Prólogo.

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Quando Harry fecha os olhos, consegue enxergar os olhos azuis de Louis cheios de medo e o seu cabelo liso castanho claro caindo sobre sua testa. Consegue ver nitidamente suas pequenas orelhas num tom avermelhado pelo nervosismo, suas mãos delicadas entrelaçadas uma na outra. Ele estava assim em 10 de outubro de 2004 quando lhe disse: "Eu te amo" pela primeira vez.

Agora quando o médico abre os olhos, enxerga Louis em sua frente, seus olhos azuis cheios de medo, o seu cabelo liso castanho com alguns fios brancos caindo sobre a testa, suas pequenas orelhas num tom avermelhado pela raiva, suas mãos delicadas apoiadas no balcão da nossa cozinha.

É assim que ele está quando acabara de dizer: "Eu quero o divórcio."

3 de novembro de 2016.

Parecia mais um dia normal, ele chegou do hospital de forma serena e calma. Tomou um banho demorado, colocou uma roupa confortável e fez o jantar. Gracie implorou para tomar a mamadeira deitada no sofá enquanto Nina já estava adormecida no andar de cima, normalmente Louis não concorda, mas hoje concordou. E foi então que Harry notou que alguma coisa iria acontecer.

Foi até a cozinha e marcou o dia 3 de novembro com um X vermelho.

Gracie dormiu rapidamente em seu colo, mas não queria largá-la. Estava sendo covarde demais, não queria encarar o seu marido e seus olhos azuis.

As pessoas sempre acreditam que um casamento só termina quando o amor acaba. Quando o desprezo um pelo outro supera todo o amor. Mas isso é mentira, Harry e Louis ainda se amam apesar de não fazer mais sentido.

— Eu quero o divórcio. — Ele repete com a voz cortante.

— Não, você não quer. — O médico diz e sai da cozinha, indo em direção a mesa de jantar.

Ao não escutar os passos dele seguindo-o, uma mistura de sentimentos apossam seu corpo. Uma mistura de alívio e tristeza. Ao mesmo tempo que quer ser procurado, fica aliviado que ele não o faça. Descrever seus sentimentos sobre o casamento é confuso na maioria das vezes. Ao mesmo tempo que ama seu marido, o odeia. Na mesma medida que o deseja, o despreza.

Louis.

A única coisa que sua cabeça consegue pensar durante o dia.

Louis.

Pensa em ligar, mas tem medo de ser recebido com desprezo.

Louis.

Harry sente que é capaz de ser motivo de sua raiva, mas jamais de sua indiferença.

— Me recuso a me separar. — Repete com a voz firme quando volta para a cozinha com os pratos do jantar.

— Não estou lhe pedindo permissão. Irei me separar de você. — Ele repete com a voz controlada, e o cacheado percebe como se segura para não gritar. Louis nunca foi um ômega recatado.

Desde de novo sua mãe dizia, com o afeto nítido no rosto, como Louis tinha um gênio forte. Sempre com um sorriso observando o genro sair da sua casa com uma carranca no rosto, seguido pelo seu filho desesperado atrás do menino, perguntava "Você vai aguentar este ômega?" Harry apenas desviava o olhar do seu ômega atravessando a rua e dizia com um sorriso ladino "Aguento tudo que ele quiser me dar."

Mentiu. Mentiu feio. Não aguentaria, saberia disso alguns anos depois.

— Você é tão egoísta. — Ele diz jogando os pratos fortemente na pia.

— Eu sou egoísta? — Pergunta com raiva, mas ainda com o tom controlado. — Você quer se separar na nossa primeira briga grandiosa.

Pela primeira vez o dono dos cachos vê o rosto de Louis se transformar em algo além de raiva. Não aguentava mais a raiva, mas ao ver a tristeza expressa em suas feições, sente saudade imediata da mesma. Harry sente como se tivesse arrancado sua pele. Como se o Louis na sua frente fosse o ômega de 17 anos, com sua carne exposta e com o medo em seu rosto. Como se em qualquer momento o médico fosse jogar sal em cima.

Lucky Again (l.s) - abo Onde histórias criam vida. Descubra agora