Harry estava tão mal que não aguentaria ir atrás de Hermione. Mandou uma mensagem avisando que não devia esperá-lo para ir embora e chamou um táxi, ainda tonto ao descer o elevador até a saída privativa, na lateral do prédio oposta a que entrou. Já dentro do carro, voltou a reviver tudo, cada imagem da noite o acertando como um novo golpe no estômago e ele deveria estar tão verde quanto se sentia, já que o motorista resmungou algo sobre adolescentes idiotas sempre vomitarem em seu carro e abriu as janelas de trás. Ao lembrar de Dragon, furioso, lhe arremessando suas roupas, finalmente conseguiu se lembrar de onde o conhecia: era o mesmo loiro que lhe jogou um livro na cara ainda naquela semana… Muito bom.
Pagou o táxi de forma automática e nem conferiu se o troco estava certo, apenas queria chegar em casa, deitar em sua cama e, sei lá, chorar? Nem sabia o que sentia, um misto de vontade de se jogar da janela e vomitar mais um pouco, talvez.
Abrir a porta e encontrar Sirius sentado no sofá, casualmente de cuecas e uma larga camiseta preta e, ainda assim, parecendo um lorde ao tomar seu chá com leite foi a luz do fim do túnel para Harry. Ouviu Sirius perguntar algo sobre sua noite, mas o som parecia distante e ele apenas se sentou ao lado do padrinho e o abraçou, pegando o homem de surpresa.
- Ei, Harry… Garoto… Tá tudo bem com você?! O que houve?!
Harry tentou falar, mas não conseguiu. Apenas balançou a cabeça em um não, na esperança de que o padrinho entendesse. Sirius estava começando a se desesperar um pouco com o menino que o abraçava e chorava em seu ombro, quando viu um sonolento Remus descendo as escadas.
- Harry chegou? - perguntou, em meio a um bocejo.
- Remus, pelo amor dos Deuses, me ajuda aqui! - sussurrou, apontando para um Harry encolhido em seus braços. Remus arregalou os olhos e correu até eles, agora totalmente acordado.
- Jesus, o que aconteceu com ele?!
- Não sei, homem! Ele não diz, como é que eu vou saber?! - Sirius estava muito, muito nervoso. A prisão não era exatamente uma escola de "como criar seu afilhado", não fazia a mínima ideia do que fazer e Harry não estava ajudando.
Remus respirou fundo e buscou um chocolate no pote de doces que deixava na sala, então se sentou ao lado de Harry, acariciando os cabelos revoltos do sobrinho.
- Harry, se você não quiser falar o que houve, tudo bem, mas precisamos saber se você está bem, ao menos fisicamente… Se precisamos chamar uma ambulância ou algo assim. Pode pelo menos nos dizer isso?
Harry precisou respirar fundo três vezes antes de se afastar de Sirius e encarar Lupin, que o olhou com preocupação.
- Eu… Eu estou bem - sua voz estava quase falhando, mas ele respirou fundo novamente e repetiu a frase, com mais firmeza. Estava tendo uma crise de ansiedade bêbado, era difícil não parecer miserável.
Remus sorriu para ele com tristeza e o ofereceu um chocolate, como fez tantas vezes durante sua infância, quando Harry sentia falta dos pais ou caia de algum lugar e se machucava.
"Chocolate cura tristeza", era o que o homem costumava dizer.
- Não, Harry, você não está. Mas vai ficar - Remus então o abraçou e Harry sentiu as lágrimas voltarem, silenciosas, a seu rosto.
Não quis conversar e seus tios respeitaram seu silêncio. Acabou deitando no sofá, a cabeça no colo de Sirius e os pés no de Remus. Os dois repararam na marca em seu ombro quando ele se virou e trocaram olhares alarmados, mas tiveram medo de falar alguma coisa e piorar a situação. E assim, com as mãos de Sirius, hesitantes, acariciando seus cabelos, ele pegou no sono, ainda sem acreditar em tudo o que tinha acontecido.
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Roda da fortuna
FanfictionNão existe nada mais chato ou deprimente do que se estar sozinho em uma sociedade onde todos têm sua alma gêmea, literalmente. Harry Potter, um estudante de direito perdido nos dilemas da própria existência, vive sob a constante pressão de quando e...