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Obviamente eu havia reconhecido Claudia Sulewski e Brynn Hines mas eu não queria tocar naquele assunto

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Obviamente eu havia reconhecido Claudia Sulewski e Brynn Hines mas eu não queria tocar naquele assunto. Não é como se o High School fosse uma lembrança agradável. Então, quando eu ouvi Claudia questionar, meu estômago embrulhou. Tentei disfarçar, mas eu sabia que Eilish havia notado meu desconforto. Ela me observava atentamente desde que eu cheguei em sua mesa. Que mulher irritante.

- Um, sim... - respondi, brincando com a borda do meu copo de shot vazio, tentando me distrair. Estava claro em meu tom que não era um assunto que eu gostaria de prosseguir.

- Sim, eu lembro de você. Você jogava basquete. - Brynn completou.

- Scottie era boa pra caralho no basquete - Connor se gabou e eu o encarei, num clamor mental para que ele encerre a conversa.

- Afinal, é Heather ou Scottie? - ela perguntou.

Embora seus olhos azuis embriagantes fossem tudo o que eu não queria encarar naquele momento, eu sabia que ela havia salvado meu pescoço. Sentindo meu desgosto em falar sobre minha vida na escola, Billie desviou as atenções. Então, sim, eu a encarei. Estou há alguns segundos fazendo isso agora. As palavras engasgadas em minha garganta, seu olhar me faz processá-las três vezes mais.

- Heather Leighton Scott - encolho os ombros, virando o rosto ao responder. Preciso desviar de seus olhos - mas todos me chamam de Scottie.

- Scottie então - Ela diz, sua fala despencando em volume, tornando seu tom mais grave. É estranho, mas ouvir meu nome em sua voz soa centenas de vezes mais atrativo.

Eu coço a garganta. Estava cada vez mais difícil de respirar por aqui e eu sinto meu jeans menor em meu corpo. Levando meu rosto até Travis, eu murmuro em seu ouvido: vou fumar, estou inquieta.

Consigo ouvir seu riso nasal, debochado. O filho da puta provavelmente notou, Hoffman era muito bom em ler minha postura. 

- Ficaremos bem - ele diz.

Não o respondi mais, apenas levantei de meu lugar, implorando a um Deus que eu nem acreditava para que minhas calças não estivessem vergonhosamente chamativas. Sequer me preocupei em dar explicações à mesa, dei as costas e caminhei a passos largos para a entrada do pub, um ar fresco nunca seria tão bem recebido.

Los Angeles estava ventilada àquelas alturas, o vento batia contra minha nuca. Estava gostoso, perfeito para um cigarro. Na verdade, eu queria um baseado, mas estava sem aquela noite.

- Por que caralhos você foge de mim? - ouço sua voz no ambiente, um arrepio percorreu minha coluna. A fumaça que eu prendia em meus pulmões invade o ar pelo susto.

- Por que caralhos você não me deixa em paz? - questiono, surpreendida. Cacete, precisava me assustar?

- Você é escrota com todas as mulheres com quem esbarra? - insistiu, se pondo exatamente ao meu lado. Eu era relativamente mais alta que ela mas conseguia enxergar seus ombros à minha direita, de canto de olho, e conseguia sentir sua presença - agora entendo o porquê de seus shows serem sempre tão imersivos, as pessoas são tomadas por ela

Dou mais um trago em meu cigarro antes de retrucar, a resposta afiada estava na ponta da minha língua e isso fez com que um sorriso arrogante brincasse em meus lábios. Diante do meu silêncio, ela prosseguiu: É isso, você gosta de nos levar a crer que você é uma grande otária?

Então, minhas sobrancelhas arquearam e meu rosto voltou-se para encontrar seu par de olhos. Minha boca liberando aos poucos a fumaça inalada: Em primeiro lugar, eu não esbarrei em você. Você empurrou sua companhia goela abaixo em todos os lugares em que eu estive desde que nos conhecemos - quando terminei, eu deixei que a ponta do cigarro despencasse e esmaguei com meu coturno.

Billie revirou seus olhos, com gosto.

- Ah, Heather, vá se foder - seus braços se cruzaram abaixo de seus peitos, o tom seco em sua voz -, não seja tão pretensiosa. Eu estou querendo me aproximar, ser uma amiga já que vamos trabalhar juntas - completou.

- Não, - eu girei em meus calcanhares, pondo meu corpo frente a frente ao seu - você não quer, Billie.

A loira não respondeu, pareceu analisar meticulosamente cada célula disposta em meu rosto. Em algum lapso de tempo podia, até, jurar que eu a peguei fitando meus lábios, mas ela tratou de camuflar sua postura. Logo estava mirando o sítio onde estávamos, varrendo a rua como se procurasse por algo. Eu a acompanhei e entendi, Billie buscava por paparazzis.

- Você vive em Los Angeles, eventualmente há algum onde seus olhos não são capazes de chegar - eu disse, enfiando o maço de meus cigarros no bolso da grande jaqueta jeans que trazia em mim.

- Eu nunca gostei do preço que pago para viver do que eu amo - agora, ela soava triste -, acho que é meu dever dizer algo assim para alguém que eu acredito ter grandes chances de chegar tão alto quanto eu cheguei.

Soltei um riso recatado, encolhendo meus ombros e guardando minhas mãos nos bolsos de minhas calças. Eu estava envergonhada, mas não era um sentimento  ruim.  Era... bom ouvi-la confessar sua crença em mim.

- Não sou eu quem seria capaz de medir o que você passou, mas eu mudaria isso, se estivesse em minhas mãos - admito, sincera.

- Sou feliz por ter tudo o que eu tenho, só... - Eilish fez uma pausa, em nenhum momento nós nos olhávamos. Agora nossos olhos se repeliam, buscavam desesperados se manter fixos em pontos distantes e aleatórios na rua do bairro. Compartilhávamos o espaço, mas nossos corpos pareciam não acreditar um no outro o suficiente para se encarar - gostaria que acabasse no relacionamento que eu tenho com quem me ama. Não queria ser sempre perfurada, como se vivesse em paredes de vidros e toda e qualquer luz pudesse me ultrapassar.

Bom, se me questionassem enquanto eu estava compondo Atlantis horas atrás, se eu me via, um dia, ouvindo um relato íntimo de Billie Eilish, eu afirmaria: "Cara, troque o seu cara das drogas, esse pó não está te fazendo bem", mas aqui estou eu, numa madrugada assimilando uma pequena parte da imensidão que é vivenciada apenas por ela. Eu poderia facilmente ter a skin que ela citou, de otária. Eu gosto e quero que todos me vejam assim, mas ela, ali nessa ocasião, não.

- Podemos compor juntas um dia - ouço minha própria voz no ar, um sussurro verdadeiro e involuntario.

- Sim, nós vamos. Comece indo até a reunião amanhã.

Com isso, eu ouvi sua movimentação para tomar seu caminho, retornando ao TRM e ganhando cada vez mais distância de mim. Eu sempre ouvi falar nela. E quem não? Não é necessário ser californiano ou até mesmo americano para conhecer Billie Eilish O'Connell. Eu sempre soube que ela era problema e também nunca me preocupei, porque, francamente, nunca pensei em tê-la ao meu redor. Entretanto, também nunca pensei em tê-la tão exposta e tão acessível quanto ela esteve nesses minutos em uma arejada esquina de Highland Park. Me vejo mais uma vez naquela noite fazendo um clamor mental. Dessa vez, clamo para não me permitir ter paredes de vidros para Billie. E, claro, nunca encarar sua dupla de globos assustadoramente azuis por mais de 3 segundos. Ou você realmente acha que apenas álcool e drogas são capaz de te entorpecer? 


Jane's Midnight GardenOnde histórias criam vida. Descubra agora