0.3| 100% heterossexual

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—oi gatinho, vem sempre aqui? —a primeira coisa que o louro fez, foi vir até mim, apoiando suas mãos esguias e, com toda a certeza do mundo, macias, aos braços de minha cadeira, tentando jogar seu charme em cima de mim.

Porra, ele é mais bonito ainda de perto do que eu cogitaria imaginar.

Seu longo e fino cabelo fazia com que seu maxilar, que beirava ao marcado, ficasse amostra, assim como suas orelhas levemente abertas, o que deixava seu visual levemente fofo, diga-se de passagem. A armação quadrada e prateada que contornava seus belos olhos que iam do verde esmeralda ao mel com a maior facilidade que eu possa imaginar. Uma rala barba e um bigode, estranhamente atraente, contornavam seus lábios pálidos e finos, enquanto sua coloração combinava com a de suas sobrancelhas —que eram um pouco mais escuras as madeixas de cabelo do próprio.

Céus, uma coisa que eu não podia ignorar era seu porte físico. Os músculos tencionados de seus braços, que me encurralavam como uma pequena presa, prestes a ser devorado por completo —em um bom sentido, claro— possuíam, em cima da pele morena, pelos loiros, que ficavam quase-que-invisíveis quando a luz o refletia. Sua roupa clara —e minimamente transparente— fazia-me encarar o seu peitoral marcando-a, assim como os seus mamilos —Eles eram amarronzados, pelo o que parece.  Ele realmente tinha ombros largos e um longo pescoço, dá tanta vontade de simplesmente marca-os inteirinhos...

Espera, por que eu estou pensando nisso? Eu nem sou atraído por homens.

Por conta do tempo em que fiquei encarando o meu par-romântico-durante-dois-anos-consecutivos, eu o deixei sem resposta, deixando o cômodo em um silêncio desconfortável. Encaro os meus lados e, além do próprio Yamada, os outros presentes estavam curiosos com minha resposta, depositando seus olhos em mim.

Bom... como eu sou hétero, não posso aceitar, né? Por que isso me faria questionar minha própria sexualidade.

—você tem um mínimo de respeito consigo mesmo? —quebro o silêncio, rebatendo seu óbvio flerte, sentindo uma quentura se espalhando por meu rosto. Os jovens-adultos da sala caíram na risada, até mesmo aquele guri loiro e rabugento que namorava o meu fã. Eu não esperava essa reação deles, sinceramente.

—nossa, gatinho, se fosse me rejeitar pelo menos não seja tão rude assim! Eu tenho sentimentos, sabia? —Yamada faz algo-como-um-drama, apoiando sua mão em seu peitoral, que estava encarando a alguns segundos atrás. Assumo a mim mesmo que talvez, só talvez, eu tenha me enganado sobre a sua índole, e que na verdade, ele era apenas um babão em busca de algum namorado, e não uma pessoa que com certeza me macetaria até eu gritar em súplica.

Talvez essa seja a coisa mais broxante que aconteceu em toda minha vida.

—as coisas que eu tenho que me submeter para trabalhar... —sussurro a mim mesmo, suspirando— eu sou hétero.

—até parece, Shouta, eu me lembro de quando- —tampo a boca de Toshinori do jeito que conseguia, evitando-o de deixar aquela boca imunda revelar algum segredo meu, provavelmente da faculdade, e dos meus tempos de escuridão dela.

Eu e Yagi cursamos a faculdade de cinema juntos, mais especificamente, na mesma turma. Ele é aproximadamente dois anos mais velho que eu, e de cara, viramos melhores amigos —o que me faz sofrer um pouco de favoritismo do mesmo. Após ele fazer uma parceria com Endeavor —um outro diretor cinematográfico, porém dez vezes mais conhecido que Toshinori, na época— ele simplesmente explodiu. Se tinha ele na direção, era sinônimo de sucesso, e, como eu estou na maioria de seus filmes —nem que seja como um mero coadjuvante— acabei sendo conhecido também, por minha linda e bela atuação, diga-se de passagem. Eu devo minha vida inteira a ele.

—o que foi isso, Aizawa? Tem alguma coisa que a gente tem que saber antes de trabalhar com você, bonitão? —Denki tira sarro de minha cara, cutucando-me com a ponta de seu cotovelo, talvez eu tenha pego uma pequena intimidade com ele já. Ele é legal.

Love grows in my heart || erasermicOnde histórias criam vida. Descubra agora