Acordo com o barulho do despertador e não com os beijos do meu marido como costumava acordar todos os dias.
Ele ainda está aqui, mas ao mesmo tempo não está.
Todas as noites dormimos na mesma cama, mas não nos tocamos, não nos falamos mais.
Ele está tão perto, mas ao mesmo tempo está tão distante...
Sinto falta de como éramos antes, a nossa união, nosso companheirismo.
Olho para o lado, o sol entrava pelas brechas da janela.
Sinto o corpo ao meu lado se mexer e logo se levantar.
Vejo meu marido ir até o banheiro e fechar a porta. Não demonstro reação. Continuo olhando para a janela. O dia parece estar lindo. Na verdade, a maioria dos dias estão lindos, o que não combina muito com meu casamento.
Não sei quanto tempo se passou, quanto tempo eu fiquei olhando para a janela, mas foi tempo suficiente para ele tomar banho. Quando vai para o nosso closet, é quando decido me levantar.
Vou para o banheiro, faço minhas necessidades e tomo um banho gelado, como de costume. Depois do banho, coloco um roupão e vou para frente do espelho.
Estou quase terminando a minha maquiagem quando a porta se abre.
- Bom Dia. - ele fala sorrindo. Eu sei que esse sorriso é forçado. Ele entra no banheiro.
- Bom Dia. - respondo, também sorrindo.
Tento terminar o mais rápido possível. Não que a presença do meu marido me incomode, mas é que, é estranho estar no mesmo lugar que ele. É estranho estar sozinha com ele.
- Diga a Manuela que talvez eu me atrase para seu jogo hoje. - ele diz, se apoiando na pia ao meu lado. Tento buscar em minha mente. De que jogo ele está falando?
Vendo a confusão estampada em meu rosto, ele respira fundo e pergunta:
- esqueceu do jogo? - sua decepção é evidente.
Não respondo.
- não sei por que ainda me surpreendo, você sempre esquece tudo. - não vou responder. Sei que se responder vamos brigar. Não quero brigar.
- ao menos vai conseguir ir? - me encara.
- lógico. - não sei como, mas vou.
- por favor, Ellen. Sabe o quanto é importante para ela. - ele sai do banheiro.
Solto um longo suspiro e me olho no espelho. Como pude esquecer?
Eu sei, as pessoas esquecem das coisas, mas, Manuela passou a semana falando disso. Ou estou com algum problema de memória, ou os eventos da minha filha não são tão importantes.Acho que estou com algum problema de memória.
Nunca esqueci esse tipo de coisa.
Quando termino de me arrumar, desço para o andar de baixo e vou para a cozinha. Assim que entro, um anjo de olhos azuis, cabelos castanhos e enrolados vem correndo até mim.
- Bom Dia Mamãe! - me abraça.
- Bom Dia, meu amor. Dormiu bem? - pergunto. Caminhamos abraçadas até a mesa e nos sentamos. Patrick me encara.
- Dormi feito uma princesa. - sorri. - a senhora vai ao meu jogo hoje, né? - sua animação me anima.
- não perderia por nada! - sorrio.
- Papai disse que vai se atrasar. - faz bico. - mas estou muito feliz que os dois vão!
- talvez me atrase filha, isso é apenas um talvez. - fala olhando para ela. - pode ter certeza que estarei na primeira fileira te aplaudindo.
- você também, mamãe?
- com toda certeza.
- Vamos meu amor. Hoje eu vou te levar para a escola. - eles se levantam. Manuela vem até mim.
- Adeus mamãe. Até a hora do jogo. - recebo um beijo na bochecha.
- Tchauzinho meu amor. - a abraço.
Patrick pega em sua mão para eles irem.
- Papai, não vai se despedir da mamãe? - pergunta inocentemente. Entendo ela, acho que isso virou um hábito, um hábito que não se repete mais. Manuela não vê, pois sempre que eu e Patrick saímos para trabalhar ela já tem ido para escola, o motorista a leva.
Patrick vem até mim. Não sei o que vai fazer.
Ele me beija. Um selinho na verdade. Mas não estava preparada para isso. Foi rápido demais.
Manuela dá pulinhos de alegria, pega na mão do pai e o puxa para fora.
• • • • • •
Não sei como chegamos a esse ponto. Não sei como nosso casamento chegou a esse ponto. A verdade é que, eu não sei de mais nada.
Patrick precisou me buscar no meio de uma avenida. Meu carro quebrou.
Agora estamos brigando. Por que o meu carro quebrou.
- se você tivesse feito o que eu falei, isso não teria acontecido, não estaríamos atrasados para o jogo da minha filha. - resmunga.
- nossa. - o corrijo.
- o que? - me encara confuso.
- nossa filha, Patrick. - suspiro. - podemos parar de brigar? Só hoje, por favor.
Ele olha para frente, encarando a estrada.
- você está bem? - pergunta de repente.
- estou. Por que? - essa pergunta é estranha, ele nunca pergunta se estou bem.
- Vi você passando mal ontem. - diz. - não tive a oportunidade de perguntar. O que aconteceu?
- não sei. Acho que foi apenas um mal estar. - encosto a cabeça na janela.
Ele olha para mim, como se fosse perguntar mais alguma coisa, mas desiste e volta o olhar para a estrada.
Será que é isso que
acontece com todos os
casamentos? Vivem em uma
rotina conturbada? E o amor?
Será que ainda existe o amor?Continua..
Eu disse que não apareceria por aqui.
Pois é, eu disse, mas apareci. Estou fingindo que as mil lições e trabalhos da escola não existem. Vim escrever enquanto estou inspirada.
Talvez eu arquive isso aqui como fiz com a maioria das fanfic's, mas estou ansiosa para escrever essa.Espero que gostem!
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Amor? - Dempeo
FanfictionTodo casamento tem suas complicações, falhas e perdas, mas são todos os casais que conseguem supera-las?