7. Estamos em pedaços

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Pain makes people change


- Segundo ele os ares cariocas me ajudariam a superar meu noivado. Eu também sou mais experiente que ele nessa área, mesmo sem jogar futebol. Agora acho que ele tinha razão.- falo pensando em como tudo mudou.

- E porque você terminou o noivado?- ele fala me observando.

- Não me peça pra contar uma história, eu sou extremamente detalhista e vou começar desde Adão e Eva.- falo rindo dessa característica minha que sempre foi reclamação entre as minhas amigas e ele ri também.

- Não é possível, mas se for eu tenho tempo, ainda tô de folga amanhã.- ele fala me fazendo rir, mas a verdade é que eu consigo falar de tudo com ele como se a gente se conhecesse da vida toda e isso é impressionante pra mim.

- A história toda?- ele confirma comendo.- então tá você que pediu, vamos do começo.- falo enquanto entro na caixinha onde essa história tá guardada na minha mente.- A gente começou a namorar com 16 anos. Nossas famílias eram amigas, a gente começou a passar muito tempo junto e aconteceu, coisa de adolescente mesmo, aí eu me mudei pra fazer faculdade e quis terminar, mas ele se mudou logo depois. Aí começou a melhor fase porque os nossos cursos eram relacionados, ele começou a se firmar mais na igreja e a gente tinha muito em comum, ele é muito criativo e me ensinou muita coisa.- falo porque simplesmente ainda tem uma pontinha dele em mim e eu não consigo evitar elogiar.- em 2019 a gente trabalhou muito em um projeto da nossa antiga igreja juntos, ou seja, semanas rodeados de gente que conhecia a gente desde de criança e falavam "aí que lindo, vocês ainda estão juntos?", "Quando saí o casamento?" e a gente sempre dava aquele sorriso amarelo, mas uns 3 meses depois ele fez o pedido e eu aceitei. A gente tava super feliz começando a sonhar com festa essas coisas, até que chegou a pandemia e tudo foi adiado. Minha primeira decisão foi voltar pra casa, ficar com a minha família, conseguir ver meus avós um pouco mais de perto. Minha ansiedade ficou incontrolável nessa época porque eu tinha muito medo de perder as pessoas e a gente acabou se afastando. O pai dele ficou doente, depois minha mãe ficou doente, eu fiquei doente e a gente não podia se contaminar então passamos uns 7 meses totalmente separados e a relação foi esfriando mesmo eu acho. Quando as coisas estavam voltando ao normal minha vó de consideração perdeu a mãe, depois o filho, irmão do meu padrasto, e meu avô, marido dela.- eu falo já querendo parar porque esse assunto é pesado pra mim.

- Nossa, eu sinto muito de verdade.- ele fala pegando na minha mão em cima da mesa e eu apenas concordo com a cabeça.

- Ele voltou pra Recife e eu fiquei por mais 6 meses com a minha vó. Minha cabeça tava uma loucura, eu não era mais a namorada atenciosa e presente, eu me perdi entre ficar forte pra minha família e me manter sã e quando eu voltei pra casa a gente não se conectava mais. Voltamos a rotina de nós ver todos os dias, trabalhando juntos, mas era como insistir e adiar somente.- eu paro de falar e tomo um pouco de suco pra interromper o momento melancólico.
- Em Janeiro desse ano eu resolvi passar uma semana na praia com uma amiga, porque eu amo praia, mas morar em Recife não te faz muito praieiro.

- Por causa dos tubarões.- ele fala zoando como se fosse uma lenda.

- Eles são reais meu filho e eu morro de medo.- falo e ele ri.- Enfim passei muito tempo dessa viagem imaginando ele lá e resolvi encontrar ele de surpresa em Caruaru, já que por algum motivo ele agora tava sempre por lá. Falei com uns amigos em comum e me disseram onde ele deveria estar e quando cheguei ele tava indo embora com uma conhecida nossa. Dizem que a gente sabe quando acontece, mas eu fingi que não. Demorou umas duas semanas pra que eu decidisse questionar algo.- enquanto falo as lembranças vão surgindo cada vez mais vivas.

Flashback

- Oi amor- Gabriel fala depois de me dá um beijo e entrar em casa.- Tá tudo bem?- ele pergunta sentando no sofá.

- Espero que sim.- falo sentando também.- Tu tem alguma coisa pra me contar?- pergunto porque quero dá a ele a chance de explicar.

- Não, tá tudo bem. Eu deveria ter?- ele fala com semblante de confusão.

- Então eu vou ser direta. O que é que tá acontecendo contigo e Bárbara?- vejo uma rápida surpresa passar por seus olhos até que eles desviam seguidos de um suspiro e uma mão o rosto.

- A gente é amigo, você sabe.- ele fala sem olhar diretamente pra mim.

- Uma amiga que é obviamente apaixonada por você.- eu falo vendo ele desviar o olhar pro teto dessa vez.

- Ela disse que me esqueceu depois que a gente noivou.- ele fala me deixando chocada.

- Então você fingiu que acreditou e começou a andar com ela pra todo lugar? Pelo amor de Deus, só falta ela pedir pra tu terminar comigo e ficar com ela.- ele olha rapidamente nos meus olhos com alguma surpresa e eu imediatamente entendo.- Ela fez isso não foi? Inacreditável.

- A gente tá junto a oito anos. Eu não vou terminar, eu vou casar com você. Eu falei isso pra ela.

- Engraçado o jeito que tu fala parece um mantra decorado que tu ficou repetindo até acreditar. Eu não quero passar o resto da minha vida com alguém só porque é o caminho mais fácil.- eu falo me sentindo cansada.- Eu não tô te reconhecendo mais. Eu me apaixonei por um menino que era capaz de enfrentar qualquer coisa por mim e agora eu tô diante de alguém que deveria ser um homem, mas não tem coragem nem de terminar comigo.- falo demonstrando minha decepção.

- Eu não quero terminar Bia. Para com isso, você tá com ciúme é isso? Me diz o que você quer que eu faça.- ele fala se aproximando pra pegar na minha mão.

- Sabe o que é interessante? Eu não tô com ciúme.- falo tentando entender o que estou sentindo.- Eu amei muito alguém que eu não vejo quando olho pra você, e por mais que eu me sinta arrancando um pedaço de mim, acho que isso não significa nada faz um tempo. -eu falo tirando o anel de noivado e entregando pra ele.

- Não faz isso, você já jogando nossa história no lixo.

- Não tem como apagar todos esses anos. Mas não vou te manter aqui por causa desse anel.

Amigos Até Certa Instância(Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora