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- Ei - seu ombro repousava no batente da minha porta de entrada, ela parecia despojada e visivelmente alterada

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- Ei - seu ombro repousava no batente da minha porta de entrada, ela parecia despojada e visivelmente alterada. Jeans largos, regata vermelha deteriorada Y&T e um All Star vermelho plataforma. Hot. Seus olhos estavam derrubados, os lábios se separavam em um longo e pretensioso sorriso -, trouxe isso - Billie empurrou uma garrada de Jack Daniel's Fire contra meu peito. Conveniente.

- Você não está bêbada o suficiente, ã? - questiono, deixando um sutil tom de provocação banhar minha fala.

Billie revirou seus olhos e cruzou o espaço entreaberto, adentrando meu apartamento - Três minutos e eu já me arrependi - ela diz, se referindo a estar aqui, provavelmente. Eu a segui com o olhar. Os bolsos do jeans detinham uma ilustração de caveira em cada lado. Suas mãos procuravam seus cabelos, montando um coque descuidado enquanto seus pés desbravavam o lugar. Em pouco tempo, ela alcançou a sala e a ouvi desmontar sob o sofá. 

Eu fechei minha porta e refiz seu caminho, cortando meus passos perto o suficiente para encarar sua figura desleixada - Com ou sem gelo? - pergunto.

- Preciso apenas da garrafa - sua mão se estendeu e eu completei a aproximação, sentando-me no chão, imediatamente abaixo dela, mas ao seu lado. Meu dorso descansa contra o sofá e meu ombro direito roça em sua perna.

Eu entreguei a garrafa e ela não demorou a abri-la, dedos hábeis se livravam da tampa quando Billie cruzava as pernas uma sobre a outra.

- Antes de você ligar, eu estava tentando mexer mas não consigo organizar minhas ideias - lamento.

- Onde está? - ela pergunta, levando o gargalo da garrafa até a boca e aproveitando um longo gole. E há no mundo alguém que acredite que essa mulher não bebe? 

Decidi não provocá-la sobre o álcool e me limitei a acenar para os papéis espalhados perto de mim. William estava por ali, alguns rabiscos meus compunham a página irmã daquela que entreguei a ela mais cedo. Eu senti seus olhos queimarem meus ombros e alguns segundos depois, ouvi ela se remexer para me alcançar, no chão.

- Eu pensei em algo no caminho - a voz dela preenche o ambiente assim que ela se senta ao meu lado - Algo como... - em seu pequeno delay, seu corpo girava em minha direção. Me permiti observar seus movimentos, até mesmo a maneira como seus dedos agarravam a garrafa de Whisky, tão forte que suas pontas estavam brancas - No matter what we breed - murmurou, seus olhos brilhavam em tons de... luxúria, talvez? - We still are made of greed - concluiu e eu percebi que era minha vez de falar. Como? Eu também não sei.

Eu estico minhas mãos até meu caderno e o agarro, pousando-o aberto em meu colo. Com a caneta, transcrevo suas palavras - No matter what we breed, we still are made of greed - eu repito, deixando um sorriso singelo ganhar meus lábios.

- Don't wanna let you down - Billie continuou mas eu a interrompi, rompendo seus dizeres:

- But i am hell bound - meus olhos deixam minha folha não pautada para encontrar as duas globes azúis. Ela também sorria, um sorriso que, embora brilhante por seus dentes poderosamente alinhados e bem tratados, também era escuro, obscuro. Eu conseguia enxergar cada célula de seu rosto, se quisesse. Eu o mapeei com cuidado, guardando cada centímetro até parar, novamente, em seus olhos. Sua imensidão me abraçava e me tomava, como as ondas do mar. Engoli em seco, sentindo meu moletom comprimir meu corpo.

- When you feel my heat - os dedos dela brincavam com a boca do Jack, eram movimentos tão demorados que eu os sentia como descargas elétricas dentro das minhas calças. Perto demais, vocês estão perto demais - Look into my eyes - a filha da mãe parecia ter programado.

Jane's Midnight GardenOnde histórias criam vida. Descubra agora