Nos dois primeiros dias que acordei e vi o espaço vago na cama, chorei copiosamente agarrando-me aos lençóis desejando que ele apenas estivesse no banheiro e tudo aquilo tivesse sido um pesadelo.
Além da saudade, me sentia profundamente traída pelo meu próprio pai. Ele estava irreconhecível, frio, vazio. Aquele não era o mesmo homem que me ajudou a escorregar no parquinho, que me levava para a escola cantando músicas infantis, que me dava um beijo de boa noite todos os dias. Ele não era o pai que eu amava e isso doía demais. Era para eu estar feliz por ele estar vivo, mas só conseguia sentir ódio.
Nos outros dois dias, movida pela raiva, me forcei a sair da cama e ajudar os outros na busca por suprimentos. Queria ir sozinha, mas Luna e Rick não deixavam, sempre achavam uma desculpa para me acompanhar. Talvez eles temessem que eu fizesse alguma besteira. Talvez eles estivessem certos.
As buscas foram muito improdutivas, era impossível achar comida na região e só em longas viagens que conseguiríamos trazer alguma coisa e para o nosso azar, quatro dias depois das mortes de Abraham e Glenn, Negan chegou.
Eles estavam em dois caminhões e dois carros, Rosita e eu descemos do posto de guarda e ela correu para chamar Rick.
Acompanhei Negan descer do caminhão e andar até a frente do portão, batendo com Lucille animadamente, Rick veio e Negan sorriu:
- Olha quem tá aí... Não me obrigue a perguntar.
- Você disse uma semana, está adiantado. - Rick respondeu abrindo o portão
- Senti saudade!
Tomada pela ansiedade, vi os homens de Negan descendo dos veículos, dentre eles estavam Daryl, com o rosto muito machucado e vestindo um conjunto de moletom encardido com uma grande letra A pintada na blusa e meu pai logo atrás dele. Ambos me encararam de volta, Daryl com um pesar e meu pai com a mesma rigidez daquela noite.
- Aí, Rick. Vem até aqui fora, vem ver isso. Esse é meu! - Negan deu uns passos para trás e matou um errante que se aproximava - Sopa no mel. Molezinha! Muito bem, pessoal. Vamo começar. É um grande dia. Ei, Rick! Viu isso que eu acabei de fazer? Um belo serviço! Eu só dou um jeito num desses babacas, mostro que poderia matar um de vocês. Serviço completo! - ele fez uma reverência e entregou Lucille nas mãos de Rick, enquanto passava por nós
Todos eles começaram a entrar e, quando Daryl passou ao meu lado, uma enxurrada de desespero tomou conta de mim, querendo se libertar em forma de choro, mas engoli e tentei ficar calma. Cruzei meu olhar com meu pai, que desviou novamente e seguiu empurrando Daryl.
- Mas olha só que beleza! Esse lugar é magnífico. Com excesso de abundância, como se diz por aí. Sim, senhor, eu acredito que você terá muita coisa a oferecer. - Negan falava girando o corpo e olhando as casas
- Daryl. - Rick falou
- Oi. - ele respondeu com a voz falhada fazendo meu coração doer
- Não! Não... - Negan se colocou entre eles e apontou para Daryl - É um serviçal, você não olha pra ele, você não fala com ele e eu não te obrigo a cortar nenhuma parte dele.
Cruzei os braços tentando conter o tremor em minhas mãos e senti o olhar de Rick sobre mim. Ele sabia o quê eu estava sentindo.
- E vale o mesmo pra todos... - Negan virou-se e se aproximou de mim, quase encostando no meu ouvido enquanto eu tentava conter os tremores que se intensificaram - Certo?
Eu respirei fundo, engoli a maior pílula de coragem que minha imaginação foi capaz de criar e o encarei. Sua boca se curvou num sorriso de escárnio e eu me afastei dele, indo para o outro lado de Rick.
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Amor, Sangue e Zumbis 3 - Daryl Dixon x OC
FanficCom moradia fixada em Alexandria, Lara e o grupo não esperavam que o tal Negan poderia atrapalhar tanto suas já difíceis vidas no meio do apocalipse. Fazendo novos amigos e perdendo outros, eles terão que lutar muito mais para sobreviver a isso e um...