Capítulo único

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Andrew está vivendo em San Francisco há mais de dois anos quando finalmente toma coragem para ir ao Castro - também conhecido como o bairro gay mais famoso do mundo -, pela primeira vez.
Não que ser gay fosse o problema. Ele superou isso ainda no reformatório, aos 16 anos, Andrew era o que era e tinha coisas mais importantes para se preocupar naquele momento. Acontece que ele saiu da faculdade direto para um contrato profissional como goleiro de um dos maiores times de Exy do mundo, os Lions, e demorou um pouco antes que a frenesi de curiosidade midiática ao redor de sua vida pessoal se tornasse algo administrável.
Allison, sua gerente de imagem agora - por mais incrível que pudesse parecer depois de tudo o que eles passaram na faculdade -, achou que era uma boa ideia ele provar seu valor ao time e aos fãs antes de sair do armário. E, considerando que aquelas eram as pessoas que lhe garantiam um salário de oito dígitos, Andrew concordou. Não era como se ele precisasse que as pessoas soubessem tudo sobre ele de qualquer forma.
Sendo assim, Andrew tem vinte e seis anos quando resolve se aventurar em um bairro totalmente voltado para a comunidade LGBTQ+ pela primeira vez.
O 'Mama G' não é realmente uma escolha deliberada, apenas acontece de ser o lugar mais visualmente próximo do Eden's Twilight que ele consegue encontrar. Ele estaciona seu Masserati alguns quarteirões abaixo, apenas no caso de algum paparazzi à paisana reconhecer seu carro e anda até lá.
A fachada do prédio barulhento segue a arquitetura daquela região, tijolinhos vermelhos revestindo a frente, a luz de néon verde lúgubre brilhando, ligeiramente diluída. Dois seguranças grandes e vestidos em couro estão parados na porta da frente, verificando os documentos e mantendo a fila organizada e Andrew se pergunta se em algum momento conseguirá a mesma familiaridade que tinha na Eden's para passar por eles sem ser verificado. Quando finalmente consegue entrar, ele anda através da multidão, atravessando o clube densamente lotado, tentando o máximo possível não encostar nas pessoas ao redor.
Contato foi uma coisa que ele aprendeu a tolerar com o tempo (obrigado Bee!), mas ainda não é algo que ele busca em estranhos.   
Quando finalmente consegue chegar ao bar, milagrosamente há um assento vago em frente ao balcão no canto mais afastado à direita, então ele se sente com sorte.
— Em que posso ajudá-lo?
A voz o faz levantar o rosto e ele brevemente sente como se tivesse levado um soco na cara, porque atrás do balcão, vestido em um body de paetês preto de mangas longas, meia arrastão e salto alto, está o ser humano mais impressionante que ele já viu em toda a sua vida.
A peruca loira esculpida se espalha em perfeitas ondas vintage atrás dela quando ela se move para atendê-lo, lábios vermelhos cereja, olhos azuis com delineados afiados, sobrancelhas arqueadas artisticamente. Andrew honestamente jamais se atraiu por nada que performace feminilidade em toda a sua vida, mas talvez seja o conhecimento de que aquele é um homem, uma Drag Queen, o tenha feito perder o fôlego por um segundo ou dois. Ou talvez sejam as pernas perfeitas, coxas e bunda de um maldito atleta olimpico (Andrew sabe, ele ten estado ao redor de muitos atletas olimpicos nos ultimos anos), em exposição naquelas meias arrastão.
— Cerveja. - Ele finalmente responde.
Não é sua bebida de preferência na maior parte dos dias, mas vem em garrafas individuais fechadas e ele ainda não conhece aquele lugar o bastante para se arriscar com qualquer outro tipo de bebida.
— Espera, você é Andrew Minyard, goleiro dos Lions! - A boca dela está aberta em uma pequena exclamação de surpresa, a maquiagem faz com que a frase pareça muito mais expressiva do que realmente soa.
— E você é? - Andrew arqueia uma sobrancelha, naquela expressão que ele sabe que faz as pessoas se contorcerem. O bartender, no entanto, só parece um pouco sem graça enquanto dá os ombros e coloca uma garrafa de cerveja fechada no balcão.
    — No momento eu sou a 'Darling', muito prazer. - Ela indica uma placa de neon acesa na parede atrás do bar, 'Queen's Night' brilha verde fluorescente, o mesmo padrão do letreiro na fachada. - É quinta feira, noite Drag Queen.
Só então Andrew percebe que a maior parte dos funcionários do local está igualmente vestida com roupas femininas reveladoras e maquiagem extravagante. Nenhum deles, no entanto, chama tanto sua atenção quanto o bartender a sua frente, 'Darling' ele experimenta mentalmente.
— De todas as malditas opções do mundo, você achou que 'Darling' seria um bom nome de Drag Queen? - Andrew se ouve dizer antes de conseguir se controlar.
Ele e Bee conversaram recentemente sobre isso, como ele pode dizer coisas ofensivas para pessoas sem qualquer motivo aparente ou provocação. Andrew não acredita que seja realmente um defeito de caráter, mas Bee pode ter uma opinião diferente. A risada pequena e ritmada que vem do bartender é inesperada.
— Hey! Eu sou meio britânico, fazia sentido! - Ela não parece realmente ofendida, - Mas sabe o que não faz sentido? O que um jogador de Exy mundialmente famoso está fazendo em um lugar como esse?
E Andrew sabe que não deveria estar se expondo daquela forma em uma boate gay qualquer. Ele sabe. Mas há algo sobre o azul dos olhos daquele bartender, tão límpidos que ele jamais achou que fosse possível sem lentes de contato, há algo sobre a maneira como ele se move, fluido e silencioso e sobre a forma como os salto altos fazem a bunda dele parecer uma peça de arte.
— Uma verdade por uma verdade. - É uma pergunta, mas ele não faz soar como uma. Andrew se sente como um maldito inseto atraido pela luz.
— Como um jogo? - Ela pergunta, enquanto mistura alguns drinks de vodka para o cliente que acabou de parar ao lado de Andrew do balcão. - Tudo bem. 
— Os lugares que eu costumo ir não tem o que eu quero. - Andrew responde a pergunta já feita. - Qual o seu nome quando não é noite Drag?
— Neil, - Ela diz prontamente. - Sem a maquiagem elaborada e as roupas brilhantes eu sou Neil Josten.

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