Capítulo 5

24 2 1
                                    

Sentado na cadeira de sua cabine, ele olhava para uma pilha de livros sob sua mesa. Vez ou outra ele pegava um e se curvava sobre ele para estudá-lo, e depois de um tempo o colocava no topo da pilha e voltava a ponderar sobre algo.
Já começava a escurecer quando ele decidira sair de sua cômoda cadeira e ir para o convés, sentir a brisa que vinha de outros mares. Enquanto caminhava até a popa, podia ouvir os rangidos das tábuas quando pisava nelas. Tenho que pedir para que o mestre de Bóreos dê uma olhada nesse navio quando ancorarmos em casa novamente, pensou ele.
Assim que havia se recostado na popa, pôde escutar um tripulante faxineiro qualquer, gritando seu nome.

-Senhor! O senhor Billy me mandou para avisa-lo de que o banquete será na culminação da lua.

O capitão assentiu com a cabeça e dispensou-o.
Mais tarde uma ave viera visitá-lo, tinha as penas brancas e um rabo comprido. Não parecia gostar muito de cantar, mas quando a noite caiu sobre o porto, a ave cantou por alguns momentos uma melodia triste, e que ao mesmo tempo era muito bela. Aquilo havia acalmado um pouco o coração do velho capitão. Porém, quando fora afagar-lhe a cabeça, a ave pôs-se em vôo, deixando-o novamente sozinho em seu mar de pensamentos.
O ápice da lua ia se aproximando, e os tripulantes começavam a se agitar. Sempre tinha um que passava por perto e não deixava de cumprimenta-lo, o primeiro fora Billy, o festeiro.

-Muito boa noite, capitão. Estou indo buscar as carnes assadas para mais tarde. - Billy era um negro careca que crescia bastante pelos lados. Sempre tinha as mãos ocupadas, seja comendo ou matando. Às vezes era possível vê-lo fazendo ambos.

O que viera em seguida fora Tom, que dentre os vikings, era p mais novo. Era tímido, apenas passara pelo capitão com um aceno quase imperceptível por causa da escuridão que a noite trazia. Tom era da terra dos anões, Austral, mas quando ainda tinha um ano, fora levado para Bóreos com os pais. Por ser um "sulista", não tinha habilidade com armas, mas era ele quem cuidava da revisão do navio, e sempre carregava consigo uma adaga.
Quando todos começavam a ir para o convés inferior, outros dois apareceram, Peter e Hígor. O primeiro era um homem ruivo e muito branco, não sabia lutar, mas era ele quem fazia a embarcação se mover. E pelas histórias que já havia contado, possuía quatro filhos, um em cada canto do mundo.
Hígor era enorme, muitas vezes tinha de se abaixar para entrar nos lugares. Era raro vê-lo sem sua armadura de ferro, ostentando o símbolo de um urso no peito e nas ombreiras. Sabia lutar muito bem, mas no tempo livre e amarrava seu cabelo liso e negro, retirava a armadura e oa ajudar os faxineiros com a limpeza do navio. Mas como era um homem muito ocupado, isso raramente acontecia.
Klaus não se encontrava no navio, e Donnie não havia dado as caras ainda.
A culminação se aproximava cada vez mais, e eles tinham qje festejar, pois quando a lua estivesse em seu ápice, eles deveriam estar prontos para zarparem. E foi enquanto pensava nisso que oiviu a voz.

-Logan Drausus Ruivo, por que está tão solitário aqui nos fundos? - era a voz de Donnie.
-Ora, e veja só quem fala! O Lobo Solitário que anda em grupo! Bem, estou apenas imaginando como iremos relatar sobre tudo isso ao chefe.
-Eu ainda não posso acreditar que os outros estejam rindo e festejando depois de verem o que vimos naquele maldito lugar.
-São jovens, e tem pouca experiência. Eles pensam que aquilo permanecerá adormecido, e que nunca lhes trará problemas futuros - seu tom era sério.
-Sim...diga que não encontramos nada, assim não teremos falatórios e mais problemas para resolver.
-Você sabe que não podemos controlar isso.
-A mentira? - Donnie abriu um sorriso de como se já estivesse acostumado.
-O garoto. - respondeu friamente, fazendo com que Donnie percebesse a seriedade do assunto.
-...você pensa mesmo que é ele?
-Penso em muitas coisas, mas provar que o que penso está certo não é tão fácil. Ainda nem sabemos mesmo se ele irá vir. Tudo depende do destino, e se cada um seguirá o seu.
-Por que acredita em destino?
-Porque se ele não existisse eu não estaria aqui ainda. E uma vez os deuses me fizeram passar por coisas que mudaram o meu modo de ver e pensar sobre tudo.
-Certo...que fique com seus dogmas sinistros. Já cansei de ter que lembrar disso. Caso precise de mim estarei no meu quarto. - Ruivo apenas assentiu, deixando o companheiro ir.

Pouco depois, decidiu descer parar beber um pouco e se distrair com os outros. Os vikings eram pura risada, dançavam e cantavam. Quando ele chegou ao convés inferior, pôde escutar uma parte de uma das músicas:

Ei! Ei! Sem grasnar,
Pelo mar vamos navegar.
Carne assada, sem faltar,
Içe a vela, no alto já !

Companheiros, amigos,
É só diversão
Tesouros perdidos,
Tenho-os na mão!

E com canções como essa, eles continuavam a cantar. Até que um deles cortou as canções para dizer algo.

-Alto lá! - era Billy quem falava - Escutaram esse grito? Parece vir do cais. - alguns assentiram com a cabeça, mas nenhuma atitude - E então? Alguém vai ir lá dar uma olhada?

Ruivo estava ao lado de Hígor. Dera-lhe um pequeno empurrão com o braço, chamando-o para ir verificar o barulho. E então eles foram.
Subindo as escadas e indo à proa, eles se curvaram sob a cabeça do dragão vermelho de madeira e puderam ver três figuras cobertas pela escuridão no cais, uma estava no leio, sendo erguida pelos braços peloa outros dois.

-Quem vem lá?! - gritou Hígor.
-Somos nós, senhores! E trouxemos um dos seus! - Ruivo reconheceu a voz. Era Maquiavel, segurando o corpo desmaiado por um dos braços. E o que segurava o outro braço só podia ser Aaron e sua mochila.
-Ora, vejam só! E não é que você veio mesmo, Fedelho?! E ainda trouxeram o nosso velho bêbado, Klaus! Já estávamos ficando preocupados com ele. - esperou um pouco e continuou, com a voz menos agitada - E então... acha que pode enfrentar o deus do mar? - e conseguiu escutar a resposta alegre do garoto.
-Acho que agora já não tenho mais escolha, não é? - e riu.

E então os vikings ajudaram eles com o corpo adormecido de Klaus, e colocaram-no numa cama. Logo se despediram de Maquiavel, e Aaron deu-lhe im longo e apertado Abraço de despedida.

-Espero que consiga alguém melhor do que eu - susurrou em seu ouvido.
-Nunca existirá alguém melhor do que você em derrubar a bebida nos clientes, Aaron. - respondeu-lhe, e partiu.

Festejaram mais e mais a chegada do novo tripulante. Então, quanso decidiram que aquele era o momento perfeito para zarparem, chamaram Peter para fazer os preparativos.

-Garoto, venha aqui! - Ruivo acenou para que o garoto se aproximasse.
-Sim,senhor?
-Tenho que lhe contar uma história muito importante, rapaz.
-Sim! Eu adoraria escutá-la, Ruivo!
-Haha! Mas antes tenho que fazer uma coisa que adoro! - então ele ficou numa postura ereta e gritou o mais forte que podia- IÇAR VELAS!!! LEVANTAR ÂNCORA!!! E VAMOS ZARPAR!!! ADEUS, PORTO DE CALDAS!

E foi assim que Aaron, Ruivo e sua tripulação viking, iniciaram uma incrível jornada.

Os Nove Filhos de GunnarOnde histórias criam vida. Descubra agora