A Conquista

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A melhor forma de se reinar, é estar pessoalmente entre seus súditos, se eles sentirem que você é como eles, serão mais leais. Nós humanos temos tendência a apoiar quem são parecidos conosco, e aversão ao que seja diferente.

O dia amanhece com Amids na linha de frente de seu pequeno exército, cerca de cinquenta soldados com armadura de bronze em suas costas, dispostos a dar a vida pelo seu rei. Em sua frente, o exército inimigo, cavalaria, arqueiros, soldados, tudo em sua vista, e ao que parece, o rei inimigo não está entre eles. O campo de batalha, é a terra ao qual estão disputando para reivindicar, terreno verde e fértil banhado por flores por todo o chão e árvores na extremidade, um penhasco em direção ao mar em outro extremo, ja foi uma bela vista e talvez se torne algo melhor, mas no momento não existe beleza, apenas medo e ódio, é o motivo de todos estarem presente.

Os soldados de Amids observam atentamente seu rei, aguardando as ordens. Amids fecha os olhos, abaixa a cabeça e cochicha algo que parecem palavras inaudíveis. Ele lembra da última discussão com sua rainha, reza para algum Deus e coloca seu elmo reluzente de bronze, erguendo a cabeça. O vento sopra em sua capa, trazendo junto toda sua inspiração, ele vira as costas para seus inimigos, olhando nos olhos de cada soldado aliado e pronuncia as palavras de forma imponente

- Meus súditos! Meu povo! Eu sei que vocês não queriam estar aqui, temos família, temos casas, temos desejos, mas esse dia! Hoje! Todos nós somos um só, todos nós temos um desejo em comum! Vencer!
Nosso inimigo não teve a coragem de aparecer na guerra, estamos lutando contra um rei covarde! Um exército morto! Esse verme tem ciência de que vai perder e não quis arricar a própria vida, mandando soldados à morte! E nós seremos os ceifadores. Ao contrário dele, eu, grande rei Amids, o conquistador, estou com todos vocês sempre! Se a gente perder, que morra lutando por algo maior. Lute pelos seus filhos! Por suas mulheres! Por suas terras! Não sou um covarde! Sou o conquistador que morreria pelo seus próprios súditos! Hoje os deuses assistirão nossa batalha!

Amids monta em seu cavalo branco, se arma com seu escudo e lança, erguendo-os, gritando, anunciando a guerra e galopando ferozmente junto de seus soldados em direção ao amedrontado exército inimigo.

- ATAQUEM, MATEM-OS, GANHAREMOS A QUALQUER CUSTO

Todos gritam e correm em conjunto, remetendo a um coral, pareciam estar em sintonia, uma dança à luz do amanhecer. Flores e folhas voavam junto de sua arrancada. Os olhares não estavam amedrontados, estavam sedentos, em contraste aos seus inimigos que sequer conseguiram sair do lugar, decidiram adotar uma postura defensiva.
A falta de um líder imponente bagunçou a estratégia do exército, a cavalaria recuou e os soldados ergueram os escudos, fazendo uma barreira na tentativa de diminuir a velocidade da batalha

Uma tentativa falha, Amids é o primeiro a entrar na batalha, atropelando a linha de frente inimiga, derrubando os escudos e dando meia volta enquanto espeta seus inimigos com sua lança.
Logo em seguida, seus guerreiros chegam brandindo suas espadas e quebrando as defesas, banhando-se de sangue. Os arqueiros atiram uma chuvarada de flechas e acertam a cavalaria que havia recuado para investida, derrubando-os de sua montaria

Guerreiros se apunhalam em sequência, vísceras voam pelas árvores, o som de desespero e dor ja fazem parte da audição, o cheiro de sangue e suor ja não incomoda mais, suas visões tapadas por sangue e lama, enxergando apenas o necessário, é como se vivessem por esse momento, para ter espadas banhadas por sangue e pela luz revigorante do sol

Mais uma investida de Amids e seu cavalo, dessa vez na arquearia que sequer conseguira realizar um ataque coordenado.

O time inimigo abalado e completamente abatido começam a fugir, Amids sente o gosto da vitória, desce de seu cavalo e ergue sua lança, esboçando o maior sorriso que sua boca conseguiu produzir por debaixo de sua barba volumosa.

O restante dos soldados que não fugiram, jogam suas armas fora e ajoelham, alguns corajosos lutam até a morte, enquanto Amids observa sua glória e as rosas manchadas de sangue, seu novo terreno, com um sorriso amedrontador.

- Chamem reforços

Disse o rei calmamente sem esconder seu fascínio

- Vossa majestade, a batalha foi vencida

- Foi, agora estamos em busca de ganhar a guerra

- Embora tenhamos poucas baixas, creio que poucos soldados aguentarão mais batalhas

De repente, o semblante de soberano decai, se esvaindo junto com seu sorriso, a imagem de um grandioso rei se torna apenas a de um humano, ou pior.
Amids puxa pelo pescoço o soldado rebelde que questionou sua majestade, gritando e cuspindo no rosto do blasfemador.

- COMO OUSAS ME QUESTIONAR? ESTÁ ME HUMILHANDO NA FRENTE DE MEU EXÉRCITO! QUERES DIZER QUE NÃO SEI ME PORTAR COMO SOBERANO? ESTÁ TENTANDO CONQUISTAR MEU CARGO?

Amids retira uma adaga de sua cintura, puxa com fúria a mão do soldado e apunhala seu pulso, na fresta da armadura.
O soldado grita de dor enquanto o sangue espirra na armadura de Amids.

- QUE SIRVA DE LIÇÃO PARA TODOS VOCÊS

Os soldados que se divertiam com a vitória, param e observam a humilhação.
O sorriso doentio volta, porém dessa vez mais perverso, enquanto ele tira a adaga e se deleita com o grito do próprio soldado.

- Chame reforços

Disse o rei, pausadamente

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