Angel by chance - South Park

Capítulo 7 𖤐⭒๋

Era segunda-feira e Damien voltava ao mundo com seu teletransporte às 7 horas em ponto, aterrissando logo na escola.

Aquela semana seria conturbada, ele pressentiu. Teria que ter muito fôlego e muita coragem para lidar com tudo que viria, mesmo que não fosse relacionado a ele.

Precisava ficar de olho naqueles infelizes que faziam Pip sofrer.

E com esse propósito, Damien percebeu que Stan Marsh, que antes era olhado como uma pessoa normal na multidão, agora era observado com olhares desagradáveis ou irônicos por onde ele passasse, como se ele tivesse feito algo bem ruim ou vergonhoso e ele não parecia saber exatamente o motivo.

Se aproximou do armário de Kyle Broflovski e logo puxou uma conversa com ele, até perceber que os olhares em volta estavam centralizados a apenas eles dois. O ruivo estava estranhamente desconfortável e Stan não entendia o motivo.

〃

Cansou de observar os dois e foi a procura de Pip. Iria perguntar justamente se estava andando com os meninos e se deparou com o britânico conversando normalmente com o de capuz laranja.

Não se sabe se pelos seus sentimentos demoníacos sentiu raiva, tristeza, preocupação ou nojo quando viu aquela cena. Ou até uma brecha de felicidade por Pip ter feito um novo amigo.

Mas aquilo seria impossível. Kenny provavelmente estaria abusando da ingenuidade dele ou até mesmo sussurrando mentiras no ouvido dele a respeito de Damien. Não poderia confiar tão fácil nisso.

Estava apenas vendo os dois por trás com aquele olhar assustador e os braços cruzados. Pip foi o primeiro a perceber.

- Ah Damien! Nem te vi aí.

O demônio se aproximou dele e cochichou o que estaria fazendo com Kenny e porquê.

- Ah, é que ele é meu novo amigo. Não tem problema nisso, ou tem?

Era da natureza própria de Pip se questionar se qualquer coisa que estivesse fazendo era errada. Talvez isso não fosse.

O loiro de capuz laranja olhou para eles com um olhar desprezível, como se não estivesse gostando da conversa. E então como se nada tivesse acontecido, simplesmente se retirou e foi para a sala.

- Olha, eu te disse pra não ficar perto de qualquer um dos garotos daquele quarteto. Eles literalmente te maltratam. Por que faz questão de ficar perto dele?

- Eu não faço. Ontem ele mesmo veio falar comigo todo amigável. E toda amizade é uma oportunidade e uma nova porta a ser aberta.

- Ao abrir uma porta podemos encontrar coisas boas ou ruins, ou até terríveis. Se essa porta te levar para lugares piores, acho melhor não ir por esse caminho. E agora me escuta, Pip, ele disse alguma coisa sobre mim ontem? Tipo pra você ter cuidado e tal?

- N-não! Claro que não! Por que você estaria relacionado a alguma das conversas? Estávamos apenas tendo conversas casuais, como a procura de meu caderno.

- Hm, entendi - Damien fingiu muito bem que acreditou.

O britânico se retirava indo sozinho até a sala de aula. Ninguém bateu ou provocou ele dessa vez.

Talvez a amizade de Kenny realmente valesse a pena.

〃

A aula já havia começado, mas os olhares ainda se focalizavam apenas em Stan e Kyle, os super melhores amigos.

Estavam sendo vistas como celebridades na escola. Mas não como boas e talentosas, e sim celebridades famosas por terem feito alguma coisa muito horrenda. Denunciadas por cancelamento em redes sociais.

Kyle desde pequeno não era muito fã de ser o centro das atenções. Estava muito ciente do que aconteceu, ao contrário de seu melhor amigo que não fazia ideia de que o vídeo existia.

O ruivo estava quase passando mal e Stan percebia isso porque nasceram praticamente colados. Alguns minutos depois de Kyle pedir ir ao banheiro, ele também foi, deixando a turma cair na gargalhada.

Não só a turma, e sim a escola toda. Andava pelos corredores assombrado pelas risadas, pelos olhares, pelos sorrisos, pelos flashes. Ele se sentia na pele de Pip. Já havia se arrependido fortemente de tê-lo maltratado, e agora se sentia como se estivesse no lugar dele mesmo sem a agressão física.

Chegou um momento que não aguentou mais. O percurso dos corredores até o banheiro não era muito longo, mas se assemelhava a um grande labirinto infinito quando rodeado por adolescentes de mau caráter. Então correu desesperadamente e bateu a porta do banheiro com força.

Só havia uma cabine com alguém. Era Kyle, dava pra ver pelos tênis.

- Abre a porta.

- Stan! O que vão pensar se verem a gente aqui no banheiro?

- Não interessa - ele entrou na cabine e a trancou - só quero saber por que deu a louca em você, assim do nada.

- Como assim?

- Kyle, você tá me ignorando e sendo super estranho, querendo sempre fugir de mim. Além de todo mundo estar rindo da gente pela escola.

- Você não sabe, Stan? O vídeo.

- De que porra você tá falando?

- Ontem o Cartman gravou a gente se beijando e postou na internet. Agora a escola toda já tá sabendo.

- Puta merda, como ele gravou isso?

- Esse bundão tava espiando tudo pela janela. Eu até tentei pegar o celular da mão dele mas já era tarde demais.

Stan não soube como se sentir naquela hora. Estava sendo ridicularizado quando finalmente se sentia bem por estar com quem amava de verdade.

- Poxa Kyle, é tudo culpa minha, eu realmente não deveria-

Sua fala foi interrompida por um beijo intenso e repentino, o ruivo colocou as mãos acima da cabine assim prendendo Stan enquanto encostava seus lábios nos dele.

- Não se preocupa. Aqui ninguém vai saber do que a gente faz. - disse Kyle se sentando na tampa do vaso

Stan concordava com ele. Ali, ninguém ia saber do que eles fizessem.

Antes que o ruivo abrisse a boca pra falar, o super melhor amigo não pensou duas vezes e beijou mais uma vez seus lábios intensamente, dessa vez se apoiando sobre o colo de Kyle se movimentando de um jeito que não sabia onde havia aprendido e logo sentindo algo mais ali, resolveu parar.

- Acho que fomos longe demais.

- Verdade. Acho que senti até uma coisinha em você... esquece. - Stan sabia bem do que estava falando.

Aquilo foi uma sensação muito boa para os dois, que duraria muito, muito mais se não estivessem num momento tão desesperador quanto esse.

- Acho melhor nós voltarmos pra sala, senão o "ninguém vai saber o que a gente faz aqui" se tornará um "todo mundo vai saber o que a gente faz aqui".

〃

Stan saiu primeiro da cabine, com Kyle o seguindo por trás.

Assim que pisaram fora do banheiro deram de cara com Wendy.

Puta merda.