CAPÍTULO 6

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Depois de alguns minutos que pareceram horas e horas, o médico de Evie apareceu na sala de espera.

- Sr. e Sra. Romã? - os pais se levantaram aflitos - Sua filha teve uma parada cardíaca, a reanimamos, mas se isso voltar a acontecer a chance de sobrevivência dela é perto dos 40%

Senti meu coração gelar. Evie estava péssima e não havia o que fazer sobre. Era esperar e ver se ela sobreviveria.

- Podem entrar para vê-la, mas com o maior silêncio possível. -esperei os pais dela se afastarem para falar com o Dr.

- Eu assisto muitos relatos médicos. Só está nos deixando vê-la agora porquê não tem certeza que ela chega até amanhã né? Ela tá péssima, não é?

- Ela está numa melhora lenta, mas não diria que está frágil. Sua amiga é muito forte e é visível o quanto você gosta dela. Não se afaste, agora ela precisa de você mais que nunca.

Assenti e fiquei de fora da sala mesmo. Era um momento dos pais dela com ela. As palavras do médico ecoavam na minha cabeça.

Evie é muito forte, nunca vi ela abaixar a cabeça fácil e as vezes chegou até a se colocar em risco por isso. Não imaginava que ela poderia se sentir assim.

Por que ela não me procurou?

Por que ela não tentou conversar?

Por que ela não deu sinais?

Por que eu não percebi? Afinal sou sua melhor amiga. Será que eu falei muito de mim, olhei muito para meu próprio umbigo e não percebi o que ela passava. Automutilação e tentativa de suicídio... São coisas muito pesadas para eu não perceber.

Horas se passaram, os pais de Evie já haviam me deixado em casa e logo que cheguei, fui dormir.

A semana correu normal, Evie saiu do hospital, mas ainda estava sob observação de seus pais.

Com a notícia dela estar em casa, fiquei bem incomodada e sai correndo para o quarto da minha mãe conversar sobre...

- Mas por que ela nunca falou nada?

- Talvez ela não se sentia confortável. - respondeu enquanto encarava o celular.

- Mas a gente sempre se conta tudo!

- Meg, você sabe que não é assim que funciona. Ela cresceu num lar caótico desde sempre. A mãe dela super narcisista que trata a Evie super mal só por ser uma gravidez indesejada. - seus olhos ainda fixos no celular. Espiei e ela estava discutindo com meu padrasto por mensagem.

- Eu sei, mas em parte me sinto muito culpada por tudo. As vezes penso que se eu estivesse mais perto ou dando um jeito dela sair de lá, parece que ela estaria bem.

- Não fica se culpando por isso. - desprendeu-se do aparelho por alguns minutos - Pensa assim: Você é nova, e se fosse fazer algo sabe que aquela bruxa ia te expulsar na primeira oportunidade. Aí sim a Evie estaria ruim, porque nem você pra socorrer ela não ia ter.

Minha mãe tinha razão. Não podia simplesmente carregar a culpa de tudo isso como se eu fosse a causadora do problema.

A mãe de Evie era como a rainha de copas: era má e mandava "cortar a cabeça" de quem a desagradasse, havia um motivo para ela ser assim, mas ainda não era justificativa para nenhum comportamento dela com a garota.

Fui para o meu quarto e fiquei lá a desenhar. Duas linhas horizontais bem no meio da folha. Dentre elas, o rascunho de dois olhos com expressões fortes. Comecei a esfumar, apagar alguns detalhes, escurecer alguns cantos e no momento em que coloquei o brilho no olhar percebi: eram os olhos de Apolo.

Um conto de fadas, sem fadas.Onde histórias criam vida. Descubra agora