteira morando em Londres.

Ele pensava não quão podiam ser mal desenvolvidas as mentes daquelas pessoas. Ele sabia muito bem que no interior é onde estava mais concentradas as pessoas conservadoras, mentes muito fechadas. Harry foi criado por uma mãe maravilhosa e uma família incrível, sempre foi livre para ser quem ele é teve uma boa educação.

Seu pai também nunca foi o oposto. Desmond também é uma pessoa incrível, nunca foi conservador. Quando Harry assumiu ser gay, primeiramente para os seus pais, foi um alívio saber que eles sempre o apoiariam. Agora ele tinha medo de se deparar com o que ele mais temia: a homofobia. Não que ele estivesse impune disso em Londres, mas agora era um território desconhecido.

Harry abriu a porta e saiu rapidamente do carro, em uma tentativa de não se molhar muito. A chuva já estava bem mais amena agora, então Desmond tirou as duas malas de Harry do porta malas e as levou para a varanda da casa, onde o cacheado já o aguardava.

Ao entrar na casa, ficou com pena de molhar o carpete da sala. A última vez em que esteve ali ainda era muito novo, não se lembrava de absolutamente nada. Por isso, Desmond o guiou pela casa, o mostrando onde ficava a cozinha e o seu quarto, que ficava no segundo andar, no mesmo corredor que o seu. No entanto, eles ficavam muito distantes um do outro, o que era algo bom. Harry gostava de ter seus momentos de total privacidade.