Cigarros e Mentiras

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(Música: Hurt - Johnny Cash)

Nas quatro primeiras noites em que estávamos no Reino, comecei a acordar no meio da madrugada sentindo falta da presença de Daryl ao meu lado, e eu estava certa, ele acordava e sentava-se em frente a janela enquanto fumava.

Eu o assistia definhar de sono durante todo o dia e quando a noite chegava, Daryl só conseguia dormir por, no máximo, três horas.

Na madrugada do dia cinco, acordei novamente e o vi sentado observando as estrelas enquanto o quarto era dominado pelo suave cheiro da fumaça. Suspirei olhando-o por alguns instantes e deslizei pela cama em sua direção. Estremeci ao colocar os pés descalços no chão frio, mas prossegui. Quando parei em pé ao seu lado, ele me olhou de esguelha e continuou em seu silêncio pensativo, então me sentei no parapeito da janela apoiando os pés em suas pernas próximas a mim e roubei o cigarro de sua mão causando-lhe uma franzida no cenho de confusão.

Dei uma tragada generosa e amarga, permitindo aos meus sentidos se entorpecerem levemente enquanto uma pequena parte da fumaça quente descia pela minha traquéia. Dois segundos depois soltei a fumaça e fitei o céu estrelado.

- Não era você que falava que cigarro fedia? - murmurou com a voz falhada

- Já ouviu falar em fumante passivo? - dei mais uma tragada - Já faz tempo que não me incomoda...

- Vai dormir, não precisa ficar aqui comigo...

- Não tá conseguindo dormir por causa dos dias que fic...

- Por causa do Glenn. - ele me interrompeu e eu o olhei confusa - Foi minha culpa...

Abri a boca algumas vezes procurando palavras para consolá-lo, mas não havia o quê falar, tinha sido culpa dele.

- Não precisa. Vai dormir, Lara.

- Eu não quero! - pressionei os lábios fitando-o - Mas ficar remoendo isso vai ajudar no quê? Você tá se matando aos poucos. - dei uma tragada - E eu nem tô falando do cigarro. Dia após dia, eu vejo você quase morto, por não dormir direito.

- Eu não consigo, tá legal? A única coisa que tá me relaxando é isso. - ele o tomou da minha mão e tirou minhas pernas de cima das dele

- Tô vendo! Relaxado pra caralho! Tá quase um vulcão em erupção de tão relaxado. - falei ríspida me irritando com sua ignorância

- Eu tava relaxado, até você vir me perturbar!

- Perturbar? Nossa, então me desculpe por estar preocupada com você. Fica tranquilo que não vai mais acontecer! - saltei do parapeito e vesti um short e uma regata rapidamente

- O quê você tá fazendo? - ele rolou os olhos me observando calçar meus tênis

- Por quê se importa? Achei que não pudéssemos mais nos preocupar com quem amamos!

- Para com isso! Onde você vai? - ele levantou-se tentando segurar minha mão, mas eu desviei

- Será que dá pra eu não ser perturbada? - abri a porta com raiva e fui andando pelo corredor mal iluminado a passos pesados

Quando saí do prédio, contive a intensa vontade de olhar para a janela do nosso quarto e comecei a andar sem um rumo definido pelas ruas silenciosas do Reino. Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos e sentimentos que se aglomeravam infinitamente alternando entre o Daryl minutos atrás, a impossibilidade de negar sua culpa sobre a morte do Glenn e meu pai. Quando notei onde minhas pernas me levaram, suspirei e me sentei no balanço da pequena praça no meio da comunidade.

Amor, Sangue e Zumbis 3 - Daryl Dixon x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora