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Nova York, Estados Unidos da AméricaDois meses depois

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Nova York, Estados Unidos da América
Dois meses depois.

— Billie — se eu me esforçasse muito, era capaz de ouvir a voz de Finneas me chamando — Billie — ele repetiu. Eu pisquei algumas vezes e guiei meus olhos até sua figura, projetada no grande espelho a minha frente. Ele estava alguns passos atrás — Eles estão na quarta música, devemos entrar em breve — sua expressão era gentil e sua voz cuidadosa. Ele me tratou assim durante os últimos dois meses, como se estivesse pisando em ovos.

Eu assenti devagar, silenciosamente garantindo-o que me recordava de que seríamos os convidados da próxima canção. No backstage do Global Citizen, eu quase conseguia sentir as paredes do container onde eu estava tremerem com a vibração do público que acompanhava o setlist do Coldplay nessa noite.

Particularmente, eu não conseguia acreditar que Chris Martin havia topado a sugestão de que eu e meu irmão compartilhássemos o palco com o grupo. Cantar aquela música, hoje, seria como me despir diante de toda a cidade de Nova York.

Eu achei que seria justo encerrar nossa história onde ela começou. Eu achei justo cantar para ela, onde quer que ela estivesse.

Então, Chris Martin me salvou quando nos aceitou.

Finneas já havia voltado a me deixar sozinha. Ele sabia que não ganharia respostas em voz e que não era sábio insistir, não comigo. Eu não funciono bem sob pressão. Toda a minha equipe tem respeitado isso. Nós falamos o necessário, eu sou sucinta e muito objetiva. É sim e não, não há meio termo. Em grande parte do tempo, eu estou sozinha. Eu preciso estar sozinha. Tem sido assim.

Encarar meu nome escrito, em letras desgrenhadas, sobre aquele envelope amassado está sendo tudo o que estou fazendo desde que o recebi, nessa manhã. Leonard me entregou, em mãos, quando eu sequer havia terminado meu suco de Melancia. Desde então, eu estou carregando ele para todos os lados, incapaz de abri-lo. Meus dedos não chegaram nem perto do adesivo que o selava. Que filha da mãe molenga, é o que eu sou.

Me pareceu ironia do destino que as respostas que eu tanto esperei chegassem no dia em que eu decidi deixá-la ir. Isso tem me consumido viva. É como se meu corpo estivesse sendo tomado por vermes. Cada órgão dentro de mim está podre, sendo mastigado.

Eu engulo em seco, reprimindo as primeiras lágrimas que ameaçam saltar em meus olhos. Não agora, eu penso. Eu esperei durante todo o dia, consigo segurar a barra por mais alguns minutos.

Conviver com a frustração de não conseguir arrancá-la dos meus dias tem sido contundente. Eu estou contando, são 63 dias sendo socada na cabeça, repetidamente, como um lutador miserável que sequer teve a chance de revidar. A ausência que Heather deixou em mim é pungente e as memórias dos meus últimos dias com ela me arruinam.

Vencida, eu me levantanto da cadeira dobrável onde estou. Dou uma última encarada em sua letra destacando-se no envelope e giro, dando-lhe as costas. É agora, minha cabeça diz, enquanto minhas pernadas me conduzem por detrás dos bastidores.

Jane's Midnight GardenOnde histórias criam vida. Descubra agora