༺քʀóʟօɢօ༻

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Nada melhor do que uma bela xícara de chá enquanto se aprecia as borboletas-de-pão-com-manteiga. Ou enquanto se ouve as flores rindo e compartilhando fofocas nos jardins. Ou ainda, enquanto a fumaça branca saindo do bolo de dentro do fogão vai ao seu encontro, sorrindo, para dizer que ele está pronto. No País das Maravilhas, a verdadeira arte era transformar o encorajador e tedioso em algo chapelástico e encantador. Além do mais, como não se encantar com as lagartas falantes, os jogos de croquet e as festas de desaniversário preferidos nas esquinas dos bosques? Apenas um louco não enxergaria o quão belo era tudo aquilo.

Entretanto, nem todos os lugares do País das Maravilhas eram tão maravilhosos. E um deles era a prisão do castelo da Rainha de Copas.

Para a Rainha, era uma perda de tempo prender infratores quando era muito mais eficiente arrancar suas cabeças e nunca mais ouvir falar deles. Mas com aquela prisioneira, as coisas não podiam ser assim. Courtly Jester poderia ser uma peça importante no destino de sua amada filha, Lizzie Hearts, e contrariar o Livro das Lendas seria o último ato de vossa majestade em vida.
Por isso, mandou prendê-la em uma das celas do calabouço subterrâneo de seu castelo, para garantir que Courtly não tentaria roubar seu trono novamente ou fugir para outras terras. Ao contrário do céu rosado e da amplitude brilhante das terras maravihásticas, a prisão era fria, claustrofóbica e a luz era apenas um sonho distante.

Pelo menos, Courtly não estava sozinha. As cartas, ou melhor, os guardas Dois de Ouros e Nove de Espadas eram os responsáveis ​​por sua permanência naquele local inóspito. Eles iam entregar as três refeições diárias, mudas de roupa e possíveis atualizações de decisões da Rainha sobre sua situação deplorável - isso se ela se lembrasse de pensar na coringa. E naquele dia, não foi diferente. Era chegado o horário do almoço, Nove estava com a palma da mão esquerda bem aberta para comportar a bandeja sobre ela; ele caminhava com seu parceiro pelo corredor de pedra que levava às celas, muitos andares abaixo dos pisos de porcelana do palácio. Dois, logo ao seu lado, carregava uma tocha para iluminar o caminho e fazia algumas caretas para seu reflexo na cloche de metal que cobria a refeição.

— Você quer parar com isso? — pediu Nove observando Dois pelo canto do olho.

— Ah, vamos, se divirta um pouco! Ainda temos um dia longo pela frente. — contestou o outro com um sorriso nos lábios alegres.

— É, mas estamos indo ver uma prisioneira, você deve ser mais profissional.

Percebendo que o parceiro manteve o olhar fixo para frente, Dois desistiu de discutir. Por que a Rainha teve que colocar-lo com um guarda tão sisudo?

A cela de Courtly era uma das últimas do corredor, e felizmente havia apenas ela ali no calabouço. Em alguns dias ela era seguida, em outros nem tanto; mas era sempre uma visita rápida e esquematizada pela dupla: entregar o necessário e ir embora.

— Boa tarde, srta. Jester. Hora do almoço — anunciou Nove quando estava a poucos metros da grade da menina. — Já devolva a louça do café da manhã, porque...

Nove e Dois ouviram murmúrios distantes e gemidos fracos de dor, mas o timbre era muito grave para ser de Courtly. Pelo contrário, era uma voz muito familiar. Eles apertaram o passo e pararam em frente as grades. Uma silhueta estranha e retangular se contorcia no chão, o guarda de Ouros aproximava-se ao metal para iluminar o interior do pequeno cubículo. O guarda ali dentro apoiou o peso do corpo no antebraço esquerdo sobre o chão e virou um rosto fortemente agredido na direção de seus companheiros. Os parceiros arregalaram os olhos.

Cinco de Copas!! — exclamou Dois. — O que faz aqui?!! Cadê a Jester?!

Nove largou a bandeja para puxar o molho de chaves, o mingau com ostras se espatifou pelo chão de pedra como um ovo arremessado contra a parede. Ele encaixou a chave na fechadura e abriu a porta da cela com um ranger.

Ever After High: O Florescer do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora