Voltou a viver em liberdade e teve o apoio necessário para conseguir de imediato um emprego num dos mais importantes restaurantes da cidade, onde passou a atuar como Chef de cozinha, conquistando rapidamente uma imensa clientela e a admiração de sua patroa, Sophia, com quem criou um forte vínculo, tornando-se uma grande confidente e amiga. Quando se conheceram, estavam tentando recomeçar suas vidas depois de fracassarem inúmeras vezes no amor, eram duas derrotadas no plano sentimental.
Tanto uma como a outra haviam tentado encontrar a felicidade até mesmo ao lado de pessoas do mesmo sexo, mas deu em nada. E após revelarem este segredo uma para a outra se identificaram como almas gêmeas. Sophia havia abandonado a homossexualidade e dedicou-se a religião.
Vera um dia viveu um relacionamento desse tipo, ao lado de outra mulher, mas abandonou ao casar-se com Luís Guilherme, no entanto tudo resultou em vergonha e humilhação. Parecia que restava apenas uma forte amizade para ser vivida pelas duas mulheres. E foi isso que, de início, aconteceu.
Sequer se passava pela cabeça delas a ideia de qualquer envolvimento desse tipo, afinal, as experiências do passado só lhes trouxeram decepção. A patroa convidou a empregada para visitar sua casa e, como se deram tão bem, a proposta para morarem juntas veio em pouco tempo.
As duas amigas eram como irmãs. Tinham os mesmos ideais e buscavam os mesmos sonhos, tudo ia muito bem.
Parecia que finalmente a felicidade sonhada havia sido encontrada. Diferente das demais ocasiões, entre elas não existia interesses como paixão e desejo. O de fato buscavam era apenas uma forte e sincera amizade. Uma parceria que trouxe progresso profissional e preencheu o vazio imenso que por muito tempo lhes consumia a alma, através da solidão. Eram duas mulheres vividas, passaram todo tipo de dificuldades.
Traziam os corações machucados, haviam perdido a esperança de um dia serem de fato felizes. Agora, mesmo que não fosse no amor, conquistaram a paz que aguardaram por tanto tempo. Com a chegada da nova amiga e contando com seu apoio, Sophia intensificou o projeto antigo de abrir mais filiais nas cidades vizinhas onde morava.
Outros restaurantes foram abertos e novos funcionários contratados. Vera Lúcia comandava o batalhão de cozinheiros e garçons espalhados por todo o empreendimento, era implacável ao exigir qualidade no serviço prestado aos clientes, enquanto Sophia cuidava da parte administrativa. Moravam juntas na mesma casa, frequentavam a mesma igreja, compartilhando a mesma fé. Elas não sentiam mais a necessidade de viver um novo relacionamento com o sexo oposto, a dor de perder o esposo e filha naquele acidente mataram na empresária a vontade de voltar a se entregar a uma nova paixão.
E as decepções sofridas por Vera esfriou seus sentimentos ao ponto de perder a certeza de que poderia encontrar a pessoa certa para amar. Passaram-se dias, semanas e meses, a união das duas mulheres se consolidou e foi ao lado uma da outra que alcançaram a tranquilidade que parecia impossível. Não viveram para sempre o grande amor que ansiosamente procuraram encontrar, mas como compensação por este infortúnio. O destino lhes uniu para que, como almas gêmeas, juntassem suas vidas numa amizade jamais vista. E, de mãos dadas seguiram até o fim, confiantes e certas de que nada e ninguém seria capaz separá-las.
Em alguns anos a rede de restaurantes SOPHIA & VERA tornou-se conhecida em todo o Estado e era visitado pela mais alta classe social. Luxo e riqueza cercavam as amigas que não mediam esforços para ajudar os mais necessitados.
Se tornaram bastante prestativas no apoio as instituições que atendiam crianças, idosos e aos pobres. As pessoas se beneficiavam com a riqueza que elas possuíam e por isso eram amadas por todos. Aos sessenta anos de idade, sentindo-se plenamente realizada.
Sophia sai e se posiciona na ampla varanda do primeiro andar de sua mansão construída numa área nobre da capital. E, admirando o nascer do sol volta no tempo, num breve pensamento, relembrando tudo que viveu, desde sua infância até ali. Sentia saudades do único homem por quem foi verdadeiramente amada e da pequena Juliana, a única filha, que perdeu naquele maldito acidente. Seu olhar se perdia no espaço vazio à sua frente, não via o sol que nascia nem as nuvens que o cercavam, seus olhos viam apenas as sombras de um passado amargo que não conseguia esquecer.
Apesar das últimas conquistas não lhe foi possível apagar as dolorosas lembranças. Elas ainda estavam ali, bem à sua frente, para lhe causar dor e tristeza. Devido à idade sua saúde estava debilitada, já a alguns dias ausentou-se de seus afazeres nos restaurantes e repousava em casa. Ainda com a visão presa em direção ao infinito sentiu uma forte dor no peito, o mundo a sua volta pareceu girar, seu coração acelera e ela cai desacordada sobre o piso frio no exato momento em que Vera Lúcia percebeu a ausência da amiga no quarto e lhe ampara.
Levada às pressas para um hospital e recebendo todos os cuidados médicos necessários, a situação parecia ter sido contornada. Entretanto, uma nova crise ocorreu e precisou de internamento urgente. A equipe médica preocupa-se com seu estado de saúde ao ponto de alertar Vera sobre o risco de um ataque cardíaco fulminante.
A angústia era visível na expressão de desespero de Vera, que não se sentia preparada para perder a amiga. Que amava como se fosse uma irmã de sangue, todos que a conheciam estavam apreensivos, os funcionários torciam por sua rápida recuperação, a igreja orava e intercediam por uma cura divina.
Mas parecia ser a hora da partida daquela mulher batalhadora, que inspirou muitas outras a lutar contra tudo em busca de seus ideais. Exatamente as quatro e trinta da madrugada de uma sexta-feira ela passa pela última crise, deu seu suspiro final e partiu rumo a uma nova vida, num novo mundo. Onde certamente encontraria sua família e outros ente queridos que a bastante tempo a esperavam.
Vera nunca saiu de seu lado, permaneceu com a amiga mesmo estando ela no CTI, fez questão de não estar ausente caso algo desse errado e ela tivesse mesmo que partir. As duas não mais se falaram desde do dia em que Sophia foi internada, pois permanecia inconsciente, apenas respirando através de aparelhos. Mas sabia que ela podia sentir sua presença naquele lugar. Havia uma ligação muito forte entre elas, uma telepatia inexplicável que lhes permitiam sentir o que a outra pensava. A equipe médica compareceu com urgência, tentaram reanima-la, mas foi em vão, Sophia partiu sem dar um carinhoso abraço na amiga.
Mas Vera a abraçou mesmo depois de morta e agradeceu por toda a ajuda com que agraciou sua vida. O velório foi na igreja onde elas se congregavam, o pastor se dirigiu aos presentes e fez um breve discurso. Falou sobre a importância de ter convivido ao lado da irmã na fé, relembrou a todos dos grandes feitos de caridade com que ela abençoou as famílias.
Mais carentes, e afirmou que com certeza ela agora descansava em paz no céu com Deus. Estaria para sempre ao lado do esposo e da filha de quem tanto sentia saudades. No final do dia foi sepultada no cemitério "Parque das Palmeiras" Cercada de muitos amigos e irmãos. Além de uma vegetação encantadora, altas arvores e palmeiras que transformavam o lugar num verdadeiro paraíso.
De volta a rotina do dia a dia, Vera Lúcia buscava forças para dar continuidade aos projetos da amiga, e o fez com êxito. No decorrer da jornada foi fiel aos princípios aprendidos com Sophia, como amar e respeitar seus semelhantes, independentemente de sua classe ou posição social. Deu sequência ao legado da irmã que Deus ou o destino o havia dado, fazendo bom uso de toda a riqueza herdada com sua morte, no único objetivo de honrar seu nome, para sempre.
Fim
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Sophia
RomanceSOPHIA é a história fictícia de uma mulher que desde a infância sofre por ter nascido numa família desajustada e miserável, porém, trazia no coração a esperança de poder um dia ser possível mudar a maldita sorte que o destino lhe reservou. Aos treze...