Louis jamais sentiu falta do pai. Se sentia mal por isso, mas era verdade, não lembrava dele e tudo que escutava eram as histórias da mãe e dos irmãos. Pensou que sentiria falta dele nas apresentações da escola, mas Jamie sempre estava ali e, ainda que inconscientemente, o via como pai e o tratava como pai. Connell era mais fechado, não tinha tantas responsabilidades como Jamie, mas por ser o segundo mais velho, achava que um dia teria. Julian era o seu melhor amigo, não por escolha deles mesmos, achava que teria uma tendência maior a ser amigo de Gustave por ele ser mais novo, mas ele sempre foi tão próximo de Harry que Louis não quis entrar naquela relação.Sempre amou os irmãos, mais do que amava a própria mãe. Não sabia lidar com ela e ela tampouco com ele, nunca telefonaram perguntando as novidades. Soube do divórcio pela fofoca da vizinhança e ligou para ele dando um esporro sobre abandonar seu soulmate. O ômega disse para os irmãos que não se importava com a opinião dela, mas desde a ligação repensava sua decisão. Sabia que tinha sido burrice se separar, mas ver que a própria mãe - alguém que ele sempre rotulou como burra- também achar isso, lhe fez sentir pequeno.
Com todos os impasses que teve com a mãe ao longo da vida, não entendeu quando ela foi a primeira pessoa que ele pensou em ligar quando subiu as escadas depois de escutar Harry voltar atrás da sua proposta. Se sentiu bobo ao escutar as batidas inconvenientes de Vicente na porta depois de vê-lo subir as escadas apressado, tentou ignorar, mas quando o filho ameaçou quebrar a porta caso Louis não respondesse, ele disse finalmente que estava tudo bem e, por mais que o alfa não acreditasse, decidiu deixar a mãe sozinha.
— Louis? — Escutou a voz cansada da mãe que já era idosa.
Por alguns segundos ficou em silêncio escutando o silêncio da mãe. Nunca na sua vida se arrependeu da distância que ele e a mãe naturalmente tiveram, mas imaginando ela sozinha sentada às 21h, apenas com o quadro do pai na parede lhe fez doer o coração, o suficiente para começar a chorar e a dona Abgail escutar.
— Estou preocupada, o que aconteceu?
Se sentou no chão do quarto e dobrou os joelhos. Exatamente como fazia quando era adolescente e tinha um problema fútil - que na época parecia grande - para resolver.
— Você estava certa. — Louis diz com a voz trêmula — Eu me arrependi do divórcio.
— Eu sei que sim. — Ela responde simples. Quando era criança, odiava a simplicidade das palavras da mãe. Mas agora, adulto, sentiu como se fosse tudo que ele precisava ouvir, algo simples, nada fantasioso ou grandioso. Se arrependeu de se separar, ela tinha avisado e ponto. Não iria se glorificar que estava certa e nem que o tinha avisado, apenas sabia que ele sentiria isso e aquilo não era nada de grande, apenas o destino.
Ficou algumas horas no telefone com a mãe enquanto ela cantava suas músicas preferidas e quis se despedir cantando Vienna, chorou ao ouvir a voz da mãe pedindo para ele desacelerar. Assim que desligou viu as mensagens de Vicente, explicando que as meninas estavam na cama para dormir e que deu banho nas duas. Comunicou que limpou a cozinha e preparou um chá gelado para ele e o esperava para quando ele quisesse conversar. Louis apenas trocou sua roupa, sem forças para tomar um banho e se deitou na cama, logo enviando mensagem para Vicente pedindo para ele ir até seu quarto.
Depois de alguns minutos o alfa chega com o macbook e uma xícara de chá, e se deita na cama do lado da mãe. É a característica preferida do filho, o respeito inicial do silêncio em momentos como esse, mas via os tiques de morder a bochecha e franzir o nariz demonstrando ansiedade em querer saber o que aconteceu, querer perguntar à mãe por que estava daquele jeito, mesmo sabendo que envolvia o seu pai.
Sempre foi observador por natureza. Desde pequeno observava demais e sentia inveja das irmãs por viverem no mundo delas. Via como o pai ainda amava a mãe, por mais que não soubesse como lidar com Louis, escolhendo o pior jeito: fingindo que concordava com todo o afastamento que a mãe o dava. Sentia os olhos do pai rodearem a sua casa com uma vontade de entrar e observou a primeira vez que o pai entrou, como fazia cada movimento devagar, querendo eternizar cada detalhe da casa ou como se quisesse prolongar a presença dele ali.
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Lucky Again (l.s) - abo
Teen FictionHarry e Louis se apaixonaram ainda jovens e construíram uma vida por 10 anos juntos. Com três filhos e um casamento infeliz, amigavelmente se divorciam, mas 5 anos depois começam a repensar a decisão.