Seu nome era Sophia, nasceu numa cidade miserável do Nordeste, filha de uma mãe que ganhava a vida na prostituição e um pai que se matava no boteco da esquina, bebendo cachaça com uma turma de alcoólatras iguais a ele. Seus dois irmãos mais velhos não queriam nada na vida, apenas fumar maconha e fazer assaltos na vizinhança. Já tinham sido ameaçados de morte diversas vezes, porém nenhum dos que os ameaçaram foram machos o suficiente para executar o prometido.
Desde cedo aprendeu a não pensar no amor e na paixão, sua mãe dizia que isso era sentimento de gente fraca, quem se apaixonava só fazia tolices e servia de otário para os outros. Solta pelas ruas, fazia amizades com todo tipo de gente, mas sabia diferenciar os bons dos maus e dessa forma nunca deixou que o pior lhe acontecesse. Às vezes dormia no velho barraco feito de barro pisado com pedras, coberto com palhas de palmeiras. Em outras ocasiões pelas casas da vizinhança ou até mesmo pelos bancos das praças.
Chegou a dormir em cima das mesas de bilhar encontradas nas frentes dos bares fechados depois da meia noite e, em poucas ocasiões, se valeu de uma calçada para tirar um sono. Numa manhã escaldante de verão, apesar de naquela terra maldita nunca existir inverno, o cachaceiro de seu pai deu de cara com a morte e foi encontrado duro num beco qualquer. As pessoas lamentaram, alguém piedoso pagou o enterro para evitar que o defunto apodrecesse no meio da rua.
Muitos outros ébrios vieram ao funeral, passaram a noite tomando café e jogando dama, dominó ou baralho, talvez festejando a ida do colega para o inferno. Lugar para onde sem dúvida eles um dia também iriam. Bem, ele nunca foi mesmo assim tão necessário, não passava de um inútil que só lhe causava vergonha. Era o seu aniversário, olha só que belo presente ganhou. Agora, todo dia cinco de dezembro iria lembrar daquela tragédia. Tragédia? Não, nem tanto, lembraria apenas como o dia em que viu um homem matar a si mesmo aos poucos, através do álcool.
Porque foi covarde demais para admitir que fraquejou diante da vida e não foi forte o suficiente para vencer as dificuldades, perdeu a coragem de lutar e de tão frouxo escolheu deixar que o vício o matasse. Visto que sequer teve o mínimo de coragem para dar um único tiro de misericórdia na cabeça ou pendurar uma corda no pescoço, permitindo-se morrer com um pouco de dignidade.
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Sophia
RomanceSOPHIA é a história fictícia de uma mulher que desde a infância sofre por ter nascido numa família desajustada e miserável, porém, trazia no coração a esperança de poder um dia ser possível mudar a maldita sorte que o destino lhe reservou. Aos treze...