O vento soprava e o sol se despedia, com o horizonte laranja, mais uma noite se iniciava no porto de Caldas. E nesse crepúsculo um navio avançava em direção ao porto, um navio de linha,um navio de guerra,um navio viking.
De longe, um garoto acima de uma colina avistava o navio ancorar. Ele tinha velas negras e um símbolo nelas pintados de vermelho: três anéis entrelaçados
Quando vikings saem de suas terras, somente três coisas podem acontecer:
•Vikings são famosos por tomarem outras terras,e isso normalmente envolve muita violência, gritos e súplicas;
•Vikings também podem trazer notícias importantes para o mundo,sejam elas boas,sejam elas péssimas;
•Vikings adoram beber e festejar com qualquer um,mesmo que não seja outro viking.O navio ancorou no porto. Apenas o som do silêncio pairava no ar. Portos são sempre barulhentos até que o último vendedor feche sua loja e vá para sua casa. Mas nesse dia, mesmo com muitos ainda rodeando o porto,se calaram,pois na presença de vikings, nunca se sabe o que pode acontecer, eles podem ser a calmaria completa, ou o pior tipo de tempestade existente.
O garoto correu, correu e correu quão depressa podia colina abaixo,rumo ao centro comercial de Caldas. Estava apavorado. Estava ansioso. Estava prestes à conhecer seu destino.
* * *
-Pequena sardinha,já está na hora de acordar,vamos!- era a voz de Jhon acordando o garoto. Jhon era um velho senhor que há muito já fora um grande marinheiro que caçava tesouros com seus companheiros, e que hoje era apenas um velho sem uma perna que cuidava de um órfão.
-Espere um pouco, Jhon! Ontem foi um dia cansativo. - disse o garoto ainda sonolento,saindo da cama.-Eu percebi,você chegou aqui quando a noite estava num breu em que não se podia enxergar mais do que um palmo à frente do nariz. O quê andou aprontando? -e abriu as janelas para que o sol iluminasse seus rostos,mesmo Jhon estando com os seus óculos escuros, bandana roxa amarrada na cabeça e uma barba cheia e grisalha escondendo sua boca, ele ainda queria sentir o sol na parte nua do rosto.
-Eu estava apenas andando por aí, dando uma força pro senhor Maquiavel, sabe?
A casa onde moravam era um sobrado de madeira que já tinha partes bem apodrecidas. Não era lá uma beleza, mas era suficiente para os dois. Possuía dois quartos no segundo andar,uma pequena sala,uma cozinha que Jhon amava e uma pequena plantação nos fundos da casa.
Ao meio-dia o menino saiu de casa para iniciar sua rotina: ir na plantação colher algunas frutas para comer à noite com Jhon,depois ir para a taberna de Maquiavel ajuda-lo com as vendas. Trabalhava lá até tarde e depois voltava para casa para aproveitar a refeição que Jhon fazia diariamente com as frutas,era um bom cozinheiro e ainda possuía seus segredos.
Para alguns, sua rotina pode parecer entediante, mas para ele não, a graça em ajudar Maquiavel era poder escutar a conversa de navegantes que ancoravam no porto principal de Barra para venderem seus produtos. E então começavam à contar suas histórias para atrairem mais clientes e zarparem à noite e rumarem para outros portos até que a mercadoria acabasse.
Tinham histórias de todos os tipos,sendo elas verdadeiras ou não, agradavam à todos. Histórias sobre monstros marinhos que atacavam navios em alto mar, sobre fadas negras que concediam uma segunda vida aos mais temíveis homens que existem,e outras histórias que fariam você duvidar de seu cachorro, achando que ele entende tudo o que você diz e então à noite se comunica com feras das sombras enquanto você dorme.
Mas naquele dia,quando chegou à taberna,sentiu as coisas diferentes. Quanto mais se aproximava, mais um cheiro forte lhe penetrava as narinas. Viu uma multidão cercando algo um pouco à frente da loja, viu então Maquiavel acenando para ele do meio daquele círculo bagunçado em volta de alguma coisa. Ele foi se aproximando, e o cheiro aumentava,era um cheiro de peixe,misturado com cerveja e cheiro de mar.
Conseguiu se aproximar mais,e então viu. Não era uma coisa,mas alguém.
-Ora,mas vejam só! -ele havia visto o garoto se aproximando- Você demorou muito, fedelho! -então soltou uma gargalhada que fez aquele cheiro de peixe se espalhar novamente,e então pegou sua caneca com cerveja e a bebeu em um só gole. Seus cabelo ruivo caiam sobre os ombros.Era um viking. Ele era definitivamente um viking!