Um soldado misterioso

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Os dias prosseguiram e Salomão não se esqueceu do que ouviu naquela festa: novamente aqueles boatos de que os sombrios estão atacando o país e cada vez mais perto da vila. Apesar de tentar não se preocupar com isso, todo dia ao acordar relembrava daquelas palavras. 

O mais estranho eram seus sonhos: sonhava que a lua estava mais brilhante do que nunca e iluminava um símbolo estranho, parecido com um arco-flecha, depois uma onda enorme de água o cobria, após isso a imensidão de água evaporava e no lugar aparecia labaredas de fogo. Eram as mesmas imagens que teve ao meditar com Hector e Mayumi no dia da festa. Salomão tentava entender o significado de tudo aquilo, mas parecia que nada fazia sentido.

O tempo foi passando e os sonhos ficaram menos frequentes, até que sumiram por completo, talvez porque Salomão trabalhava cada vez mais e quase não descansava, além disso, seu treinamento foi tomando formas bem complexas: Hector e Fuyuki implantaram técnicas e teorias de batalhas, estratégias a serem usadas em campo aberto e ensinaram a controlar melhor o elemento de cada aluno. Mayumi foi umas das melhores, seu controle elementar era um exemplo de prodígio e a cada dia a menina melhorava mais. Ao contrário dela, Salomão não conseguiu manifestar um sinal de seu "possível" elemento, mesmo após todas as meditações que fazia junto à Hector.

Passou-se oito ciclos da lua desde a noite da festa e a amizade entre Salomão e Mayumi se tornava cada vez maior, ambos se divertiam e ajudavam um ao outro nas aulas; quando estavam treinando em conjunto, sabiam exatamente a movimentação um do outro, apesar de Salomão não emitir uma sombra de poder sequer. Quando conseguiam arranjar tempo, procuravam passar juntos, Mayumi instigou Salomão a gostar de plantas. Eles passavam boa parte no jardim do Hector e Mayumi explicava metodicamente o comportamento delas, enquanto que Salomão, mestre das histórias, levou Mayumi a passar bastante tempo na biblioteca ou em lugares a céu aberto, contando-lhe os contos que conhecia — que eram muitos —, além do mais, Salomão começou a conhecer mais sobre os seus colegas, inclusive criando amizades com alguns — principalmente Raquel e Alex, além de outros de sua vila.

Certo dia, Salomão acordou em uma manhã com excelente humor.

— Hoje vai ser excelente! — disse enquanto se espreguiçava.

E o dia realmente estava lindo: a estrela brilhava sem pelejar, inúmeras nuvens se moviam de um lado ao outro desenhando o céu, junto com inúmeros pássaros que emitiam belos cantos. O rapaz foi logo buscar o café da manhã, por já saber do grande dia de trabalho que enfrentaria. Mas o que ele não sabia era que seu pai estava novamente com dores nas costas.

— Filho, hoje você vai ir sozinho! Seu pai passou mal novamente — avisou Anália.

— Já falei para ele não se esforçar tanto...

— Sabe como é seu pai, vive reclamando que está velho e cansado, mas continua exagerando no trabalho.

— Precisamos convencê-lo a passar em um curandeiro — falou Salomão, enquanto cortava um pedaço de pão com as mãos.

— Filho, minha sopa sempre resolve qualquer enfermidade, até mesmo dores nas costas... mas falta algum ingrediente... Ahh, sim! Passe na casa de Hector, e pegue alguns pedaços de gengibre, o restante tenho aqui. — falou Anália meio distraída, enquanto recolhia alguns legumes que caíram no chão.

— Pode deixar, quando voltar do serviço vou até Hector... estou indo, até mais tarde!

Salomão terminou de devorar o pão e logo saiu pela porta da frente contando algumas moedas de cobre em sua mão. Seu destino era as plantações na terra dos Souzas.

O clima agradável daquela manhã ajudou no trabalho árduo do campo, até que:

— Arghh...!! — Ao empurrar algumas plantas para o lado não percebeu o besouro que havia e acabou com uma grande mordida na mão — Só espero que não seja venenoso...

As crônicas da luz e das sombras - Ascensão das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora