CAPÍTULO 12
A voz de Shin nunca fora tão perturbadora como naquele momento, ela ressoava em sua mente como uma espécie de penitência. Após longas horas com o Uchiha contando detalhadamente como quase matou Hinata e da forma que conseguiu aniquilar o pequeno herdeiro, era só fechar os olhos para ter todas aquelas cenas lhe assombrando.
A culpa sempre foi um sentimento que atrapalhou a jovem Chino em sua vida, mesmo após ter matado um número imenso de pessoas durante a época em que atuava como mercenária, ela não conseguia agir com naturalidade, talvez por isso fizesse questão de entalhar um corte em seu braço para cada um que morreu por suas mãos. Afinal, sentir ao menos um incômodo em sua pele era o mínimo que poderia fazer. Só de lembrar, o cheiro metálico do sangue, que parecia impregnado em suas narinas, lhe embrulhava o estômago e era exatamente desta maneira que se sentiu ao imaginar o que Hinata e sua criança não nascida sofreram nas mãos Shin.Parada na entrada da caverna, enquanto olhava o sol no horizonte, Chino entalhava o mais fundo que conseguia a morte da criança Uchiha em sua pele. Ela sabia que em uma guerra era impossível nenhum inocente morrer, mas isso não era o bastante para acalentar o seu pobre coração.
— Pensei que tivesse acontecido alguma coisa, acordei e não encontrei você. — Nowaki se sentou ao lado de sua companheira.
Chino não se assustou com a aproximação sorrateira de Nowaki, eram tantos anos de convivência que a presença constante do rapaz se tornou algo normal e, até mesmo, fundamental. Mas ela nunca falaria tal coisa em voz alta.
— Não consegui dormir. — A mulher respondeu sem se dar ao trabalho de olhar para seu companheiro de equipe. Por mais impossível que parecesse, Chino tentou transparecer uma espécie de serenidade.
Com o braço apoiado em uma de suas coxas, o líquido vermelho pingava no chão. Ela nem mais sentia a kunai passando em sua carne, a dor em seu interior era maior e mais forte do que qualquer coisa, talvez fosse isso o que fizesse Chino ser uma guerreira tão implacável, nenhum ferimento que um inimigo pudesse fazer seria mais forte do que o vazio em seu interior. Sem dúvidas tal habilidade poderia a que possuía maior vantagem sobre qualquer outra, mas também era o pior dos castigos.
— Ei, pare com isso! — Nowaki puxou a Kunai das mãos de Chino e arremessou contra a parede fazendo o barulho do metal contra a superfície rígida ressoar por alguns quilômetros daquela terra morta que os cercavam.
Para Chino seria fácil quebrar o braço do seu companheiro de time antes que ele pudesse chegar a encostar em sua kunai. Entretanto, o estado emocional no qual a mulher se encontrava era de total catatonia. Ouvir cada sórdido detalhe do ataque a Uchiha Hinata fez qualquer resquício de equilíbrio se esvair de sua consciência.
— Me diga o motivo, Chino?! — Nowaki pegou o braço ferido de sua amiga e puxou para mais perto comprimindo a ferida. — Sei do seu hábito doentio de marcar suas vítimas na pele como uma forma de lembrança para nunca esquecê-las, mas você nada tem haver com as coisas que Shin fez. — O enorme homem era aquele tipo de pessoa que sempre via o copo meio cheio, nunca o contrário.
Há alguns anos, quando Chino conheceu seu companheiro de equipe mais antigo, o jeito positivo de ver o mundo a irritou profundamente. Mas as décadas de convivência fizeram com que tal hábito passasse a ser admirado e, até mesmo, necessário para a mulher. Entretanto, nem mesmo o mais piedoso olhar seria capaz de ver algo bom nela.
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Relicário
Fanfiction"Nós não conhecemos o verdadeiro valor de nossos momentos até que eles se submetam ao teste de memória." Após um acidente, muito suspeito, Hinata acorda no hospital da vila sem se recordar dos últimos quatro anos. Será que o amor de Sasuke e Hinata...