Ele voltou

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Ane Duarte

Danso.

Tem sido dias difíceis, o peito aperta e o medo invade meus pensamentos. Eu venho acordando sem direção, sem saber o que vai ser de nós. Eu nunca imaginei que fosse te conhecer tão cedo. Eu não te idealizava. Eu não sonhava com você. Eu não planejei a sua chegada e é justamente essa chegada que tem me deixado tão angustiada.

Me perdoa por não ser a mãe ideal. Por não ser a mãe convencional de comercial de margarina. Por não ser a mãe que tem um emprego decente. Por não ser a mãe que tem uma família estruturada. Por ser a mãe que dorme com homens por dinheiro. Me perdoa.

A única coisa que eu posso te dizer é que eu sou uma eterna tentante. Eu posso tentar ser a mãe ideal. Posso tentar ser a mãe do comercial. Posso tentar ser a mãe com um emprego decente aos olhos da sociedade. Posso tentar ser a mãe que te dê uma família estruturada. Posso tentar um monte de coisas.

Eu só não posso te garantir que eu vou conseguir ser um monte de coisa.

Ainda não te amo incondicionalmente igual aquelas mães que dizem que sentem um sentimento imenso após ouvirem o coraçãozinho pela primeira vez. Mas eu posso te contar que a nossa parceria tende a ser genuína e no tempo certo. Juntos podemos construir um amor.

Depois que eu descobri quem é você, as coisas melhoraram um pouquinho, vai, eu confesso. Tenho conversado tanto com você nos últimos dias que agora finalmente não me sinto tão louca por falar em voz alta, já que tem um serzinho me ouvindo e ele se chama Danso.

Danso é o nome que o seu avô gostava. Ele dizia que se tivesse um filho homem ele se chamaria Danso. Ele e a sua avó tinham um acordo... se fosse menina, ela escolheria e se fosse menino, ele escolheria. Mas o seu avô tinhoso do jeito que era, sempre deixou claro que meu nome era pra ser Nala. Ele gostava de Nala e desde bem pequena ele nunca aceitou sua avó ter escolhido Ane.

Ele era nigeriano, mas veio morar no Brasil depois de ter perdido seus bisavós num acidente de carro. Hoje ele descansa ao lado deles.

A Nigéria é um país do continente africano e um dos meus maiores sonhos é conhecer minhas raízes. Agora que você está prestes a chegar, talvez realizaremos esse sonho juntos. Quem sabe um dia? Sonhar é bom.

— Sonhar é bom mesmo, realizar melhor ainda. - Ela soltou uma gargalhada.

Rapidamente olhei pra porta do quarto.

Clara sempre me dando susto.

— Você me ouviu falando com o Danso? - Dei risada.

— Eu ouvi um pedacinho. - Ela piscou fazendo um gesto com a mão.

— Com certeza eu estava parecendo uma louca.

— Sim, você estava. - Ela riu fraco.

— Não tenho dúvidas. - Rimos.

— Mas olha, gostei de ver você conversando com o bebê. - Ela sorriu. - Já está se acostumando com a ideia, viu?! Eu te disse que aos poucos tudo vai se alinhando.

— Eu tenho tentado.

— E está conseguindo.

— Agora vamos descer, pois o homem de semana passada te espera e deixando claro a preferência dele em ser atendido por você.

Na mesma hora se formou um ponto de interrogação na minha testa.

Como assim o homem de semana passada? Eu pensei que ele não vinha mais.

Eu podia jurar que ele não colocaria mais os pés aqui. Não senti ele muito a vontade na semana passada.

— Ele realmente está aí? - Levantei da penteadeira e ajeitei meu vestido.

— Sim, já faz alguns minutos que ele e o amigo chegaram.

— Ah, o amigo. Eu lembro desse amigo. Cheguei a atender os dois juntos e logo associei ele a você.

— Não sei se já comentei, mas o amigo dele compra praticamente a noite inteira comigo. Ele sempre está por aqui.

— Davi, certo? — Clara balançou a cabeça confirmando.

— Isso. hoje ele chegou me perguntando se eu conhecia alguma Ane, porque o amigo dele estava interessado em conversar com você. Me controlei pra não soltar uma risada, pois lembrei que sempre caímos em situações assim.

— Pior que é verdade. - Rimos. - Da outra vez foram os dois irmãos e as esposas quase arrancaram os nossos cabelos.

— Bom, eu não posso te dizer nada em relação ao amigo, mas o Davi me disse que não é casado.

— Então tecnicamente seus cabelos estão salvos?

— Isso, garota! - Ela riu.

— Que safada! - Dei risada.

— Que nada! - Ela piscou. - Vem, Ane, vamos descer.

Dei o último toque no meu cabelo e descemos.

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